Daniel Campos

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Encontrados 362 textos. Exibindo página 18 de 37.

26/08/2011 - Consagro a ti

Consagro a ti meus sonhos mais distantes e meus pesadelos mais próximos. Consagro a ti a flor das minhas revelações. Consagro a ti o elo perdido, ou proibido, que liga o corpo ao espírito de quem ama. Consagro a ti o pecado e o santo que há em mim. Consagro a ti meus telefonemas, meus dilemas, meus poemas. Consagro a ti minha esperança e minha espera. Consagro a ti minhas retas, minhas curvas, minhas esferas. Consagro a ti meu sertão e meus oceanos. Consagro a ti meu 367º dia, minha quinta fase da lua, meu décimo terceiro apóstolo. ...
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11/08/2011 - Claros Montes Claros

Claros Montes os olhos teus tão transparentes quão inocentes diante dos meus. Montes Claros de um azul além-tejo, de um sol sertanejo, de um coração lugarejo, de um beijo, de um lampejo, de um desejo... Claros Montes, ilhas sem mar, pedras de luas caídas ou fêmeas mastodontes erguidas ao fundo das ruas. Montes Claros dos cavaleiros, dos doceiros, dos cancioneiros de Minas. Minas das meninas dos Claros Montes, que apontam como seios perdidos no horizonte.

Montes Claros... Será que é lá naquelas corcovas que mora Nossa Senhora do Amparo ou Nosso Senhor das Trovas? Montes Claros dos faros dos capitães do mato que caçam pães de queijo, pães de goiabada, pães de Romeu, pães de Julieta... Montes Claros do suor escorrendo como chuvisco de sal pelos trens do seu corpo inconsciente. Sentimentos torrentes desaguando em seu corpo monteclarense feito cheia de São Francisco. Montes Claros, candelária das Gerais, que fica de namorisco com Januária. ...
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04/08/2011 - Capítulo 67

E eis que um ano se passa. Um ano sem notícias de Jhaver. Um ano. Para os humanos, muito. Para os espíritos, nada. Um ano. Tempo suficiente para descobrir um novo deus, para pegar outra estrada, para derrubar uma verdade, para nascer, para morrer, para renascer...

Tempo para enlouquecer. A mãe de Sebastian perde o pouco que lhe restava de lucidez. Surta. Passa a viver em uma clínica repetindo variações de uma ladainha sem fim:

- Meu filho não é meu filho. Meu filho é filho do castigador. Meu filho é o castigador. Eles têm o mesmo sangue, a mesma sina, o mesmo ímpeto em castigar. Meu filho castiga. Meu filho é o castigo. O castigo em pessoa. É isso o que ele é, o castigo, o castigo e o castigo....
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23/07/2011 - Chatura

Não, não me pegue pela mão. Não, não desmanche a ilusão. Não, não perturbe meu coração. Não, não cutuque o leão. Não, não eu não tenho porão. Não, não me pode a imaginação. Não, não provoque a solidão. Não, não sufoque a minha respiração. Não, não mude o tom do seu batom.

Não, não me diga não. Não, não perca a condução. Não, não amole o sacristão. Não, não me rode feito pião. Não, não me leve de encontro ao chão. Não, não me espere no portão. Não, não se esqueça da nossa canção. Não, não vá para os lados da arrebentação. Não, não me tire o som do acordeom. ...
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18/07/2011 - Chama o Chico que ele resolve

Faltou drible. Falou precisão de flecha e folha seca. Faltou delicadeza. Falou magia. Faltou coração. Faltou leveza. Faltou personalidade. Faltou sentimento. Faltou mistério. Faltou majestade. Faltou ilusão. Faltou chama. Faltou ineditismo. Faltou fôlego. Faltou beleza. Faltou romance. Faltou a finta. Faltou ginga. Faltou ritmo. Faltou arte.

Para as crônicas de Nelson Rodrigues, faltou quem pudesse superar nosso complexo de vira-latas. Para os textos de Armando Nogueira, faltou quem tivesse nascido bola. Para Fiori Gilliot, faltou quem lhe tirasse um grito de gol. Para as marcações de Telê Santana, faltou quem concretizasse que somos melhores e desse espetáculo. ...
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16/07/2011 - Coração de vento

Ela não quer nada com nada da vida, apenas um pouco de ar. Um gole de ar, um trago de ar, uma gota de ar, um signo de ar, um beijo de ar, uma flor de ar. E tudo isso só porque lhe faltava o ar. O ar que dá sustentação à lua, o ar que abraça o vôo do pássaro, o ar dos balões de gás que andam nas mãos das crianças que gargalhavam se engasgando com ar. Quer sempre e para sempre todas as janelas abertas para que pudesse respirar plenamente pelo nariz, pela boca, pela pele...

Ela tem pânico de morrer sufocada, trancada numa masmorra sem ar. É claustrofóbica de nascença, tanto que veio à luz aos seis meses de gestação. Até hoje sofre com pesadelos se vendo num útero apertado ou na incubadora que lhe aprisionou por semanas numa UTI neonatal. Não usa roupas apertadas, cintos ou gargantilhas, tampouco se sente bem com os apertos financeiros no final do mês. Seus sapatos são sempre folgados fazendo-a caminhar de um jeito nada delicado. ...
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09/07/2011 - Cardápio aéreo

Andam dizendo por aí que os aeroportos brasileiros se transformaram em grandes rodoviárias em razão do número e da diversidade de freqüentadores. É uma pena que os responsáveis pela parte gourmet das companhias aéreas ainda não adotaram esse pensamento. Ao contrário de barrinhas de cereais, bolachinhas e sucos diet, as comissárias deveriam servir sanduíche de mortadela, torresminho, frango a passarinho e suco de groselha ou uma boa limonada.

Não há motivo para reclamações, pois as refeições seriam atrativas tanto para o bolso dos empresários quanto para o estômago dos clientes. É preciso mudar o conceito de alimentação aérea uma vez que não é só a elite saudável que viaja de avião. Como complemento, dever-se-ia servir fatias de melancia ou rodas de abacaxi. Tudo muito nutritivo. Já imaginou a sensação de paraíso ao comer uma fritada de sardinha sobre as nuvens. Coisa dos deuses. ...
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07/07/2011 - Cinco ou mais sentidos

Eu quero sentir o perfume de um limão galego, ver as roupas quarando no quintal, ouvir um canário da terra conversando com um canário do reino, saborear um sorvete macio, falar com um cupido na linguagem do arco e flecha, tocar a flor da pele de uma flor...

Eu quero cheirar o cangote da lua cheia, enxergar o que há por trás dos olhos de uma mulher, escutar o que diz um criado mudo, mordiscar a boca da noite, dialogar com quem já se foi, deslizar as mãos sobre as costas oceânicas da criatura atlântica......
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20/06/2011 - Concentração... ação!

Viva aqui e agora. Concentre-se. Veja lá o que vai dizer. Comporte-se. Fazer ou deixar de fazer? Esqueça o passado. Rompa com o presente. Abocanhe o futuro como se ele fosse uma fruta madura. Fleche o destino, flerte com o tempo, acerte na dosagem do sentimento. Livre-se das almas penadas, das palavras charlatãs. Renasça a cada manhã. Torne-se fã de carteirinha dos seus altos e baixos. Sorria mais e franza a testa menos. Ocupe-se, não se preocupe. Fixe o olhar exatamente naquilo que você quer capturar. Borboleteie pelo clarão, serpenteie pelo chão. ...
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08/06/2011 - Cansei de você

Não quero mais escutar a sua voz. Não me ligue. Não me provoque. Deixe-me a sós. A sós com meus pensamentos, com minha família, com meu próprio tempo. Diga-me adeus. Finja, por favor, que me esqueceu. Não suporto mais essa conversa fiada. Não quero nada de você, apenas seguir minha estrada. Não sou sua propriedade, não invada minha privacidade e não ouse jamais falar em saudade. Se a distância existe é porque bem mereceu. Ninguém sente falta do que nunca foi seu.

Não me venha com seus ais, pois para mim você não existe mais. É apenas uma relação de obrigação. Estou farto do seu jogo, da sua manipulação, das suas mentiras. Deixe-me em paz para que eu possa prosseguir com minha lira. As mágoas não passam e, as feridas não fecham e as palavras não se apagam. Você não manda em mim, você não me comanda enfim, você não me diz não nem sim. Se pudesse, esmagava suas lembranças com meu coturno e pegava o próximo ônibus para saturno. ...
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