15/10/2009 - Tempo feio
Nuvens pesadas e negras. Ventos assobiando. Gritos de trovão. Raios faiscando o céu. Antigamente, diante de um tempo feio, éramos obrigados a nos furtar de uma série de coisas. Aparelhos de televisão e de som tinham de ser desligados. Nada de tomar banho, falar ao telefone ou andar descalço. Usar talheres de metal? Nem pensar. Também não era permitido se sentar sob um bico de luz. Era condenável até o ato de se olhar no espelho. Proibido também era ficar perto de cachorros ou outros animais. Tudo podia ser motivo para se encontrar com uma descarga elétrica indesejável.
Passaram-se os anos e tempos feios continuam a se formar, com suas ventanias, trovejadas e relampejadas, porém tais cuidados caíram da moda. Hoje o temporal esperneia lá fora enquanto o pessoal acompanha a novela, escuta música e conversa no celular. E o que dizer do computador? Os raios podem cortar o céu de cima abaixo ou debaixo para cima que ninguém se atreve a desgrudar do bendito teclado. Será que o medo diminuiu ou a dependência aumentou? Realmente, a humanidade está mais e mais apegada ao seu mundo elétrico, eletrônico, cibernético...
Os costumes mudaram. A caretice dos mais velhos perdeu espaço nas bocas das novas gerações. Ninguém quer saber de se divorciar de um celular só porque está chovendo um pouco mais forte. Na correria do dia-a-dia já não cabe saber se está ou não sentado ou passando debaixo de uma lâmpada. E a vaidade também não espera um minuto sequer para ficar olhos nos olhos com um espelho. Lendas ou não, os cuidados diante de um tempo feio se esvaíram. Com isso, as pessoas que liam páginas e mais páginas de livros iluminadas por velas ou relâmpagos foram, de certa forma, extintas.
Uma pena!
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