Daniel Campos

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Encontrados 200 textos. Exibindo página 18 de 20.

08/02/2010 - Mulher tropicália

Ah! Se seus olhos falassem a língua dos profetas anunciariam o sol que ninguém jamais viu raiar. Seus olhos são como rios que devido às águas correntes se mostram diferentes a cada novo olhar. Dos seus nervos ópticos ao seu corpo dos trópicos o tédio não existe, a rotina não insiste e o belo é tão belo que chega a ser triste.

Ah! Toma o meu peito porque ele é seu e do seu jeito me devora agora, boca e camafeu. Mulher serafim tem pena de mim deixando-me ser uma dessas seis asas que lhe fazem poema. Mostra-me suas garras, mata-me de amar e joga-me em cova rasa. Dona do paralelo mor e dos meridianos do ar me faça suar em seu suor. ...
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23/01/2010 - Mulher de havaianas

Deus, ò dá-me a mulher que passa de sandália havaiana, como uma sangue-azul suburbana. A mulher que sobe e desce ruas com os pés seminus, cobertos e ao mesmo tempo expostos por uma tira plástica. E mais: Na mulher andante os pés gritos angelicais, são órgãos sexuais, calçados por hormônios, mistérios e fantasias. Deus dos plebeus, ò dá-me a mulher que cruza e me cruza de havaianas.

A mulher passa de havaiana como onda do Havaí, tão cobiçada quão avassaladora. A borracha da sandália amortece as rajadas e as correntes elétricas produzidas pelo corpo da mulher que ignora regras e protocolos. Ó Deus coloca essa mulher em meu colo. Eu quero essa aristocrata que, na solidão de seu quarto, deixa de lado a coroa e anda como bem quer – simplesmente fêmea e incrivelmente mulher....
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22/12/2009 - Meu tempo é quando

Vinícius de Moraes costumava dizer de forma sintética: "meu tempo é quando". Com licença do poeta, vou aprofundar o tema, afinal, meu tempo é quando... Meu tempo é quando o amor vinga. Meu tempo é quando a solidão encontra seu par. Meu tempo é quando o prazer não se envergonha de dar e receber prazer. Meu tempo é quando a morte me esquece. Meu tempo é quando outro corpo me aquece. Meu tempo é quando o destino tece novo caminho e, sem qualquer carinho, o pisa. Meu tempo é quando a razão contemporiza. ...
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16/12/2009 - Mundão

Olha esse mundão passando em verso e reverso pelo estradão do universo. Vai passando, girando, rodando, trombando, caminhando entre estrelas e astros do cinema mudo. Charles Chaplin e outros Carlitos vão passando em olhares e gestos horrorizados por essa surdez globalizada chamada Terra. Ninguém escuta ninguém. A temporada de audições foi fechada. E o amor que era cego, agora surdo e mudo, não ouve conselhos, tampouco dialoga com ninguém. Apenas passa pelo vácuo de sentimentos.

De que adianta chorar por esse mundão se não há ninguém para ouvir o que as lágrimas têm a dizer? Do que vale ser feliz se o grito e qualquer manifestação de euforia estão fora de moda? O sonho não tem voz, o sonhador não tem coro para impulsioná-lo. Um silêncio autoritário infesta as ruas, toma os corações e amordaça as revoluções. Não adianta falar de amor se não se ouve o amor. Não adianta fazer amor se o amor está sendo desfeito por esse mundão....
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13/12/2009 - Mulher perturbadora

Difícil dormir tranqüilo sabendo que você está aqui. Aqui tão perto com esse seu jeito de olhar e ser olhada. Sua presença é perturbadora. Desejada, mas quase inconveniente. O fato de você estar aqui me faz perder o rumo das coisas. De tanto me preocupar com você, chego a ficar ausente de mim. Nada mais me importa senão você. Perco o apetite, divorcio-me do sono e das coisas rotineiras.

Tudo dentro e fora de mim sofre alteração com sua presença. Da respiração aos pensamentos nada mais é como antes de você chegar. Você me provoca catalisando o metabolismo das minhas energias. Você me apavora, devolve-me o medo dos tempos de criança. Aliás, perto de você meu mundo é infantil, recheado de brincadeiras e imaginação. Quando você chega, da minha alma às minhas vísceras tudo se desconstrói e rói....
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09/12/2009 - Movimento perturbador

Como é perturbador conviver com o sofrimento. O quão perturba ter as mãos atadas diante da dor alheia. Dor que não se sabe. Dor que não tem remédio. Dor que instiga e castiga na mesma proporção. Você quer ajudar e não pode. É impedido por uma série de limitações físicas, psicológicas e espirituais. E quanto maior a proximidade, maior a cumplicidade da dor. As lágrimas se multiplicam, passam a correr em outros rostos. Reza-se e, nesse processo, ganha-se ou se perde mais fé.

Quer conhecer um ser humano? Coloque uma doença em sua casa. Com a sutileza de uma gota a mais em um copo d’água, a rotina se rompe dando espaço à perturbação. Questionamentos sobre vida e morte são filmes em constante exibição em sua cabeça. Tenta-se fazer de um tudo, e o tudo quase sempre é nada. De esforço em esforço chega-se à exaustão, mas ainda é pouco. Doer diante de uma dor que habita outro corpo que não o seu é um sentimento indelicado, que, de fato, perturba....
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18/11/2009 - Marighella, o último dos heróis

Quanto tempo leva para nascer um herói oficialmente falando? A resposta para essa pergunta é relativa, já que isso depende, sobretudo, de vontade política e midiática. No caso de Carlos Marighella, esse processo demorou 40 anos.

Marighella era o líder da Ação Libertadora Nacional quando foi morto em uma emboscada no ano de 1969. Morto pela ditadura. E não há como contestar. A morte do inimigo nº 1 do regime militar foi reconhecida pela Comissão de Anistia do governo federal, em 1996, como responsabilidade do Estado. Morreu por acreditar no socialismo, na liberdade, na igualdade....
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09/10/2009 - Mercedes Sosa e Herta Müller

Poucos dias depois de perder Mercedes Sosa, o mundo ganhou Herta Müller. À primeira vista, não há nada que as associe. No entanto, caminharam sobre a mesma corda bamba, entre a arte e a política. Nas terras brasileiras o nome da cantora argentina sempre foi mais popular do que o da escritora alemã, nascida na Romênia. Mercedes já gravou com Chico Buarque, Milton Nascimento, Maria Bethania e com outros ícones da nossa música. Já Müller, tem somente uma obra lançada no Brasil. Um livro chamado "Compromisso"....
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28/07/2009 - Magyarország

Havia uma mola de 12cm e 800 gramas no meio do caminho de Felipe Massa, que caminhava ligeiro, a 280 quilômetros por hora, pelas planícies húngaras. A mola, ao contrário da pedra de Drummond, não estava parada, estática, tampouco petrificada no meio do caminho. Ela voava como um pássaro metalizado. O problema é que voava na direção contrária do piloto. O encontro, no script da fatalidade, era inevitável. Das pistas para um hospital militar na Hungria. Do circuito de Hungaroring para Budapeste. Do nervoso motor italiano para os potentes aparelhos da UTI....
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12/12/2008 - Missão Impossível

Embora soe como nome de filme de ação, o título deste texto indica a tarefa a ser cumprida pelo papai-noel em solo brasileiro. O Natal se aproxima e quem esperava alguns presentes especiais vai ficar a ver bonecos de neve. Por aqui, a taxa de juros continua alta e irredutível. O bom velhinho não conseguiu convencer a chefia do Banco Central a colocar mais lenha na lareira. E se o período natalino está morno, o que dizer do início de 2009 que já bate a nossa porta?

O preço dos combustíveis continua nas alturas. Será que o papai-noel não consegue transformar a alardeada auto-suficiência da Petrobrás e o tal do pré-sal em gasolina mais barata? Além disso, o senhor de vermelho poderia combater a dengue, as enchentes, a hantavirose e a corrupção. Isso sem falar nas taxas bancárias e da carga tributária que andam metendo a mão, sem dó, em nosso bolso. Se não for exigir demais, que ele faça cumprir as promessas dos politiqueiros nas áreas da saúde, educação, segurança... ...
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