Daniel Campos

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Encontrados 91 textos. Exibindo página 9 de 10.

05/05/2008 - Béééééééé!

A nossa política financeira anda em ritmo de tartaruga, cochila feito urso em período de hibernação e tem o ânimo de uma preguiça. A nossa política monetária, com os maiores juros de todo o mundo, é puramente recessiva e vive para restringir investimentos e o consumo baseado em crediário. A nossa política fiscal é absurda a ponto de não permitir expansões como em países civilizados. A política cambial é uma ilusão, posto que tenta, a uma preço alto, manter o câmbio valorizado, prejudicando, sobretudo, a indústria e a agricultura....
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17/04/2008 - Boi da cara preta

Boi boi boi, boi da cara preta pega essa criança que tem medo de careta.

Boi boi boi, boi da cara preta pega essa criança que tem medo de careta.

Boi boi boi, boi da cara preta pega essa criança que tem medo de careta.

Pode parar de cantar. Eu não vou dormir. Estou assustado com as caretas dessa gente ai. Não vou fechar os olhos com tantos piratas, falsários e donos da corrupção aprontando por aqui e por ali. Cuidado! Tem que abrir o olho e gritar pega ladrão. Estão roubando minha carteira, minha feira, minha beira de chão. Tão metendo a mão, de cara limpa, no futuro da civilização. Tão levando nosso ar, nossa água, nosso mato, nossa chuva, nosso sapato, nosso pulmão. É muita raposa para pouca uva. Tão nos tirando o futuro, tão levando nosso mundo seguro e nos cercando com um muro de sofreguidão. ...
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02/03/2008 - Beba Vinícius de Moraes

A lua me devora no céu. Tropeço em páginas escritas, mal-escritas e em branco. Corro para a sala. Caio entre versos de amor e de amor demais. Abro a porta da estante. Garrafas e mais garrafas. Preciso encontrá-la. Vinhos, conhaques, espumantes, vodkas... Ela tem de estar aqui... Eu tenho certeza de que ela... Ninguém mexeu aqui... Preciso ser rápido... Ah! Lá está ela... Uma garrafa de uísque quinze anos. Não há tempo para pensar. Tiro o lacre e despejo aquele líquido quente e encorpado em um copo largo. O vidro espesso e octogonal vai perdendo toda a transparência. Aquele álcool escocês escorre pelas bordas. Por maior o desejo, não o bebo. Eu não poderia... Não aquele uísque. Ofereço aquele líquido a um altar improvisado. Ao contrário de imagens, um livro de poemas. Seja como for, ofereço aquele uísque aquela espécie de orixá. ...
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12/02/2008 - Balde de água fria

Há sempre um balde de água fria para uma empolgação acalorada. Essa frase ainda não entrou para a galeria de ditados populares, mas é forte candidata. Uma das mais recentes vítimas desta máxima foi o estardalhaço em torno do biocombustível. O próprio Lula abraçou essa fonte de energia como um trampolim para o Nobel da Paz, assim como Clinton.

Diante de discursos inflamáveis, o biodiesel virou mania nacional a ponto de o desmatamento amazônico ser "justificável". Depois de três anos de redução, a taxa de derrubadas disparou em 2007. A verdade é que os oportunistas estão usando o discurso de planeta saudável para encher a Amazônia de soja (usada para produzir o eco-combustível). ...
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Beijo de aspartame

Pernas longas deixam quase vazias as pernas do jeans azul. O par solitário de uma sandália salto agulha dá mais magreza ao seu corpo. A blusa preta redimensiona seu colo, suas costas, seu útero,..., para uma resolução ainda menor. O cabelo escorre longo e indígena. Aquela mulher que se escora em sua própria longitude é de uma verticalidade fora do comum.

Se de perfil ou de frente ou de costas, não importa, tem a mesma sombra. Quase não tem carne. E seus ossos parecem ocos, dando-lhe a sensação de vôo em seu andar. Não tem o andar pesado das modelos de passarela, mas um andar gravitacional. Quase gaivota. Quase astronauta. Quase folha ao vento. E como que uma doença seus olhos são magros. Seu sorriso é magro. Até a bolsa é pequena demais para suas alças. Não deve usar biquíni. Deve ter vergonha. E pela sua pouca conversa tem pensamentos magros. ...
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Bem-vindo ao caos

Na mitologia grega, antes da criação do mundo, existia o caos. Milênios depois, eu acredito que voltamos ao caos. E nem vou falar do mundo em geral, onde mulheres e homens-bombas explodem o que restou de suas vidas. Vou falar do nosso país, onde o presidente se enche de discursos franceses, enquanto mulheres desse mesmo país, numa pobreza tamanha, trocam o absorvente pelo sabugo de milho. Caos, triste realidade.

O caos, ou seja, a bagunça, a confusão, a desordem é o resultado de uma falta de política. A nossa política sempre privilegiou uma parte minúscula da população. Uma política que visa o dinheiro. Pergunto: como sobrevivem os não ricos? Sobrevivem no caos. ...
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Boca chabernet

Onze horas da manhã. O cabelo molhado, emaranhado e colado ao início das costas. O olhar varre o guarda-roupa. Depois de tanta procura, descalça e de hobby, vai para a sacada. Seu olhar ganha a linha paralela do horizonte. Paralela? Paralela com tantas coisas. Lembranças brincam de correr por aquela linha, brincam de escorrega, brincam de gangorra, brincam de pique - esconde. Lembranças.

Por debaixo daquela linha, paralela a um mundo distante, os olhos quase se afogam em um lago. É preciso ter cuidado e equilibrar o olhar naquela linha. Embora de águas calmas, ninguém sabe os perigos que habitam aquelas águas azuladas. Seres fantásticos podem existir ali. E talvez seja em busca desses seres que aquela mulher entrega olhares à varanda. Quase 12h e as piscinas do hotel, que se acabam antes do lago, continuam vazias. Nenhuma criança, nenhuma cena de beijo, nenhum copo carente de sol. Ninguém. ...
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Bodas de vida

Cinqüenta. 50 tardes. 50 músicas. 50 encontros. 50 olhares. 50 anos de amor, amizade,..., devoção. 50 anos em que a vida já se faz infinita por si só. Quantas rosas floresceram ao longo dessa caminhada? Quantas as pétalas? Quantos os espinhos? Uma rosa que no início se equilibrava em uma rama tão frágil. Mas a beleza sempre triunfa e a rosa que se vê murcha, já doa sua vida a outro botão.

Cinqüenta anos em que uma roseira floresce seus botões com uma beleza diferente a cada dia. Floresce com novas esperanças e promessas. 50 anos onde uma vida se entrega a outra em plena devoção. Quantas mãos sonharam chegar juntas aos cinqüenta anos? Amores que nascem em frações de segundo e que perduram pela vida toda como se fossem algo mágico. Uma magia que permite, a cada dia, que os olhos se cruzem e tenham a certeza de que tudo valeu a pena. ...
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Bonecas

Ela, do alto de sua meninice, estatela os olhos diante das vitrines de uma loja de brinquedos. Entorta o pescoço pra lá, a cintura pra acolá e fica na ponta dos pés só para conseguir enxergar melhor a vida por detrás daquele vidro. Chega a ficar com os olhos parados e esquecer de todas as preocupações mundanas. Mas qual era o mundo daquela menina de seis anos senão os brinquedos? Mas sua mãe parecia não entender. A mãe tinha uma reunião com a diretoria da empresa, um telefonema para o exterior, uma aula de primeiro socorros para a renovação de sua carteira de motorista, uma massagem, um almoço com o pessoal da turma de espanhol e... ...
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Brasil sem rosto

"Eu vi o menino correndo, eu vi o tempo brincando ao redor daquele menino". Menino que nasceu no finalzinho do século passado e ainda não encontrou o seu rosto. Menino que se vê frente a frente com uma tecnologia avançada, cada vez mais longe do humano. Menino, analfabeto de informática. Menino que fala "I love you" e não sabe o que é amar.

Menino da liberdade de pensamento, de expressão, de comunicação. Menino que não sabe a ditadura. Militares, exílios, lutas, ideais,..., ficaram presos nas histórias que não contam mais. Menino que se acha envolto de paz. Menino que nunca cantou pela liberdade com Geraldo Vandré. Menino que sempre esteve livre. Os pássaros são livres até que se debatam contra os arames da gaiola. Menino, prisioneiro de um mundo de mentiras....
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