Daniel Campos

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Encontrados 91 textos. Exibindo página 6 de 10.

09/06/2011 - Boca florida

Quando eu toco em sua boca sinto camadas e camadas de flores compondo seus lábios. Sinto, entre um beijo e outro, as pétalas, as folhas, o pólen, as abelhas, os espinhos, as cores, o sereno, a renda. Sinto margaridas bem pequenas, alfazemas cheirosas, azaléias ensolaradas e damas da noite mescladas de lilás. Sinto flores feitas à mão por um anjo artesão. Algumas espécies se alastram por seu sorriso, outras se encolhem num canto da boca. Flores que murcham ao serem atingidas pelos cristais de sal das lagrimas que, vez ou outra, derrama mesmo sem querer. ...
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06/06/2011 - Bendídia

Ah! Que Bendis, a deusa lunar da Trácia, me leve para seus quartos crescentes e minguantes. Que eu possa me agarrar a sua face brilhante e me esconder em sua metade fosca. Que ela mexa com minhas marés e com minhas plantações. Que ela provoque o meu parto.

Que ela semeie em mim suas sementes de encantamento, de adoração e de magia oculta. Que ela influencie meus cabelos, meu apetite, meu romance. Que ela dance comigo pelas constelações perdidas. Que ela, durante a Bendidia, renove minha alma e encha meu corpo. ...
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28/04/2011 - Brilhar, brilhar, brilhar

Mande notícias, mande postais, mande sinais... Quero notícias do brilho dos seus olhos que não brilham mais. Será que suas estrelas caíram ou submergiram na névoa espessa que cobre seus olhares. Quero informações do ocorrido, todos os detalhes do que tem vivido e sofrido. Mande notícias de dentro de você, das mais banais às mais complexas. Fale dos caminhos que tem percorrido, dos vinhos que tem bebido, dos carinhos que não tem recebido. Fale das suas frustrações de mocinha, dos seus sonhos de vilã. ...
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26/03/2011 - Bodas de Madeira

Cinco anos dividindo as mesmas bocas, achando os conceitos de infinito e eternidade coisas tão poucas diante do tempo que queremos para nós. Cinco anos dividindo os mesmos lençóis, os mesmos pratos, os mesmos sóis, os mesmos fatos. Cinco anos dividindo o mesmo espaço, procurando e se encontrando num passo sem freio, se perdendo e se achando no traço alheio. Cinco anos se misturando, se multiplicando, se revirando, se descobrindo e se amando mais e mais. Cinco anos de fartura e de loucura sentimental. Cinco anos emergindo e submergindo em amor e em amores carnais, espirituais, viscerais, transcendentais, zodiacais. Cinco anos unindo suspiros e ais. Cinco anos casais imersos no primeiro gosto do amor. ...
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12/03/2011 - Bocejos lunares

Boceja a lua recostada no pé direito de uma casa de esquina. Tem desejos de mulher e olhar de menina aquela criatura curvilínea, redondamente atraente. Não tem medo de descer do céu para amar no meio da rua, feito o casal de namorados que beija com sabor de pipoca. Tomou coragem e tatuou um livro inteiro de Garcia Marques em uma de suas crateras e se pôs a espera de alguém que pedisse sua mão (e um pouco mais) para São Jorge.

Como queria deitar numa cama e ser acordada só na noite seguinte não importando se estrelas ou cometas questionassem sua ausência longa e súbita. Fria como a brisa que caminha pela madrugada queria se embrulhar em lençóis, beber uma bebida quente e dormir de conchinha. Queria ser chamada de “minha” no meio de um eclipse. Queria dançar com meteoritos de carne em passos de elipse. ...
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29/01/2011 - Brevidade, o pássaro que não nasceu

De repente, terra e céu se encontram numa queda. À margem da estradinha, entre o lago horizonte e sobrados de concreto, um pássaro. Uma ave pequenina, recém-caída do ninho, sob um sol de suores e tonturas. Solitária, abandonada, perdida. Nenhum sinal da mãe, do pai ou do restante da ninhada. Ali, só havia aquele bocadinho de vida pulsando cinza se equilibrando em uma galha rasteira, com o bico aberto de fome, ou de calor ou de pranto.

Antes da chegada de gatos, crianças e carros distraídos, era preciso resgatá-la. Um drible pra lá, uma corrida pra cá, um mergulho acolá. Pronto. Em pouco tempo a ave já está dentro do carro tomando água mineral. Ao chegar a sua nova casa, ao menos na qual passaria os seus primeiros dias, fica instalada provisoriamente em um ninho de periquito. A comida também é improvisada: alpiste, painço, quirela, angu de fubá, minhoca. Tudo dado diretamente em sua garganta, com muita calma e delicadeza. ...
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08/01/2011 - Belmont

Lembro das vezes que na calada da noite eu descia, vigiado pelos olhos de meu avô, a Rua São Miguel. Ia me espreitando pelas calçadas de pedras portuguesas e atravessava a esquina que dava acesso à Rua Santos Dumont guiando-me pelo som das tacadas das mesas de sinuca do bar do Furigo. Um bar feio, freqüentado por uma gente feia e por uma feiúra de espírito. As luzes amareladas iluminavam as garrafas velhas que ficavam empoleiradas sobre o balcão. Era naquele ambiente que buscava espaço entre um bêbado e outro me equilibrando na ponta dos pés para pedir uma carteira de cigarros. ...
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29/12/2010 - Benfeitorias

Eles querem me fazer calar, me fazer dormir, me fazer corar, me fazer fugir, me fazer falar, me fazer sumir, me fazer acreditar, me fazer cair, me fazer chorar, me fazer despir, me fazer acabar, me fazer cuspir, me fazer tomar, me fazer engolir, me fazer esperar, me fazer fingir, me fazer pecar, me fazer grunhir, me fazer soluçar, me fazer rir, me fazer contar, me fazer ir, me fazer voltar, me fazer ferir, me fazer matar, me fazer trair, me fazer suar...

Eles querem me fazer sofrer, me fazer impor, me fazer perder, me fazer dor, me fazer esquecer, me fazer amor, me fazer valer, me fazer admirador, me fazer torcer, me fazer agitador, me fazer reler, me fazer calor, me fazer saber, me fazer dissabor, me fazer amanhecer, me fazer torpor, me fazer fenecer, me fazer andor, me fazer entontecer, me fazer anterior, me fazer render, me fazer apoiador, me fazer engrandecer, me fazer tambor, me fazer querer......
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18/12/2010 - Bateau Mouche

Minha vida afunda nos seus olhos fundos da dor que lhe inunda. Meus passos naufragam em seus braços seguindo o compasso das ondas. Ronda você os meus dias como maresias de um mar que me quer a pique. Replique as minhas vontades que já vão dentro de garrafas, litros de saudade e solidão, à procura de olhares, cidades e salvação. Seu vento a revés rasga meu convés. Entre um país basco e um adeus monegasco aperta-me rompendo o meu casco. Com seu jeito de menina você me leva a mil léguas submarinas. A tragédia anunciada e as bailarinas d’água. ...
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17/11/2010 - Boca adormecida

Quantos hologramas se escondem nos lábios da mulher que dorme ao lado. Ao lado do homem, do mundo, do tempo que passa. A cor dos lábios ganha uma textura orvalhada, como se dormisse ao sereno. A temperatura dos lábios é desconhecida, afinal, tocá-los é um risco, uma vez que o sono é tão delicado quão a mulher. E eis a tentação, a prova de um amor que superara o físico, velar o sono dos lábios da mulher amada sem despertá-la num beijo. Que os beijos sejam lançados à distância, no auge da contemplação. ...
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