Daniel Campos

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Encontrados 254 textos. Exibindo página 1 de 26.

05/03/2009 - Pães de queijo de Rosa e Drummond

Eram pelo menos trinta pães de queijo se acotovelando em uma travessa. Na verdade, mini-pães num amarelo de sol de inverno, quentes de forno, aflorando água nas pedras que se incrustam pela boca. Pães de queijo cheirando a pães de queijo. Um aroma legítimo. O perfume não era de congelados, empacotados, embalados, guardados, conservados e outros "ados". Á primeira vista, não havia nada de artificialismo nesses pequenos.

Depois da crosta rachada, como os leitos de um São Francisco em época de estiagem braba, o anúncio, explícito, do queijo derretido. Queijo minas. E não era qualquer minas, mas Minas de Guimarães Rosa. Imagine o leite vindo das vaquinhas espalhadas pelos grandes sertões e veredas. Imagine aqueles personagens mágicos espremendo o queijo com as próprias mãos. Este é o pão de queijo que se oferece despudoradamente belo e timidamente mineiro bem diante dos meus olhos. ...
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01/08/2013 - Pai João das Matas

Pai João das Matas chega sempre em meio a um perfume de mato. Pai João das Matas caminha descalço, em contato direto com a terra. Pai João das Matas traz consigo o som das matas virgens, com direito a canto de pássaros e águas brotando do chão. Pai João das Matas usa chapéu de palha trançada, já gasto de tanto passar por entre galhos de árvores. Pai João das Matas é encantador de ventos, que obedecem ao seu comando. Pai João das Matas tem voz firme e coração doce como o mel das abelhas de sua mata....
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13/02/2015 - Pai João das Matas apareceu

Com bata e paletó branco, Pai João das Matas apareceu. Como amanhecer nas matas frondosas, calmo e intenso, Pai João das Matas apareceu. Com três colares coloridos de contas miudinhas, Pai João das Matas apareceu. Sobre a bata com três colares intercalando lilás e branco, vermelho e preto, laranja e azul, Pai João das Matas apareceu. Todo alinhado, de um modo impecável, Pai João das Matas apareceu. Pronto para caridade, Pai João das Matas apareceu. De chapéu de palhinha, de bordas desfiadas e fita iluminada, Pai João das Matas apareceu. Com olhares amadeirados, que nos olham por todos os lados, Pai João das Matas apareceu. De cabelos embranquecidos pelo tempo, Pai João das Matas apareceu. Com seu jeito sério e afável, Pai João das Matas apareceu. Irradiando cura, Pai João das Matas apareceu. Numa simplicidade de se admirar, Pai João das Matas apareceu. Como pai, avô, senhor, irmão, mentor, amigo, Pai João das Matas apareceu. Com porte nobre, na mais pura nobreza de coração, Pai João das Matas apareceu. Sem pedir nada em troca, Pai João das Matas apareceu. Como que vindo de tempos distantes, mas tão atuais, Pai João das Matas apareceu. Numa roupagem de preto-velho, Pai João das Matas apareceu. Numa presença forte, Pai João das Matas apareceu. Do alto de sua evolução, Pai João das Matas apareceu. Emanando amor, humildade e tolerância, Pai João das Matas apareceu. Com vontade de prosear, Pai João das Matas apareceu. Pra fazer chorar de emoção e alegria, Pai João das Matas apareceu. Numa figura de respeito e carinho, Pai João das Matas apareceu. Negro sábio, Pai João das Matas apareceu. Com bigode e barba de algodão, Pai João das Matas apareceu. Envolto de muita luz, projetado à frente de um sol simétrico, Pai João das Matas apareceu. Em um retrato de amor, Pai João das Matas apareceu. Como este menino aqui sempre sonhou, Pai João das Matas apareceu.


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28/08/2011 - Pai Joaquim das Cachoeiras

Toca o sino, bate o tambor, Pai Joaquim das Cachoeiras chegou para abrir minhas porteiras. Eê preto velho, filho de Xangô, guarda as águas das cachoeiras que formam o grande rio onde Oxalá se batizou. Veio do raio de Olorum para lavar toda inveja, todo mau-olhado, todo mal que ficou.

Pai Joaquim veio, sob o comando de Iemanjá, para limpar tudo de ruim que fulano me jogou. Cicrano me amaldiçoou, livrai-me Pai Joaquim. Afasta esse encosto de mim. Beltrano me esconjurou! Pai das Cachoeiras, do ramo do povo das águas e das sereias, fui eu quem lhe chamou. ...
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15/06/2012 - Pai Joaquim das Matas

No verde é que mora Pai Joaquim das Matas. Preto velho do cabelo branco-algodão e dos olhos de esmeralda é Pai Joaquim das Matas. Pai Joaquim das Matas é do signo do mato, tem a alma de luz esverdeada. Pai Joaquim das Matas conhece as folhas, as raízes, as sementes e tudo mais o que brota na mata. Pai Joaquim das Matas nos descarrega com sua natureza, rompendo nossas demandas como rompe suas matas. Pai Joaquim das Matas canta o canto que o vento do mato carrega pelas matas. Pai Joaquim das Matas dança a dança do mato. Pai Joaquim das Matas está na copa das árvores mais altas e nos olhos dos animais que caminham pela floresta....
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06/07/2010 - País cara de pau

Todos pintam o rosto. Todos falam com gosto. Todos levantam uma bandeira. Todos se esquecem da canseira. Todos viram técnicos. Todos têm palpites proféticos. Todos falam mal da mãe do seu juiz. Todos vivem por um triz. Todos se reúnem com todos. Todos vão do céu ao lodo. Todos têm um feitiço particular. Todos bebem de bar em bar. Todos têm suas crenças. Todos têm suas exigências. Todos se esforçam para cantar o hino nacional. Todos se esquecem do mundo real.

Todos entram no gramado. Todos dizem: isso ta certo, aquilo ta errado. Todos têm um motivo para comemorar. Todos querem apostar. Todos comem pipoca com coca-cola na frente de uma tv japonesa e ainda dizem que são nacionalistas. Todos são anônimos e artistas. Todos têm uma receita infalível. Todos se unem para combater o mesmo pesadelo terrível. Todos têm uma escalação na cabeça. Todos têm no coração o desejo de vença. ...
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22/03/2012 - Paisagem pitoresca

Casinhas com quintais de terra e abacateiros ao fundo. Abacateiros verdes, grandes como não existem mais. Um romance anda por estradinhas em ziguezague. Um vira-lata latindo pra ninguém. O vento faz dançar o capim dourado ao mesmo tempo em que traz ecos da montanha de pedra. A saudade é quente e úmida. Os desejos são esticados na janela em feitio de cobertas. Um cavaleiro galopa por vielas estreitas e alongadas.

Na beira dos caminhos há flores e pedras. Dizem até mesmo que são as pedras que florescem. Histórias não faltam. Lendas então... A cana sangra cachaça. Até o vento tem sotaque. O lugarejo acolhe e embala. Tudo ali tem tempero incomum. As lembranças grudam nas paredes como lagartixas. Há um tilintar de prece pelo ar. O sol tem cor de caco de telha. Ali, a linha que separa os mundos não é imaginária. ...
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26/04/2015 - Paixão circense

Pendura seu corpo no meu. Vamos às alturas. Ilumina o meu breu. Vamos ser circenses. Viver a paixão no picadeiro. Saia da minha cartola. Envolva-me em seus truques. Pula como se de mola. Atarraque-se na minha gola de palhaço. Cavalga no meu passo. Abusa das acrobacias. Pula no vazio. Causa-me arrepio. Encha a plateia – meus olhares – de alegrias. Estica a lona da ilusão. Dê por aberta a temporada da imaginação. Rola comigo pela serragem entre estrelas, bananeiras e cambalhotas. Beija-me de pipoca. E no alto do trapézio me provoca.


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19/01/2012 - Paixão de confeiteiro

Hoje eu quero uma ganashe de olhares, com olhos amargos e doces, comestíveis ou decorativos. Hoje eu quero beijos de marzipã em lábios de açúcar de confeiteiro. Hoje eu quero cabelos que escorram como calda de açúcar caramelado. Hoje eu quero um corpo que ferva como leite e que derrame sobre o meu. Hoje que quero sentimentos que se incorporem aos meus numa mistura homogênea em poucos segundos. Hoje eu quero reduzir em 1/3 o volume inicial de saudade que trago em mim. Hoje eu quero coar meus pensamentos, descartando tudo o que possa desandar a receita. ...
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20/01/2011 - Paixão despedaçada

Depois de muito tempo e de um tempo muito, sangro minha boca de uísque. Uísque caubói como um dia imaginamos ser. Aliás, como um dia fomos. Uísque para lhe chamar, para lhe invocar, para lhe encontrar... Mais do que nunca, é preciso lhe pedir perdão. Perdão por não ter honrado a promessa feita diante de seus olhos verdes de nunca deixar seu império se perder. Seu mundo particular, feito de terra vermelha e fantasia, depois de mais de setenta anos, passa para mãos que não tem seu sobrenome e que não conhecessem sua história. ...
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