Daniel Campos

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Encontrados 362 textos. Exibindo página 6 de 37.

15/07/2015 - Cavaleiro da paixão

Minha viola não toca por esmola. Minha poesia não rima com mais-valia. O meu canto não é por dinheiro. Eu amo e me doo por inteiro. Escrevo não para estar entre os dez mais, mas para mexer com o amor dos já e futuros casais. Minhas palavras não imploram por ouvidos, aplausos, olhares. Meus poemas são cupidos que mesmo sem notar estão pelos ares. Eu não quero nada em troca, mas é tão bom saber que meu verso provoca um beijo, um encontro, um reencontro, um desejo. Eu combato a solidão sendo cavaleiro da paixão. E não há paga para um amor verdadeiro, espontâneo e que ata como nó de marinheiro.


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08/07/2015 - Castelo do Assombrão

No Castelo do Assombrão, tem morcego, lobisomem e bicho papão. Tem vampiro, múmia e caixão por todo lado. Tem grito de horror e gemido de pavor. Tem ladrão de passado e esqueleto que já deixou a vida de lado. Tem caveira, fogueira de bruxa e pedaços de gente. Tem semente de monstruosidades, fantasmas sem animosidades e muita sobrenaturalidade. Não falta assombração, sombras e sombras que sombras são, no Castelo do Assombrão. Tem sangue, tem bangue-bangue, tem tumba, tem a rumba dos mortos, tem a lama dos porcos, tem a cama das dores, e os pecados dos confessores, tem pacto de almas, tem suspense que espanta a calma, tem destino que não cabe na palma da mão. Tem estranhitude demais e esquisitices pra lá de anormais. Tem porões e outras dimensões. Tem foices, ossos, caldeirões, e muitos senões, as sombras são, assombrações, no Castelo do Assombrão.


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03/07/2015 - Cadê as flores?

Pelas folhas da primavera onde estão as flores? Onde estão as flores pelos dias que se vão cinzentos, secos, retorcidos? Sobram dores pelos canteiros do adeus. Os jardineiros perderam seus empregos e agora bebem, bebem, bebem até se despedir dos dias seus. Tulipas, rosas, petúnias, hortênsias, cravinas, bromélias, orquídeas, margaridas, violetas... Pra onde foram as flores? Não há flores para os buquês das noivas. Não há flores para enfeitar os defuntos. Não há flores para presentear as namoradas. Não há flores para as abelhas, para os beija-flores, para os ursos. Não há flores para ver, para comer, para beber, para cheirar, para dar, para se refestelar. Por onde andam as flores que o inverno carregou? Por onde andam as flores que o tempo devorou? Que os guardiões da primavera tenham conseguido defender as sementes, as semente, as sementes das flores da gente.


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18/06/2015 - Comida do dia

Bota mais feijão no seu caldeirão. Que tal galinha-de-angola na sua caçarola? Derrama dendê e deixa ferver. Dedo de moça para arder. Com um pingo de cumari não dá para se arrepender. Tem fritada de lambari. Especiaria daqui. Ensopado de chambari. Morde caqui para se apaixonar. Chupa ingá para adoçar. Tem chá para matar a sede. Sinhá perfumada de cheiro-verde. E um pudim descansado na rede. Tem tempero pelas paredes. Coloca aipim na pressão. Desmancha o namorado no forno. Acorda o arroz que tá com sono. E avisa o manjericão que ele não tem dono. Cebola em cruz pra dar fé. Sal o quanto der. Pega araticum no pé. Urucum para dar cor no seu amor. Leva o alho no andor. Regue com azeite. Carregue no enfeite. Aceite o calor. Afague como doce de leite. E largue a boca pro que der e vier.


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07/06/2015 - Carrossel do tempo

Meu pai, ô meu pai, hoje é domingo, leva-me para comer coxinha no bar do Mané. Vamos comprar quadrinhos do Tio Patinhas na banca do João. Que tal um passeio de bicicleta pelas voltas do zerão? Hoje é domingo, vamos para o sítio dar de comer aos cachorros. Apresse-se porque tudo tem de ser feito antes do macarrão da dona Ofélia ou você prefere a polenta da dona Adélia? Vamos, vamos, vamos comprar manteiga de leite no Mercadão, assistir a largada da Fórmula-1, ouvir Chico Buarque e outros bambas. Não se esqueça de ler meu novo artigo no O Impacto. Preste atenção, pois Kika está querendo mais um pedaço de pão com margarina ou requeijão. Seu Antônio quer nos contar sua última caçada em busca do lagarto e Seu Líbio mais uma de assombração. Vamos jogar sacolas de pão pros peixes do lago. Pegue as varas, os anzóis e o enxadão, pois dona Etelvina se arrumou toda para pescar lambari. Quais filmes você locou? Não durma demais na caminha de dona Zefa, pois Danilo quer lhe desafiar para uma pelada. Dribla pra lá e pra cá, olha o gol. Já botou pilhas novas no radinho para ouvir grudado no alambrado as jogadas de Rivaldo, Leto e Válber. Roda, roda, roda no carrossel caipira e deixa a gira do tempo lhe levar.


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01/06/2015 - Cadê o tempo?

Cadê meu amor o tempo que estava aqui? Cansou de esperar e se foi num pé de vento? Tomou chá de sumiço, indo-se embora como que por obra de feitiço? Cadê, cadê o tempo que não deixou rastro? E eu pensei que o tempo tinha comigo algum lastro. Imaginei que iria me esperar, mas o tempo, meu amor, foi ter com outro. O tempo virou mundo. O tempo fechou a porta. O tempo deu pra bater noutro lugar. Cadê meu amor o meu tempo, o seu tempo, o nosso tempo de ficar juntos? O tempo tomou rumo, nem olhou pra trás. E olha que a gente carregou esse tempo nos ombros como quem carrega um andor. Pensamos que o tempo era santo, mas até o tempo botou quebranto no nosso amor. O tempo se enciumou e nem acenou adeus. O tempo se zangou e se enfiou no breu. O tempo nem avisou apenas se levantou de nós e ganhou chão a sós.


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10/05/2015 - Cão abandonado

Numa curva da estrada, um cachorro negro de peito imponente e olhar doce, como que esperando o que não há de chegar. Plantado naquela dobra do caminho, às margens do asfalto, emoldurado pelo capim entre o verde e o dourado que tomba ao vento. Tem mostras de que tomou todo o relento da última noite numa separação advinda do açoite. Ainda há sentimento em seus olhos, uma vontade de voltar para casa, mas cachorro não tem mapa interior nem asa. Ainda bem lavado, de pelo domado, espera por seu dono com olhares caídos de sono doídos de abandono. Não é filho, tem porte. Vontade de levá-lo, mas não é comigo que ele quer ir. Mas quem partiu não só para o norte, mas a sorte de um amor canino não há de vir. Até quando aquele cachorro ficará naquela curva? Quanto de sol, quanto de chuva vai tomar? Até onde aquele olhar doce vai aguentar? Logo ganhará carrapichos, costelas à mostra, indícios da tua solidão. Será que um dia ainda sentirá o gosto tão habitual da ração? E o cachorro afetuoso se transformará em um cão desgostoso capaz de morder. Morder para tentar aliviar o teu sofrer. Será que quem o deixou não sabe que ele nunca o deixará? Quem não acredita que bicho ama é porque nunca viu um cachorro chorar. E daqueles olhos negros escorriam as lágrimas do desassossego. Lágrimas de quem só conhecia a terra do quintal três por três. O que será que ele fez desta vez? Comeu um vestido? Mastigou um sapato? Fez xixi no tapete da sala? Latiu pro gato? Abriu uma vala? Quem é que não erra? Se é que errou... Só fez as cachorrices de sempre que sempre lhe renderam afagos e risos muito em razão de seu latido gago. Não sabe uivar, caçar, atravessar a pista. Ele nem entende o que está passando pela sua vista. Plantado ali, no meio do nada, numa curva da estrada, como árvore replantada que ou não há de vingar ou há de se transformar no que era. ...
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30/04/2015 - Canta, canta, canta

Canta que as coisas vão melhorar. Canta e espanta o mau-humor pra lá. Canta sem se importar se desafina. Canta como se fosse pássaro, cigarra, sapo. Canta pelas esquinas, no chuveiro, no quarto. Canta na hora do parto. Canta pela terra, pela nuvem, pelo asfalto. Canta pelas curvas e até debaixo de chuva. Canta com a alma na garganta. Canta sua força tanta em cada nota. Canta e se agiganta. Canta para além das portas. Canta tirando os pés do chão, dançando nos braços da imaginação. Canta para aliviar o choro. Canta para tirar o mau-agouro. Canta para mudar os rumos. Canta para entrar no prumo. Canta para fazer tudo novo e diferente. Canta o que sente. Canta cada vez melhor o amor maior. Canta fazendo de sua cantoria sua via. Canta entre o silêncio e a pausa e (se) encanta. Canta, canta, canta maior o amor melhor.


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24/04/2015 - Coração adormecido

Passaram-se séculos até que o coração finalmente sossegou. Foram centenas de anos ainda em chamas, queimando um amor altamente inflamável. Sabia que seria assim, mas quisera apostar todas as suas fichas nesse romance que tinha tudo para dar errado. E deu, mas enquanto foi vivido foi tão intenso quão incrível. Aceitou entrar de corpo inteiro naquele fogo que consome tudo e todos mais e mais numa doação energética crescente. Como vulcão que cessa depois de séculos de erupções seguidas, o coração agora está adormecido. Finalmente pode encontrar a paz, mas apaixonados ainda preveem novas ebulições. Basta que certa boca ou que certos olhos o acordem. Até lá, eis o descanso dos injustos.


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19/04/2015 - Cavalheirismo

Eu nunca estive tão perto de ser tão longe. Vivo com os pés no chão e com a cabeça nas nuvens. Meu coração se entrega ao tempo e não acumula ferrugem. Tenho tantas palavras gritando, gemendo, sussurrando e se casando com o meu silêncio de monge. Não tenho medo da morte e mesmo nas horas mais complicadas me considero um homem de sorte, lançado à própria estrada. Não caibo em cova rasa, sou pássaro com nove pares de asa. Estou além do aquém. Sou nó cego e desatado também. Não sigo só, não mesmo. Vou a eito e a esmo. Sou fanfarra fazendo algazarra vencendo na marra toda e qualquer amarra. Sou distante sendo perto, sou gigante ainda feto. Meu teto são as constelações, meu corpo é feito de sótãos e porões. Sigo quebrando grilhões, desencantando solidões, venerando paixões. Sou o aço que se dobra para a flor num cavalheirismo sem pavor de pieguismo, pois no fim das contas, como bailarina que mesmo tonta se equilibra e roda em suas pontas, minha sina é o amor.


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