Daniel Campos

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Encontrados 362 textos. Exibindo página 36 de 37.

Coisas de torcedor

Hoje é domingo. E domingo de final de Copa do Mundo. Domingos assim só acontecem de quatro em quatro anos. E daí! Grande bobagem. Ainda mais quando o leitor sabe que o escritor aqui não é dos mais apaixonados por futebol. De fato, não sou a melhor pessoa para fazer análises sobre o jogo de hoje. Por isso, vou falar de você aí do outro lado.

Hoje o país (ou quase todo o país) é uma enorme massa verde-amarela. E no meio dessa massa, lá está o torcedor brasileiro. Um torcedor que não tem nome, não tem cor, não tem idade, não tem sexo, enfim, não tem nenhuma daquelas respostas computadas pelo Censo. É apenas mais um. E lá vou eu buscar um modelo clássico de torcedor. Por isso, não me importa os dados específicos acima. Busco um torcedor geral, ou melhor, genérico. E como o remédio genérico, o torcedor genérico só aparece em momentos estratégicos. ...
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Coleira

À primeira vista, um cachorro passa trazendo no final de sua corrente uma mulher. Podia ser um fila, um buldogue, um dálmata, mas era um bigle. Igual ao Snup dos desenhos. Só que não dormia em cima de sua casinha, não tinha um passarinho amarelo como amigo e nem andava iguais aos humanos. Vinha com um laço vermelho na orelha esquerda. Ops, então se corrige a primeira impressão. Uma cachorra passa trazendo no final de sua corrente uma mulher.

A mulher que era puxada pela cachorra não trazia lacinho algum em seus cabelos caramelados. Laka era o nome da cachorrinha que trazia a mulher sem nome. Saindo dos pisos, das calçadas, do asfalto, as duas chegavam a um terreno coberto de grama. Um campo de futebol com traves enferrujadas, sem linhas de cal, sem bola e sem jogadores. Ali, no final da tarde, apenas ela e laka. ...
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Conselhos de um boêmio

Não me lembro a data, só sei que era noite. Embriagava-me com uma garrafa de água mineral na mesa de um botequim. Foi então que entrou um sujeito meio fora de época, da época que o mundo nos impõe. Um homem dos anos vinte, magro, de paletó claro e de chapéu de pano. Caminhava e levava consigo olhares indiscretos.

Sem mais cumprimentos senta-se ao meu lado, repousa o chapéu sobre a mesa, acende um cigarro e enquanto espalha a fumaça pelo ar... - "Sei o que lhe acontece, o que tenta entender, o que lhe tira o sono e lhe traz o drama, sei às mulheres impossíveis". O homem tinha algo de sábio, de feiticeiro, de profeta, de sei lá o que. Voltando-se para o copo vazio, - "Sou apenas um boêmio que já viveu o bastante para entender essas criaturas que se confundem com o amor, posso lhe afirmar que entender a vida é mais fácil do que compreendê-las". ...
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Conspiração Tamburello - Apresentação

Apresentação

Onde você estava no dia 1º de maio de 1994? O que você fazia nesta data, mais precisamente entre as 9h12 e 9h13, horário de Brasília? Você tem algum álibi para comprovar o que diz? Caso não tenha, é suspeito de um dos principais crimes da história - a morte de Ayrton Senna. Desculpe o tom de acusação, mas este é o clima do livro. A mistura de um romance policial com uma narração poética da realidade tempera a história da morte de um dos maiores pilotos da F1 e as histórias que a envolvem. Na condição de afluentes, muitos personagens e fatos, à primeira vista secundários, deságuam na história oficial, mudando seu curso, sua forma, sua vazão....
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Conspiração Tamburello - Introdução

Introdução

A causa exata do acidente fatal de Ayrton Senna no Grande Prêmio de San Marino, no dia 1º de maio de 1994, talvez jamais seja conhecida. Talvez por não ser apenas uma, mas várias as causas que o vitimaram. Talvez ainda pela sua morte não ter partido de um acidente, mas de um crime que uniu o céu, a terra e o inferno em uma grande conspiração. Por quinze anos a conspiração Tamburello ficou escondida. Agora, esta prestes a ser revelada.

Você acredita em conspiração? Segundo o dicionário, conspiração é uma trama, um conluio, um concurso de causas ou circunstâncias. Conspirar vem do latim conspirare, que significa literalmente trabalhar coletivamente para obter um fim. Na prática, um grupo de pessoas ou de organizações manipula um evento ou vários eventos para obter um determinado resultado. Desde os primórdios da história, há conspiração. Para confirmá-la é necessário que haja uma teoria supondo que um grupo de conspiradores está envolvido em um plano e suprimiu a maior parte das provas, até mesmo seu envolvimento nele....
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Conspiração Tamburello - prefácio

Prefácio de um menino

Entre o consciente e o inconsciente, uma Lótus preta, com letras douradas escrevendo John Player Special, revira-se como um registro primitivo em minha mente, em meu corpo, em minha alma. Vez ou outra, quando os olhos se vão longe, meus pensamentos correm a bordo dessa máquina, que aparece e desaparece riscada pela velocidade. Entre esses riscos quase abstratos, um capacete amarelo rouba a cena. Idos de 1985, 1986. Na época eu não entendia muita coisa, mas gostava daquele mundo. Algo me fascinava, me atraia, me seduzia. Dentro da família, causava espanto um garoto de tão pouca idade permanecer por duas horas com os olhos grudados em frente à tela da televisão vendo carros dando voltas e mais voltas sem chegar a lugar algum. Ao contrário de ter um time de futebol, eu tinha um piloto de F1....
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Contagem

Quanto tempo ainda nos resta sem que tenhamos de olhar para trás? Quanto tempo ainda nos resta antes das nossas procuras serem em vão? Quanto tempo ainda nos resta antes que do encontro nasça o desencontro? Quanto tempo ainda nos resta sem que o silêncio precise falar por nós? Quanto tempo ainda nos resta antes da separação nos rondar? Quanto tempo ainda nos resta para ocuparmos os papéis de protagonistas da mesma história? Quanto tempo ainda nos resta sem que tenhamos de fazer maiores apelos? Quanto tempo ainda nos resta para inventarmos gestos secretos? ...
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Contagem regressiva

Era Maria. Maria de tantas Marias. Marias de tantas crendices. Marias de tantas tolices. Tinha seus vinte e tantos anos e outros tantos planos e outros ainda tantos enganos. Mas Maria tinha lá suas paixões que não eram outras, eram únicas. Embora, mesmo únicas, suas paixões tinham um gosto de outras.

Paixões? Um noivo que já a enrolava há oito anos, um cachorro que ela chamava de bola e uma ligação fantástica com a seleção brasileira. Sonhava com o dia da final da Copa do Mundo e quando esse dia chegava, o sonho se transformava em seu pior pesadelo, quase um câncer selvagem. Maria pendurava a bandeira brasileira na sacada do seu apartamento. Cobria bem umas três janelas de uns vizinhos não muito simpáticos. Vestia uma de suas tantas camisetas da seleção brasileira. Às vezes vestia uma por cima da outra. Elas se enfileiravam como pedras de dominó nos cabides do guarda-roupa, que tinha as portas tomadas por dezenas de fotos de seus ídolos. E como ela suspirava por aqueles homens que levavam o Brasil em suas pernas tortas....
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Corredores da morte

De repente a dor. Uma dor que não é uma dor qualquer. Não queria maiores alarmes. Quem sabe se permanecesse quieto. A cama. Um repouso nada prazeroso. E como pressentia, ela continua. Os segundos se dilatam, alongam-se ao máximo, quase explodem. A circunferência do relógio parece dobrar, triplicar de tamanho. O tempo passa lento demais diante da vontade de ver tudo acabado, de se achar depois da dor. Quem sabe um remédio daqueles que não se precisa de receita médica. Não! Chega de tentar se iludir....
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Crime passional

Quase três da tarde. O sol, de vergonha ou de raiva, é uma vermelhidão só. O tempo demora a passar. Ela, sozinha, deitada sobre o lençol listrado de uma cama de casal. As listras corriam paralelas como as barras da penitenciária mais próxima. Seus olhos falsamente estáticos, feito dirigível. Ah! Olhos de dirigível. O telefone a menos de dois toques do alcance de suas mãos. E ele insistia em ficar calado. Ela não liga a televisão, talvez não gostasse dos programas da tarde de sábado... filmes, calouros, auditórios... Pudera, ela era a única pessoa da platéia que assistia o sono profundo daquele telefone. ...
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