Daniel Campos

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Encontrados 91 textos. Exibindo página 1 de 10.

12/06/2012 - Baden Powell

O nome Baden Powell é tão sonoro e complexo quão seu violão. O erudito e o popular se casam, de corpo e partitura, na mesma batida, sob sua regência. Uma batida forte, intensa, vibrante e, até mesmo, alucinante. Uma melodia cheia, de vanguarda e repleta de ancestralidade, perspectiva e saudade.

Baden é o próprio violão. Neste caso, homem e instrumento são inseparáveis. Almas gêmeas. Baden é metade violão e o violão é metade Baden. Não se sabe dizer onde começa um e termina o outro e quem nasceu de quem. ...
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21/07/2010 - Bafafá

Podem criticar, falar mal e até maldizer meus escritos. Podem repudiar, ignorar e até desfazer das minhas linhas. Podem fazer cara feia, sapatear e até vomitar diante dos meus versos. Faço questão de informar aos descontentes com a minha poética que nada disso vai me impedir de continuar. Continuar a escrever independentemente se vão ou não gostar da minha prosa. Tenho em mim a certeza de que é muito melhor ser lido pelos olhos fundos das gavetas do que pela ignorância que reina por aí.
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23/06/2011 - Bahia, que bom...

Que bom é se perder nos acarajés de Amaralina, ser guiado pelo farol de itapuã e experimentar de todos os santos e pecados de São Salvador. Que bom é enfeitiçar e ser enfeitiçado num terreiro de candomblé. Que bom é cair nas graças de uma cocada-puxa, comer doce de jenipapo e abusar do dendê. Que bom é passar pelo rio vermelho de Jorge Amado e beber daquela boemia. Que bom é dormir ao som das canções de ninar de um mar que canta como Caymmi, Bethânia, Caetano, João Gilberto...

Que bom é rezar na igreja das escadarias e fitinhas de Nosso Senhor do Bonfim e depois pedir a benção a uma das mães-de-santo mais afamadas da Bahia. Que bom é escutar Gilberto Gil no pelourinho e descer a baixa do sapateiro ao som de sanfoneiros. Que bom é encher os olhos de suas dunas brancas e a boca dos pescados da ilha de Itaparica. Que bom é ter uma plantação de coco no seu quintal. Que bom é experimentar os sabores da Feira de São Joaquim, almoçar a beira-mar e depois se entregar aos corais. ...
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27/02/2015 - Baianidade

Não sei o que acontece, mas tudo canta em mim quando coloco meus pés na Bahia. Uma sensação de volta para casa tão profunda que pareço estar no útero de minha mãe. As águas quentes, o colorido que combina, o mar profundo, o sotaque, os coqueirais num verde sem igual, a musicalidade, os temperos, os orixás, os ventos, os perfumes, que chego de saudade a passar mal. Sou da Bahia singela, à capela, secreta e repleta de misticismo, enfim, da Bahia dos cartões postal e visceral.
Tão logo a baianidade me invade chego me esqueço das dores, do tempo, dos dilemas... Sinto-me parte de toda arte como que pisando ou respirando ou me deitando num poema. Sou Caymmi. Sou Bethânia. Sou Irmã Dulce. Sou Mãe Stella de Oxóssi. Sou Mãe Menininha de Gantois. Sou Tupinambá. Sou Mariene. Sou João Gilberto. Sou dona Canô. Sou Jorge Amado. Sou Castro Alves. Sou Caetano. Sou baiano. ...
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16/03/2016 - Bailarina de olhar anil

A bailarina saiu da ponta, arrancou as sapatilhas e correu pela rua encharcada da chuva das seis. Não se ateve aos sinais, às faixas, às regras e nem aos casais namorando ignorando o tráfego. Dessa vez ela nem tirou a maquiagem do ensaio, colocou suas personagens num mesmo balaio, e correu hospicianamente pelo asfalto que sangrou seus pés tão finos como hinos nas bocas de fiéis. E na correria do fim do expediente o mundo não se tornou ciente do desespero da bailarina que cruzou a esquina como se descobrisse de um só impacto que deixou de ser menina para ser mulher nos braços de um qualquer. Ao contrário de rosas e tangerina, deixava pelo ar um cheiro de cangibrina e seus passos embriagados iam dois pro futuro, dois pro passado. E aquele restolho de chuva caiu tudo de uma vez de seu olho esquerdo num temporal que finda a chuva trazendo a aragem, a estiagem, a viúva que só tira o preto para levar o desejo a eito. A bailarina como colombina recém-acordada na quarta-feira de cinzas avançou doida pela cidade em busca de uma saudade, de um salvamento, de um tempo que já não havia. E ela nada dizia, só chorava e resmungava do coração uma velha e rasgada homilia. Coitada da bailarina que no seu íntimo atravessou o ritmo e desafinou passos, desfigurou traços, desatou laços sem se importar se perderia ou não o compasso. Foi deixando meias-calças, meias verdades, meios amores para se entregar plena ao espetáculo dos tentáculos da noite que engoliu seu par de olhos anil.


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15/02/2016 - Bailarina do cotidiano

Ela bem chegou e tirou para o seu bem o seu sapato vermelho. Ela tão logo deitou ficou de joelhos na frente do espelho para agradecer a si mesma pelo que sonhou e alcançou os braços do seu amor. Ela chorou de alegria e se extasiou como há muito não fazia. Ela se lambuzou de satisfação e como quem marca um gol não coube em si de comemoração. E tirou a camisa e jogou à torcida que aplaudiu de pé o show daquela mulher. Ela engasgou com o coração na boca, mas desentalou de toda ilusão que já há deixava rouca. E então, antes do fim, ela se deitou como se fosse jardim de primavera florindo e se abrindo a uma nova era. E ela floriu como nunca se viu. E ela se abriu como rio que desagua nas águas do mar de abril. E ela queimou, suou e se iluminou como pavio de vela perfumada de donzela enluarada. E ela chorou quente e alucinadamente feito parafina e mais uma vez se fez menina, bailarina do cotidiano, entre acertos e enganos, entre apertos e fulanos que a apertam de um jeito que a fazem gostar e achar que o mundo é perfeito.


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10/08/2013 - Bailarinas não morrem, não é?

Como se fosse bailarina de caixinha de música, ela rodou, rodou, rodou até cair. Só que bailarinas, não são como gatas, que caem em pé. E então, sem gritos ou nada que desabonasse o espetáculo, ela caiu nos braços do asfalto abrasivo. As sapatilhas foram aos céus e voltaram ao chão, ficando sem reação. A bailarina desmaiou, gritavam alguns, enquanto outros riam debochados e sem o mínimo de misericórdia. Por sorte, não passava carro por ali, só uma moto e dois ciclistas, que embora esticassem olhares como se fosse língua de sogra, não pararam para acudir aquela menina, moça, mulher que parou de dançar como se, de repente, tivesse acabado sua corda....
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02/08/2008 - Baile de debutante canino

Por mais absurdo que pareça, eis que está na moda fazer festa de aniversário para cachorro. E não falo de qualquer festinha. É festa de arromba mesmo. Com direito a comes e bebes, decoração requintada, lembrancinhas caninas, música ao vivo e notas em colunas sociais. As emergentes da alta sociedade - as socialites - querem que suas "filhinhas" tenham tudo do bom e do melhor. As amigas vão e levam os cãovidados. É pedigree para cá, é amestrador para lá. É um luxo só.

Ao contrário de jogar a comida no chão e deixar a cachorrada presa no quintal, os cães são tratados como estrelas. Para se ter idéia, as festas são temáticas. De preferência, os aniversariantes escolhem os 101 Dálmatas. Tem bolo de ração, brigadeiro de ração, aperitivo de ração. Para beber, tem caldo de carne. Cães de todas as raças se dividem entre o jardim, a piscina e o interior da casa. E os cachorros vão todos produzidos. Tomam banho, cortam o cabelo e fazem as unhas. Além do salão de beleza, ganham uma massagem relaxante e um laço para realçar o pêlo. ...
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19/02/2012 - Balanças da alma

Já assuntou que no carnaval os pássaros não cantam, silenciam. Nas árvores ou nas gaiolas, entre asas pra lá e pra cá ou em poleiro s estáticos, eles se calam. É como se antecipassem o silêncio da quaresma. Nem estalos alegres nem repicados de tristeza, som algum deixa seus bicos retos ou curvos. Uma espécie de protesto, de luto, de voto de silêncio, de maldição ou de uma simples indisposição com o excesso de algazarra que ecoa por todos os lados nestes dias.

Os pássaros, orquestrais por natureza, parecem sentir ciúmes de surdos, cuícas e pandeiros fechando o bico propositalmente. E tem mais: além do canto, os bailarinos dos céus abdicam-se de passos de frevo, de samba, de axé como se renegassem todo movimento e qualquer movimentação. Nesta época, não desfilam, não andam em bloco, não seguem o trio elétrico. ...
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30/05/2014 - Balanço

Quero metros de barbante e um pneu para fazer um balanço sustentado pela lua minguante. Eu, o capitão sem mar. Eu, o astronauta sem ar. Eu, o pirata sem prancha. Eu, o caçador sem caça. Eu, o pai sem filha. Eu, o lobo sem família. Eu, o violeiro sem corda. Eu, o artista sem palco. Eu, o apaixonado sem cura. Eu, o cavalheiro sem modos. Eu, o pescador sem isca. Eu, o guerreiro sem paz. Eu, o trapezista em rede. Eu, o primeiro dos últimos. Eu, o poeta sem lua. Quero metros de barbante e um pneu para fazer um balanço sustentado pela mulher minguante.


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