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Encontrados 362 textos. Exibindo página 20 de 37.
18/03/2011 -
Capítulo 65
A cena de dona Valentina e Malena de mãos dadas no sofá do hospital é forte por si só. Embora possa assustar por sua intensidade, inspira segurança e conforto. Elas mantêm os olhos fechados e as mãos entrelaçadas. Dali mesmo as duas enviam fluidos para a sala de parto. Sebastian toma um café na cantina da maternidade enquanto procura se concentrar e rezar. Ao contrário de outros tempos não foca sua reza em Miguel.
Eleva preces para espíritos iluminados. Busca contato com Jhaver e outros seres de luz que conheceu. Mas a inquietude que o perturba nas últimas semanas quebra seus pensamentos. Micaela está na sala de parto há mais de duas horas. Desde o início das contrações ao rompimento da bolsa nada fugiu ao normal. Todos estavam em casa, afinal, era fim de madrugada. A maleta com as coisas necessárias para o hospital já estava devidamente pronta. ...
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23/02/2011 -
Capítulo 64
O dia amanhece rodando em torno de um só assunto: Jhaver. Pelas ruas de Buenos Aires, pelos lares da Argentina, pelos bares do mundo a questão é uma só: será que ele existe mesmo?
Já não importa mais se Sebastian é culpado ou inocente, o que se quer saber é como ficará o planeta depois da aparição pública de um espírito que se diz um ex-castigador. Serão as religiões mentirosas e o modo de vida em curso uma grande afronta aos planos divinos?
Agora não é só um acusado de assassinato quem leva a existência de Jhaver a uma sociedade conservadora, que insiste em acreditar que estamos sozinhos no universo e que não há castigos por parte do todo poderoso. ...
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18/02/2011 -
Capítulo 63
Em meio ao grande alvoroço criado em razão de sua presença, Jhaver emana vibrações de tranqüilidade e um a um todos vão se calando para ouvir o que ele tem a dizer. Isto é, quase todos. Fazendo uso de culpas e desculpas, o promotor exige que o juiz acabe com aquilo que julga ser um teatro barato.
Do alto de sua cadeira, o meritíssimo acena que irá acatar o pedido, mas antes de concretizar seu pensamento há uma sucessão de fenômenos que nem ele nem ninguém conseguem entender ou explicar. ...
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16/02/2011 -
Cidade solidão
A solidão é um sentimento negativo por natureza e em permanente construção. Não só pelos acessos em péssimo estado de conservação, pela sensação de noite eterna, pelas paisagens de uma guerra civil e pelas falas decadentes da época em que se flertou com a felicidade, mas também por toda uma tentativa de reerguer-se depois da separação. Separação de algo, de alguém ou, até mesmo, de si próprio. Quem nunca foi obrigado a se separar de sonhos ou projetos?
A solidão é um campo espesso, infinito e ao mesmo tempo claustrofóbico. Tem tonalidades sombrias e temperaturas frias. É o último lugar que se escolheria num roteiro turístico. Ali, em solidão, a vida é falha e pouco convidativa, melhor dizendo, é uma vida degenerativa. Solitários são como ilhas navegando no meio do oceano da multidão. Ilhas que não se comunicam, tampouco interagem com o ambiente. Apenas flutuam no vazio, exterior ou interior. ...
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14/02/2011 -
Capítulo 62
O julgamento prossegue com contornos de ansiedade, tensão e cansaço. Outra depoente que vem à tribuna acusar Sebastian é Tita, a empregada da casa, que começa falando muito rápido, dizendo que o réu era um patrão muito ruim, que a achincalhava e seduzia ao mesmo tempo. Queria que ela se entregasse para ele como se isso fizesse parte de seu serviço. Diz que a ameaçava mandar embora caso recusasse a atender prontamente suas ordens. Com lágrimas e fotos de família nas mãos, justifica que demorou tanto para denunciar porque precisa do salário para sustentar um irmão doente....
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13/02/2011 -
Canção de Peão
Quem vem lá, quem vem de lá? É o peão que não tem medo da morte desafiando a vida montado no cavalo do norte. Peão que tem porte de homem e alma de menino, chapéu rústico e trato fino. Veste linho e troca o vinho pela cachaça. Nunca se perde e acha até agulha no palheiro. Homem do campo, planta sua vida no terreiro em pés de peão estradeiro, peão campeiro, peão ilusão, peão coração, peão violeiro, peão boiadeiro.
Quem vem lá, quem vem de lá? É o peão pé de valsa, que calça botina e roda a cabeça das meninas. Peão do zóio verde que tem sede de olhar o que é bonito. Peão que gosta de ser visto sempre alinhado e tocando o próprio destino. Peão que tem no peito um berrante, pulsando e chamando sua boiada para perto de si, batendo e cantando pela estrada feito peão bem-te-vi....
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08/02/2011 -
Cidade do Samba em chamas
De repente, as lágrimas de Pierrô lavaram a avenida antes mesmo da chegada oficial do carnaval. Sem ser convidado para a festa, o fogo chegou e queimou plumas e lantejoulas. O sapato da passista virou cinza e nem era quarta-feira. Queimaram-se tudo, da saia rodada da baiana ao estandarte da porta bandeira. Amores de carnaval, extremamente inflamáveis e guardados a sete chaves nos barracões, alimentaram o incêndio. Agora, chora a mulata o próprio destino chamando a vida de ingrata.
De algumas escolas não restou nada. Carros alegóricos foram devastados. Pandeiros e tamborins se calaram. O puxador de samba gritou para os céus mandarem chuva. Mas os deuses estavam sambando em outro terreiro. Sem máscaras os rostos ficaram expostos atravessando o enredo. Não há mais o que esconder, acabou o segredo de qualquer apresentação. A velha guarda chorou de corpo presente. Os sambistas do amanhã choraram pelo hoje. A bateria fez uma paradinha e até agora não voltou. ...
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01/02/2011 -
Cartas para Julieta
Julieta, como uma dessas santas de altar ou tal qual atriz de novela das oito, recebe cartas e mais cartas diariamente. A mocinha que enfrentou tudo e todos por conta de um grande amor foi transformada ao longo dos séculos em uma espécie de referência feminina para assuntos do coração. Transformou-se em esperança, em milagreira, em oráculo. Cartas de vários tamanhos e línguas são deixadas todos os dias por entre as pedras da parede que sustenta o mais famoso balcão da história. O balcão de Julieta e dos amores impossíveis. ...
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26/01/2011 -
Clonar ou não clonar?
O clone humano só valeria à pena se os cientistas por meio das teclas de piano fizessem nascer um novo tom, maestro Jobim. Se com o DNA asfáltico do autódromo Interlagos, mais precisamente do S do Senna, acelerassem um novo Ayrton. Se de um copo de uísque trouxessem novamente ao mundo, com a benção dos orixás, Vinicius de Moraes. Se com uma pimentinha reavivassem por mais uma vez o canto de Elis Regina.
Os médicos poderiam pegar palavras, em genes de versos e prosas, e fazer novos nerudas, drummonds, pessoas, guimarães. Poderiam apanhar rosas que não falam e florescer outros cartolas. Poderiam isolar células de solidariedade e dar à luz a betinhos, uma série deles. Poderiam juntar marios e lagos e reproduzir Mario Lago. Poderiam fazer uso da mais pura matéria teatral palco afora e dar um bis de Paulo Autran, Raul Cortez, Paulo Gracindo......
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11/01/2011 -
Chilihead
Cambuci, tabasco, pimenta-de-cheiro, jalapeño, dedo-de-moça, malagueta, pimenta-de-bode, chora-menino, red savina, biquinho, cumari...
A mulher amada é como pimenta. Quanto mais quente, mais suspiros e gemidos causa. Se fizer chorar então, é perfeita. Se arder, com a licença de Camões, será amor em fogo, aquele que arde sem se ver. Sem pudores ou hipocrisias, a mulher amada deve provocar suadouros e desmaios nos corpos alheios. Deve ser forte e queimar por inteira. Sua pungência deve ultrapassar os limites da escala Scoville. Em contato com a língua, há de causar lágrimas e fortes emoções. A mulher deve incendiar a boca e viciar a criatura amada. ...
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