Daniel Campos

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24/01/2010 - Terço das lágrimas de Nossa Senhora

Depois de tanto interceder e sofrer e consolar pode chorar. Chora, minha senhora, lágrimas de espinhos, lágrimas de sal, de sangue-vinho, lágrimas ásperas de sisal. Chora por tantos filhos perdidos, pela falta de heróis e por quantos bandidos. Chora um choro doido, puro e proibido. Chora tanta violência, chora por clemência, chora a inocência perdida de uma vida.

Chora um choro de santa e de mulher, mas, sobretudo, de mãe que tanto bem quer os seus. Chora a desgraça e o adeus. Chora, mãe chora, quem passa ao seu lado e ignora seus olhos molhados no altar. Depois de tanto querer ajudar, de tanto se sacrificar e ensinar pode chorar. Chora um choro de agonia, de pedra e hemorragia, chora em silêncio e aos soluços o choro da virgem Maria.

Chora de saudade da humanidade que ficou. Chora tantas mortes, chora a falta de fé, chora mesmo sendo forte como é. Chora pelos roubos e arroubos de uma civilização que se esqueceu que é feita de barro e coração. Chora pelas calamidades, pelas atrocidades, pelas inverdades. Chora de molhar seu manto. Chora um choro quântico. Chora, mas não vá embora desta terra que tanto erra.

Chora enquanto nas contas deste terço eu conto suas lágrimas a fio. As suas lágrimas ò Nossa Senhora do Auxílio.


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