Daniel Campos

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Encontrados 261 textos. Exibindo página 1 de 27.

Sábado

Quantos os que tentam compreender a tristeza existente num Sábado. Acordar quase na hora do almoço, ficar o resto do dia na frente da televisão ou sair em busca de diversão, em suma, quebrando as regras da rotina. O que leva alguém a preferir o cotidiano, que em si é tão comum, tão cheio de gestos repetidos. O sono, o café, os afazeres, o almoço, a responsabilidade, o estresse, o jantar, o cansaço. Só os loucos trocam o sábado, da calma, da tranqüilidade, do improviso pela fatídica rotina. Somente os loucos e os apaixonados. Segunda, terça, quarta, enfim, todas as feiras vendo o desespero da sexta, a agonia de não vê-la amanhã e depois de amanhã, só depois. A sexta e a vontade da segunda, que insensatez....
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22/04/2012 - Sabor perdido

Com a partida de meu avô, vários gostos e sabores também partiram de mim e da minha vida. Alguns, por tempo indeterminado. Outros, para sempre. Quando me tiraram seu Líbio, tiraram-me arrobas e alqueires de sabor. Tiraram-me também o leite ordenhado direto dos ubres das vacas para os meus copos. Tiraram-me também o estalar dos torresmos. Tiraram-me também o sabor inconfundível de um causo. Tiraram-me o paladar da inspiração às voltas com a comida. Tiraram-me a doce negritude de uma jabuticabeira. Tiraram-me também um punhado de ingredientes da receita do destino. Tiraram-me o gosto inconfundível da terra vermelha e orvalhada. Tiraram-me também o melaço da felicidade....
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22/09/2013 - Sabores de domingo

O domingo amanhece com molhos de tomate borbulhando no fogo baixo. Molhos que mais tarde darão vida às famosas macarronadas. Os frangos giram 360° nas máquinas em frente a padarias, açougues, quitandas. O homem sai em busca do carvão, que logo mais vai ser queimado em uma churrasqueira no quinta. Asinhas, linguiça, cupim, picanha e até dúzias de pão de alho se oferecem aos espetos. A mesa do café da manhã ganha pães, bolos, tortas e jornais e revistas. E o açúcar vai caramelizando enquanto os pensamentos já se vão pela sobremesa. ...
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21/12/2014 - Sabores de Vó Ofélia

Quero me sentar a sua mesa e prosear um pouco enquanto coa o café e frita aqueles bolinhos de chuva que só a senhora é capaz de fazer. Quero espiar a senhora no fogão fazendo aquela macarronada especial de domingo. Quero provar mais uma vez da batata frita à moda de dona Ofélia. Quero ver mais uma vez que seja a senhora espremendo o milho para fazer curau, pamonha e bolo como nunca comi igual. Quero fazer aniversário para comer aquele bolo de suspiro e goiabada que só é possível vindo de suas mãos. Quero matar minha fome com seu pudim mata-fome. Quero experimentar de novo aquele pão sovado. Quero, nas noites frias, tomar aquela sopa que a senhora fazia em poucos minutos. Quero aparar no ar uma fatia do seu manjarzinho branco voador. Quero brigar para raspar a panela do curau de milho. Quero comer seus canudinhos com seu doce de leite que muda de cor três vezes antes de sair do fogo. Quero me fartar do seu doce de abóbora. Quero uma fatia bem generosa do seu bolo batido à mão, bolo que no meu caderno de receita ganhou o seu nome. Quero virar criança outra vez para comer sua gelatina colorida. Quero sentir o gosto daquele bife flambado e esfregado no fundo da frigideira. Quero encher as mãos de suspiro e pãezinhos de São Luiz. Quero provar da sua fé, dos seus sonhos, do seu amor, da sua sabedoria, das suas lições de vida a partir de bocados, colheradas, pedaços dos seus quitutes... ...
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16/08/2011 - Sacolas de memórias

Atravessei os últimos dias com sacolas carregadas de memórias. O viço bom das histórias que insistem em viver após o ponto final. Sob o pretexto de amar, pedaços de sorrisos e silêncios, de súbitos e pausas, de suspiros e desfechos vão se colando, formando assim um só corpo. No caminho, cheiros, sons e texturas me alcançam. Sabores aconchegantes me conduzem numa barca de sonhos e medos pela água da boca.

As cores do que é verde e maduro se contrastando na composição de um cenário que mistura sequências de futuros e pretéritos. Lembranças aromatizadas. Tardes matizadas. Temperos em movimento. Afetos meticulosos sob o mesmo teto. O teto da imaginação. Ilusões inéditas e usadas, novas e quebradas, reformadas e inutilizadas esperando para nascer, para morrer, para renascer ao mínimo toque da vara de condão da esperança. ...
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08/07/2014 - Saia azul

De saia azul ao vento do Atlântico Sul com pernas que deixam qualquer romântico mais bêbado do que dúzias de tabernas. Ela conversa e tudo logo versa para ela. Seus olhos como agulhões vão mergulhando no mar da alma alheia e saindo com o que desejam estando a maré baixa ou cheia. Seus pés pequenos são como venenos à falta de cura de uma paixão sem alta. Seu corpo serenado como que bordado de pintinhas vizinhas uma da outra numa misteriosidade louca. E sua boca dizendo às minhas entranhas, sabendo como poucas a arte de fazer manha, que toda aventura ainda é pouca. ...
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04/06/2015 - Saia em desapego

Saia pelo dia sem levar nada. Saia pela estrada do dia deixando tudo o que não quer mais pelo caminho. Saia sem destino, sem mapa, sem bússola. Saia sem rumo. Saia andando para dentro de você. Saia se perguntando e se desapegando automaticamente do que você não usa mais, do que não lhe diz mais nada. Saia se livrando de todo peso extra. Saia deixando pelo caminho o que precisa ficar para trás. Saia deixando partes, pedaços, estilhaços. Saia se libertando de palavras vencidas, de passagens doloridas, de eternas despedidas. Saia deixando o para sempre como semente pelo estradão.


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04/12/2010 - Saídas

Não há o que discutir, é preciso sair. Sair do tempo, do firmamento, da pauta, da fragata. Sair da casa, do trabalho, da asa, do atalho, da brasa. Sair da rua, da lua, da nua. Sair da estrofe, da tosse. Sair do passo, do traço, do aço. Sair do mundo, do fundo do poço, da boca da menina, dos olhos do moço. Sair da vida, da estada. Sair do ritmo, do íntimo. Sair do tom, do batom, do tom sobre tom. Sair da cama, da lama, da trama.

Sair. É preciso sair. Sair da novela, da tela. Sair da roupa, da louca. Sair do caminho, do destino. Sair da história, da memória. Sair do prato, do fato, do mato. Sair do rio, do frio, do assovio. Sair da brecha, da mecha. Sair do pranto, do encanto, do canto. Sair do telefonema, do poema, do teorema. Sair da política, do ridículo, da titica, do monociclo. Sair do tédio, do prédio, do médio. Sair da água, da mágoa, da anágua. ...
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22/01/2016 - Saideira

O tempo fechou e ela não voltou para casa. Saiu de bar em bar, de boca em boca, fazendo papel de louca. Banalizou as conjugações do verbo amar e numa saideira amou mais do que muitos em uma vida inteira. Amou sem dor nem choro, mas quebrando todo o decoro possível. E se julgando infalível não avisou ou prestou conta dos casamentos e separações que foram acontecendo de repente bem debaixo do nariz da lua. E era vulgaridade demais para haver qualquer saudade. E as lembranças ficaram vazias, como gavetas sem memória. Tudo foi feito com a desculpa da bebedeira, mas todo mundo neste mundo sabe para que e para quem acendem um fogueira, bem como dos riscos de se queimar. E ela foi de braço em braço, de grito em grito, de catarse em catarse sem se preocupar com possíveis danos ou reparações. Quando acordou estava vestida apenas por quintas intenções, literalmente perdida entre razões e paixões tão inconsequentes quão inexistentes.


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19/03/2012 - Sal grosso

Sal grosso pra banho de descarrego. Sal grosso pra limpar o ambiente. Sal grosso pra cortar o mau-olhado. Foi Preto Velho quem falou, oi, foi Preto Velho quem mandou lavar meu corpo, minha casa, meus caminhos com sal grosso. A onda eletromagnética desse sal tem o mesmo comprimento da onda violeta. E violeta é de Nanã. O sal grosso é de Nanã, da velha que é do mundo desde que o mundo é mundo. Com o sal da manhã, com o sal em buquê, com o sal grosso, renovai-me, Preto Velho, Adorai, Nanã Buruquê, Salubá. ...
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