Daniel Campos

Ou exibir apenas títulos iniciados por:

A  B  C  D  E  F  G  H  I  J  K  L  M  N  O  P  Q  R  S  T  U  V  W  X  Y  Z  todos

Ordernar por: mais novos  

Encontrados 362 textos. Exibindo página 5 de 37.

20/09/2015 - Coronel do Bode

Quem é que pode com o Coronel do Bode? Acode, acode que dona Sinhazinha com ele não pode. Ele a sacode e berra feito bode. Não pode, não pode. Dona Sinhazinha merecia um lorde, mas o Coronel, que nem o diabo pode, a fez sozinha, na verdade, fez dela uma ode à solidão. No sertão quem é que implode o império do Coronel do Bode? Pra mode da alegria de Sinhazinha bem que o vento ao invés da chuva podia trazer o lorde. Um lorde capaz de fazer Sinhazinha viúva. Mas enquanto o lorde não vem, Sinhazinha fica à mercê do pagode do Coronel do Bode num compromisso de fio de bigode. E bigode não falta no Coronel do Bode, tanto que quando chove se sacode. E quem é que pode com o bode que berra e morde? ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

13/09/2015 - Comermorar

Bota a linguiça pra fritar no fio de óleo porque ninguém vai morrer por ter prazer. Deixa dourar, deixa grudar um pouquinho no fundo da frigideira. Corta cebola e se chorar, agradeça a deus por salivar com os olhos diante do que ele criou. Mexe pra lá, mexe pra cá, o gosto já vai pegar. Sobe o cheiro e vale salpicar de salsinha, cebolinha e orégano para marcar o tempero. Cuidado pra não tampar, pois junta água e o caldo vai desandar. Deixa esborrifar nos azulejos, pois não é nada do que você não possa limpar. Sinta o frigir por inteiro. E quando frita e encorpada, solta a língua acebolada no prato e deixa o arroz se lambuzar naquele fundo de frigideira. Depois é só agradecer e comermorar. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

11/09/2015 - Ciranda de lavanda

Ciranda, pequena, cai na minha roda e não se apequena, gira daqui, mira dali, e acerta meu peito com seus olhos flechados de lira. Anda como quem dança. Alcança o céu como criança. Filha de Luanda, de Ruanda, de Uganda, de Aruanda. Dona dos ventos que movem os moinhos da Holanda. Afina o meu coração no ritmo da sua banda. Danda, samba, ganda, ciranda no barracão dos meus olhos que forram o seu chão. Ciranda, dando de banda pra solidão. Manda seu passo, indica seu paradeiro, pontilha meu caminho com seu destino por inteiro. Abranda a minha vida com sua ciranda e deixa-me flertar com você da minha varanda. Ciranda e faz propaganda de que como anda pelo meu corpo num sopro de lavanda.


Comentar Seja o primeiro a comentar

10/09/2015 - Com a chuva

Como se eu fosse árvore verdejo de dentro pra fora com a chuva. Como se eu fosse rio eu transbordo com a chuva. Como se eu fosse terra eu encharco e broto as sementes de mim com a chuva. Como se eu fosse pássaro eu abro asas e o peito cantando com a chuva. Como se eu fosse pedra eu ganho vida com a chuva. Como se eu fosse mina eu verto e corro com a chuva. Como se eu fosse criança eu brinco na enxurrada com a chuva. Como se eu fosse mato eu solto perfume com a chuva. Como se eu fosse bicho eu banho e bebo com a chuva. Como se eu fosse lavrador eu olho aos céus agradecido pela chuva. Como se eu fosse fogo eu me assossego com a chuva. Como se eu fosse barco de papel eu vou descendo a rua com a chuva sob os olhos brilhosos de quem me fez.


Comentários (1)

08/09/2015 - Coração refugiado

Quando eu respiro dói porque não é fácil colocar para dentro esse ar de guerra. Há um mundo de sentimentos, de tormentos, de violências tantas jogado aos ventos. O grito de dor, o choro de fome, o nó na garganta, os sonhos abortados, os amores partidos, as perdas pra sempre, as palavras espinhadas... Tudo fica pelo ar se acumulando como nuvens invisíveis carregadas de negatividade. E ao respirar coloco para dentro de mim todo esse tempo ruim e sofro, sentimental que sou. Hoje meu coração refugiado está.


Comentar Seja o primeiro a comentar

17/08/2015 - Carne de cajá

Minha alma anda amarelo cajá como peito de sabiá. Meus braços têm traços de todos os espinhos que enfrentei para chegar às rosas que tanto beijei. Eu ando rico de natureza, pois todas as forças andam confluindo em mim de um jeito pra lá de tupiniquim. E eu, como passarim, esqueci do meu peso físico e cármico e voei longe, voei alto, voei pros braços de quem me chamou de seu. Por Deus, que as estrelas se apaguem todas de uma vez para que eu não ache o caminho de volta e fique perdido nesse amor doído. Deve estar inscrito em alguma escritura esquecida que amor que não dói não é amor. Minha alma anda ensolarada, guardado todo o seu exotismo, como carne de cajá. Quem há de ter coragem de provar? Que venha logo, que venha logo, pois se pode acabar.


Comentar Seja o primeiro a comentar

08/08/2015 - Céu limpo

Longe de todos os espaços estrelados e nublados há um céu limpo sem nuvem ou estrela. Um céu que de tão vazio chega a doer em sua própria e infinita solidão. Um céu tão liso como se fosse de vidro ou de papel de seda, dando a impressão de que irá se quebrar ou rasgar a qualquer momento em razão de tamanha perfeição. Um céu sem manchas de balão, de pássaro, de borboleta, de pipa, de avião. Um céu como se obra de feitiço não dado a rebuliços. Sua angústia é sua nitidez. E quando esse céu é duplo, contido em dois olhares, a lágrima cai para dentro, pois não pode turvar o que nasceu para ser perfeito.


Comentar Seja o primeiro a comentar

07/08/2015 - Casa do rio

Tem uma casa na beira do rio cuja correnteza tentou e retentou, mas ainda não levou. A casa frágil e tímida parece ser para toda a vida. É casa de liga. Está ligada ao veio daquele rio, como se fosse morada daqueles que tem um pé na terra e outro na água. A casa é anzol, é isca, é prenda ao rio que passa a cortejá-la num amor impossível. Muitas vezes as águas já chegaram a bater naquelas paredes, entrar pelos cômodos, mas nada fora disso. Como se cada qual tivesse o seu lugar no mesmo espaço, casa e rio vão passando os anos e ficando cada vez mais íntimos, porém, respeitando suas individualidades. A casa é dura na queda e o rio, por sua vez, continua passando sem ter casa e dona, pois não existe o rio da casa, mas a casa do rio.


Comentar Seja o primeiro a comentar

05/08/2015 - Colocando em ordem

Afina meu violão que eu toco à multidão dos sonhos seus. Olha para o céu da minha boca que minha língua roga ao tempo sem adeus. Coloca minhas letras em ordem e diz que minhas poesias podem ter livre acesso ao seu corpo. Enfileira nossos sapatos e fala que cada par será responsável por um ato de amor louco. Pendura no varal as minhas esperanças com os pregadores do seu desejo e nua de expectativas dança e não me livra dos seus festejos.


Comentar Seja o primeiro a comentar

21/07/2015 - Calor em romance

Faça do meu corpo o seu cobertor às horas frias. Não modere no sonhadeiro, pois meu fogão é alimentado por sonhos. Quanto mais sonhação mais calor e aconchego. Cuidado para não se queimar nos meus olhos faiscantes. Vá a fundo, mas vá sem atropelos. Meu coração é vela acesa, enquanto houver chama amor haverá. Portanto, nada de movimentos abruptos, inesperados demais, pois a fogo pode se apagar. Cultive a centelha da minha alma em suas mãos e me terá para sempre, num romance-canção. Beba minhas prosas como quem bebe um chocolate-quente, gole a gole sentindo todo o gosto e ardor. Não tenha medo, mas se lembre de que o sol da tarde não é o mesmo sol de cedo. E há noite pode se encontrar com meu sol interior. E quem tem amor o frio mais frio da ausência não coloca pavor.


Comentar Seja o primeiro a comentar

Primeira   Anterior   3  4  5  6  7   Seguinte   Ultima