Daniel Campos

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Encontrados 111 textos. Exibindo página 9 de 12.

27/05/2010 - Tragédia em alto mar

Pense nas garças que não podem esgarçar suas asas, pois estão todas cobertas de óleo. Pense nos cavalos marinhos cavalgando cegamente pela escuridão petrolífera. Pense nos peixes boiando no pretume do mar. Pense nos mergulhões enchendo o bico de piche a cada mergulho. Pense nos escafandristas fazendo borbulhas de óleo. Pense nas ondas de petróleo se quebrando no corpo dos banhistas. Pense nos golfinhos pulando num mar de asfalto. Pense nas sereias com o corpo repleto de manchas químicas. Pense no horror de tudo isso e no reboliço que pode causar um único poço de petróleo. ...
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11/05/2010 - Tempos assim

O céu voltou a escurecer para deleite dos meus olhos chuvosos. Se dependesse de mim, choveria aquele friozinho diariamente. O horizonte carregado e o vento alardeando pelos campos: vai chover, vai chover, vai chover. Nessas horas tenho curiosidade para saber o que faz o sol. Será que se esconde debaixo das cobertas? Só sei que essa é a vontade de boa parte da população. Quantos não pensam em cabular aulas, em enforcar o dia de trabalho, em inventar uma desculpa daquelas dignas de confessionário para não sair da cama. ...
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08/05/2010 - Tempo bandido

Ai, meu amor, vamos embora, vamos, deixa para trás toda essa coisa que chora. Vamos, vamos meu amor, sair da cidade, ganhar estrada, inventar uma nova velha inédita realidade para nossas vidas. Vamos, não perca tempo com despedidas. Afinal, cada dia é uma eterna despedida de nós mesmos e de tudo o que nos cerca. Tudo que nasceu um dia agora está morrendo. Por isso, vamos, vamos, meu amor, temos pressa. Não meça as conseqüências, vamos além da inocência. Para cada rosa morta nasce um espinho no caule da flor. Cada uva caída ao chão alimenta uma nova taça de vinho. Marcas e sabores que não se esquecem facilmente. ...
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03/02/2010 - Três fôlegos

Não se avexe apenas feche seus olhares como as ondas fecham os mares do sul e mergulhe num mundo azul repleto de nuvens e anjos de muitas penugens voando e se amando à moda de um céu sem som feito de papel crepom e vaga-lumes neon.

Relaxe e encaixe seu sono sem dono em meus ombros enquanto tombo o mal visceral que tanto lhe atormenta o coração que pela décima vez tenta fugir da canção que não quer sumir na última lunação do mês.

Dorme entregando seu corpo à fome e enviando sua alma num sopro de pólen pelo jardim que não tem começo nem fim apenas o meio do seio das águas em que naufraga o desejo de um querubim condenado a morrer ou para sempre viver sem ter um beijo de tua boca de cetim. ...
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24/01/2010 - Terço das lágrimas de Nossa Senhora

Depois de tanto interceder e sofrer e consolar pode chorar. Chora, minha senhora, lágrimas de espinhos, lágrimas de sal, de sangue-vinho, lágrimas ásperas de sisal. Chora por tantos filhos perdidos, pela falta de heróis e por quantos bandidos. Chora um choro doido, puro e proibido. Chora tanta violência, chora por clemência, chora a inocência perdida de uma vida.

Chora um choro de santa e de mulher, mas, sobretudo, de mãe que tanto bem quer os seus. Chora a desgraça e o adeus. Chora, mãe chora, quem passa ao seu lado e ignora seus olhos molhados no altar. Depois de tanto querer ajudar, de tanto se sacrificar e ensinar pode chorar. Chora um choro de agonia, de pedra e hemorragia, chora em silêncio e aos soluços o choro da virgem Maria. ...
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20/01/2010 - Todo dia

Todo dia. Todo dia. O relógio desperta. Há uma agenda a cumprir. Os jornais trazem más notícias. A chaleira apita. A faca corta o pão. O corpo se banha. Lá fora alguém passa apressado. O cachorro quer comida. Todo dia. Todo dia. O jardim quer água. No mesmo barco há um perdão e uma mágoa. Soldados e mocinhos brincam com balas de festim. E alguém se olha no espelho e diz: será que Deus tem pena de mim?

Todo dia. Todo santo dia. O sol insiste em ser quente. O pássaro canta em troca de alpiste. O tanque bate, o ferro passa e a mulher veste a roupa. Todo dia. Todo dia. O palhaço quer circo. O pobre sonha em ser rico. A mariposa ronda o abajur. A francesa faz beicinho para dizer bonjour. O dinheiro se vai. A conta vem. O mundo gira sem parar e diz: tudo continua no mesmo lugar....
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10/12/2009 - Tempo que não se conta

Conta-se que já se foi o tempo em que o tempo era levado em conta. Hoje, ninguém mais planta seguindo os céus. Hoje, ninguém mais navega de acordo com as estrelas. Hoje, ninguém mais morre de acordo com o relógio biológico. Hoje, o tempo virou um imenso tic-tac, um tac-tic, um tic-tic, um tac-tac, um encontro e desencontro de ponteiros. O tempo existe e pronto. Ninguém mais o romantiza. Ninguém mais o rivaliza. Ninguém mais o imortaliza em canções atemporais.

Os temporais podem cair à vontade. O mundo já se acostumou com eles. Os seres humanos que antes de trocar de roupa olhavam para o céu entraram em extinção. Que importa o sol, a chuva e o frio se o homem é uma criatura adaptável? Perdeu-se a graça esperar pelo final de semana ou por uma data especial do calendário. Tudo passa tão rápido. O tempo se embola, dá nó e vira uma coisa só. Não há mais diferença entre terça e quinta-feira. O tempo que era único virou um tempo de massa, sem rosto e com tantos rostos......
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02/12/2009 - Tarja preta

Atualmente, para se manter vivo é necessário ser um “tarja preta”, ou seja, viver sob medicação pesada. Antidepressivo. Antiestressante. Antioxidante. Antipilantragem. Antifalcatrua. Antiroubo. Antiradioativo. Antisequestro. Antipromessapolítica. Antidesemprego. Antienchente. Antiditadura. Antiinflamatório. Antispam. Antibiótico. Antiloucura. Antimiséria. Anticobrança. Antisusto. Antiescândalo. Anticorrupção. Antitelemarketing. Antiapagão. Antipaparazzi. Antipopulismo.

A falta de medicamento assim como as contra-indicações e reações são absurdas, principalmente no que se refere à bula. É um risco tomar a medicação tarjada de negro e outro não ingerir os ben(mal)ditos remédios. As farmácias são o negócio mais lucrativo do momento. Além da tarja negra, há o mercado negro. Comprimidos vendidos sem prescrição médica. Comprimidos piratas. Comprimidos medicinais ou veneno em cápsulas? ...
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28/10/2009 - This is it

This is it, here I stand
I’m the light of the world

É isso, eu estou aqui
Sou a luz do mundo

Este é o primeiro verso da música que Michael Jackson deixou órfã. Ao contrário de morrer esquecida em um canto, a canção tomou conta de um exército de bocas que a assoviam pelas ruas sem começo nem fim. É como se tudo de inédito que Michael tinha a dizer, a fazer, a revolver estivesse nessa letra que não é branca nem preta. A música tem a cor de uma espécie de paixão e paixão tem todas as cores ao mesmo instante que não possui cor alguma. Mérito da canção, afinal, mesmo com todo seu contorcionismo, Michael nunca conseguiu tal feito....
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15/10/2009 - Tempo feio

Nuvens pesadas e negras. Ventos assobiando. Gritos de trovão. Raios faiscando o céu. Antigamente, diante de um tempo feio, éramos obrigados a nos furtar de uma série de coisas. Aparelhos de televisão e de som tinham de ser desligados. Nada de tomar banho, falar ao telefone ou andar descalço. Usar talheres de metal? Nem pensar. Também não era permitido se sentar sob um bico de luz. Era condenável até o ato de se olhar no espelho. Proibido também era ficar perto de cachorros ou outros animais. Tudo podia ser motivo para se encontrar com uma descarga elétrica indesejável....
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