Daniel Campos

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12/06/2012 - Baden Powell

O nome Baden Powell é tão sonoro e complexo quão seu violão. O erudito e o popular se casam, de corpo e partitura, na mesma batida, sob sua regência. Uma batida forte, intensa, vibrante e, até mesmo, alucinante. Uma melodia cheia, de vanguarda e repleta de ancestralidade, perspectiva e saudade.

Baden é o próprio violão. Neste caso, homem e instrumento são inseparáveis. Almas gêmeas. Baden é metade violão e o violão é metade Baden. Não se sabe dizer onde começa um e termina o outro e quem nasceu de quem.

A carga de sentimentos, as experiências vividas, as crenças e os mistérios percorrem a carne e o pinho. O coração do menino carioca consagrado na França ecoa pelo interior do violão. As cordas de aço são, na verdade, veias e artérias, levando e trazendo música.

Baden é o concerto ambulante, o conjunto de possibilidades orquestrais, o toque da perfeição. Baden é único, digno de ser clonado, replicado, multiplicado. Os deuses poderiam entalhar Badens em série para o mundo ter mais graça e som.

Baden é o samba da benção, o samba triste, o samba em prelúdio. Baden é o canto de iemanjá, o canto de ossanha, o canto de xangô, o canto do caboclo das pedras pretas. Baden é berimbau, violão vadio. Baden é apelo, lamento e a felicidade. Baden é além do amor. Baden é a última forma. Baden é conversa de poeta.

Baden é a música com história. Baden é a técnica. Baden é o suingue. Baden é a brasilidade em clave de sol. Baden fez o prelúdio que Chopin se esqueceu de fazer. Baden é o encontro com Vinicius de Moraes, com Thelonious Monk, com Billy Blanco, com Stan Getz, com Ruy Guerra, com Paulo Cesar Pinheiro, com Michel Legrand, com Liza Minelli...

Baden, assim como seus violões, é feito a mão e sobmedida por alguma força musical superior. Baden é bossa-nova. Baden é choro. Baden é afrosamba. Baden é a queda das fronteiras entre o clássico e o popular. Baden é o Badeco, o Badinho... cantado por Elis Regina e Elizeth Cardoso.

Baden é a rearmonização dos pássaros. Baden é o improviso e o cálculo exato no mesmo palco. Baden é o êxtase. Baden é o aplauso que não cessa. Baden é a timidez inquieta. Baden é o som encorpado, os graves, médios e agudos encaixados e explorados ao máximo.

Baden é o que influencia e a quem se reverencia. Baden é o conjunto de acordes, de trastes, de pestanas. Baden traz o sentimento na ponta dos dedos. Baden é a tocada macia, arrojada, alada, afiada. Baden é mago, mágico, encanteiro. O que Baden toca vira música.


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