Daniel Campos

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Encontrados 362 textos. Exibindo página 4 de 37.

15/11/2015 - Cigarra cantou chuva

A cigarra cantou e a chuva chamou pra perto de nós. Cigarra quando canta nuvem de chuva se alevanta. A cigarra cantou e o chão molhou, e o rio correu, e a árvore verdejou. Cigarra quando canta a chuva é certa, a chuva é tanta. A cigarra cantou e o aguaceiro se esparramou pela roça que deus caipira abençoou. Cigarra quando canta a terra de junta almoça e janta. A cigarra cantou e o céu chorou sobre todos nós. Cigarra quando canta criança dorme de manta. A cigarra cantou e o cachorro rolou na lama, o sabiá pulou na laranjeira e a galinha da cama de palha não levantou. Cigarra quando canta bole com as trovoadas e os olhos do lavrador pela invernada se encanta. A cigarra cantou chuva e o céu pretejou, relampeou e a água rolou.


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03/11/2015 - Coração morcego

Meu coração anda achando que é morcego ficando de ponta cabeça no meu peito. Os guardados do coração caindo pelo corpo todo como se o mundo tivesse virado de pernas para o ar. E em crise o coração não quer voltar. Passa o dia dormindo de ponta cabeça e a noite a caçar o que alimenta um coração pelas sombras da noite que a todos cobre. Meu coração sem juízo, rebelde, medroso. Coração que treme. Coração que sangra. Coração que não se expõe. Coração machucado. Coração tomado. Coração revirado. Meu coração anda achando que é morcego fazendo do meu peito sua caverna particular e assombrando (assombrado) quando o assunto é amar.


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02/11/2015 - Confusão

Era eu, era tu, era nós. Era todos debaixo dos mesmos lençóis. Era beijo, desejo e queijo com geleia. Era rei, era princesa, era plebeia. Era aplauso sem plateia. Eram nós, ilhós, dós. Eram tantas abelhas se dando na mesma colmeia. Era Shakespeare? Era Nelson Rodrigues? Era Dante Alighieri? Era teatro, era real, era fato, era carnal, era retrato três por quatro, era zodiacal. Era eu, era tu, era todo mundo nu. Era azul, era blue. Era blues. Era Buda, era Afrodite, era Jesus. Era religião. Era canção. Era paixão. Era impressionismo, realismo, romantismo. Era cós. Era vós. Era a voz de dentro. Era sentimento. Era necessidade, saudade, vontade. Era a anti-realidade. Era Saturno de coturno em Plutão chamando por Netuno. Era a berra da Terra. Era parte de Marte. Era arte da guerra. Era o amor que erra a mira e atira a deus dará. Era eu, era tu, era nós num pé de araçá.


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01/11/2015 - Chovendo em mim

Quando chove eu fico verde, as águas do meu ser ganham volume, os pássaros interiores cantam como se tudo e todos fossem amores. Quando chove eu durmo em paz, tenho mais apetite e sou dado a ficar grudado com quem me quer bem. Quando chove eu floresço o que não me esqueço e como flores eu reapareço na felicidade dos casais numa saudade que nunca ficou pra trás. Quando chove eu fico fértil à inspiração que brota em mim como lua no sertão, imensa e desejada, densa e amada. Quando chove eu me liberto e tenho a felicidade por perto. A felicidade das matas, das nascentes, da bicharada em meio a chuva que cai fazendo ninhada no meu coração que se enche feito ribeirão.


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23/10/2015 - Chuva milagreira

Casais agarradinhos sob os guarda-chuvas vão passando de mansinho. O cheiro de café tomar o ar e se mistura aos pingos de chuva. A viúva olha para o céu e sente o seu bem tão mais perto. O deserto acabou e as flores estão brotando pelo quintal. O Natal chegou mais cedo para o arvoredo que ganhou o verde de volta. Um perfume que vem e não solta e traz ciúme aos dias ensolarados. Nublado. Carregado. Molhado. O dia amanheceu encharcado. O mundo invernou. A alma frutificou. E a inspiração proliferou. E quem nem mais sentimento tinha, amou.


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18/10/2015 - Corpo ou jardim?

Quando você se deita está feito o jardim. Do seu corpo nascem amores-perfeitos e outras cores de flores que são de todo jeito. A brotação e floração do seu corpo horizontal não têm defeito nem fim. Impossível não notar as folhagens dando beleza e mistério aos seus olhos numa simplicidade de realeza. E a rosa carmim, carnuda, miúda, profunda, que desabrocha em sua boca. E a noite se faz pouca para a apreciação de todo perfume de manacá, jasmim, lavanda, camélia,..., e de todo ardume que anda pelo seu íntimo misterioso feito bromélia e garboso igual azaleia. Há árvores altas que tocam o universo e uma vegetação rasteira que se espalha por inteira como verso em rama. Quando você se deita folhas, raízes, folhas e sementes tomam de conta da cama. Dama da noite, da tarde, do dia que anuncia com alarde o verde em toda sua seiva e primavera. Em seu corpo, a era do que cresce, floresce e aquece a vida como chá de camomila. Há filas de jardineiros, colecionadores, lavradores, aventureiros, conquistadores, cientistas e artistas querendo tocar, cultivar, amar o seu corpo, que mais parece um porto do mato de onde chegam e saem a todo o momento embarcações de todo tipo de sentimento. Porém, vem o vento e o sopro espalha seu verdume em meus olhares preenchendo de vida, com suas chegadas e partidas, todos os lugares do meu eu. ...
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11/10/2015 - Criançará

Criança não vai lá. Criança não pode isso. Criança vem cá. Criança deixa disso. Criança tá na hora de dormir. Criança borá banhar. Criança, nada de cair. Criança, nada de fugir. Criança deixa de manhã. Criança quer brincar. Criança quer malinar. Criança quer seu lugar. Criança, nada de se perder. Criança nunca para de querer. Criança quer correr. Criança atazana. Criança faz manha. Criança quer braços. Criança dá laços. Criança faz o que não faço. Criança para não. Criança é imaginação. Criança ciranda. Criança danda, danda, dana. Criança de lá, de cá, acolá. Criança criançará. ...
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09/10/2015 - Casa aberta

A minha casa está sempre de portas abertas. A minha asa sempre leva mais um meus voos. Como sempre quis que se doassem a mim eu me doo. O meu coração em chamas é a minha oferta. Vai me chama. Cai me ama. Trai me acama. Sai da lama. Amai ó dama. Eu continuo o mesmo apaixonado. Eu contínuo futuro do passado. Eu e a ao meu lado a saudade do que não foi. A lua me dá oi, olá, adeus. E eu procuro deus pelos meus labirintos. Eu sou o que sinto. E sinto muito pelo que não houve entre nós. Que as marcas dos lençóis fossem as marcas dos corações. O meu tempo está em seus grilhões. Quem sabe numa nova vida, pois essa já deu em despedida. Ave ferida. Nave partida. Base perdida. Se eu ainda acredito nas estrelas? Posso vê-las, mas não posso tê-las pra mim brincando, iluminando meu jardim. Toca clarinete. Sobre a minha mesa o banquete do fim. É tanto sentimento. Quem vai querer? Quem vai comer? Quem vai poder? Que seja bem-vinda a sua realeza o tempo. O tempo... ...
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26/09/2015 - Chico e meu pai

Meu pai, vamos ver o Chico. Bota um sorriso no rosto e sua camisa de domingo. Não sei por quanto tempo ainda ele nos esperará. Então trate de se apressar, pois eu já estou pronto pro nosso bis. Vamos ouvir A Banda, Construção, Sob Medida e cantar feliz pensando que somos chicos também. Vamos contar a ele que você o descobriu no primeiro festival e já sabia, naquela época, que nunca haveria outro igual. Pode levar sua coleção de vinis pra ele autografar. Também vou levar meus livros pra ele dedicar. Não é nada piegas ser fã do Buarque que vai de Paris a Mangueira numa mudança de faixa. Somos buarquianos há anos. E temos mil planos e saudades assim como Chico tem cidades. Confessa que ele já cantou em todos os seus rádios e vitrolas. Vamos falar pro Chico quantas vezes já nos pegamos a conversar por conta dele. E quem sabe você ainda toca bola com ele dando um drible no tempo. Você que cresceu com Chico e me embalou com Buarque merece ser aplaudido e nunca esquecido por fazer de Chico Buarque coisa nossa.


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25/09/2015 - Convidado está

Entra que a casa é boa e a mulher, que nunca anda à toa, já vai botar a louça na mesa e fazer o café. Já que vem o bico do bule, a asa da xícara, o pé de moleque... Num assunta que é tudo singelo, mas a beleza de tudo tá no modo que vosmecê vê o mundo. Pode quebrar a friagem no rabo do fogão, junta a vassoura para riscar o piso num balançado ou monta num cavalo bão pra corre o roçado sentindo o vento quebrando na testa e o tempo de chuva armando pros lados do ribeirão. A minha idade é a mesma das paredes, que tão firme como eu, então pode pendurar sua rede e cochilar na paz do santo-deus. Quando a noite desce tem pirilampo, chá de capim-santo, cantiga de grilo, prece pra espantar quebranto e filho de lobisomem que corre pelo chapadão. Entra que a prosa é boa e vai que aperte a garoa... ...
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