Daniel Campos

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09/12/2009 - Movimento perturbador

Como é perturbador conviver com o sofrimento. O quão perturba ter as mãos atadas diante da dor alheia. Dor que não se sabe. Dor que não tem remédio. Dor que instiga e castiga na mesma proporção. Você quer ajudar e não pode. É impedido por uma série de limitações físicas, psicológicas e espirituais. E quanto maior a proximidade, maior a cumplicidade da dor. As lágrimas se multiplicam, passam a correr em outros rostos. Reza-se e, nesse processo, ganha-se ou se perde mais fé.

Quer conhecer um ser humano? Coloque uma doença em sua casa. Com a sutileza de uma gota a mais em um copo d’água, a rotina se rompe dando espaço à perturbação. Questionamentos sobre vida e morte são filmes em constante exibição em sua cabeça. Tenta-se fazer de um tudo, e o tudo quase sempre é nada. De esforço em esforço chega-se à exaustão, mas ainda é pouco. Doer diante de uma dor que habita outro corpo que não o seu é um sentimento indelicado, que, de fato, perturba.

Passam tantas besteiras pela cabeça. Força e fraqueza dão as mãos e cambaleiam pela estrada tortuosa. A cura se transforma em uma obsessão e em uma obra de ficção. Não se sabe mais no que acreditar. Difícil encontrar consolo e, pior que isso, consolar. O destino exige algumas provas de nós, seres ridículos, limitados ao fato de amar demais. Se não houvesse o amor não haveria sofrer, mas de que vale viver sem amar? É a perturbação que não permite a petrificação daquele músculo que pulsa em nosso peito.

É a partir da perturbação que somos gerados, nascemos, crescemos, nos desenvolvemos e morremos. Até mesmo a morte não é estática, mas dotada de um movimento que reflete em quem morre e em quem rodeia os mortos. Um movimento perturbador.


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