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Encontrados 362 textos. Exibindo página 17 de 37.
05/12/2011 -
Conquistado mais
Eu devia ter conquistado mais. Mais espaço. Mais micros e macros espaços. E também mais tempo. Mais tempo psicológico, sobretudo, pois o tempo físico é limitador por natureza. Eu devia ter conquistado mais lembranças, posto que são as lembranças que movem o homem. Ah! Conquistado mais sorrisos e prantos alheios. Um castelo se faz com fiadas alternadas de alegrias e tristezas. Se eu tivesse conquistado mais perdões não estaria mendigando clemência.
Mais e mais de tudo um pouco é o que eu devia ter conquistado ao longo desses anos de guerra. Mais e mais canções. Mais e mais lirismo. Mais e mais sementes. Mais e mais partos. Mais e mais paisagens. Mais e mais comida. Mais e mais prazer. Mais e mais ânimo. Mais e mais paredes. Mais e mais olhares. Mais e mais passos. Mais e mais bocas. Mais e mais luas. Mais e mais encantarias. Mais e mais detalhes. Mais e mais vidas e sobrevidas. ...
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23/11/2011 -
Constatações
E se não fosse mais seria menos e se não fosse ontem seria agora e se não fosse último seria começo e se não fosse pecado seria santo e se não fosse a fome seria a sede e se não fosse o ciúme seria a saudade e se não fosse o tédio seria o estresse e se não fosse o gato seria o cachorro e se não fosse o parto seria o adeus e se não fosse o céu seria o mar e se não fosse o herói seria o bandido e se não fosse a esperança seria a tragédia e se não fosse a casa seria o ninho e se não fosse a semente não existiria o fruto. ...
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21/11/2011 -
Conversando com deus
Piedade, grande deus, tenha piedade dos que sentem saudade, dos que caminham sofrendo as intempéries do coração pelas ruas da cidade e dos que acreditam na pureza do frade. Misericórdia, grande deus, tenha misericórdia dos que não ainda não alcançaram o estado de concórdia e vivem em discórdia com seus pares. Clemência, grande deus, clemência dos que procuram de olhos acesos a inocência de um amor, dos que se deixam levar pela malemolência da dor, dos que excomungam a indecência da vida como se deus também não tivesse criado o pecado. ...
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17/11/2011 -
Caótico
Tudo errado, trocado, virado pelo avesso. O futuro começando antes do passado, a separação se antecipando ao casório e a morte chorando no berçário. Será que ainda compensa parir mais um sonho nesse mundo tão arredio? Pra que lado corre o rio? Que dia eu tenho e que dia nós teremos para nos dar? As perguntas batem contra meu rosto como um vento forte tentando me empurrar para trás da linha da ilusão. Chovem canivetes, giletes, pivetes ferindo, rasgando, roubando as nossas vidas. Não consigo romper a barreira que me separa do sonho que sonhei pra mim, que sonhamos para nós. Tanta paixão resumida a pó... ...
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08/11/2011 -
Como morremos nós...
A fumaça do café, o perfume da macadâmia e o yin e o yang de um incenso morrem como morremos nós. O broto que rasga o solo, o vermelho do sol e a canção do seresteiro morrem como morremos nós. Os casais de namorados, a maciez dos lençóis e a delicadeza das palavras morrem como morremos nós. A penumbra de um ambiente a sós, os nós de marinheiro e as linhas do destino morrem como morremos nós. O desejo mais vívido, a esperança mais inútil e o sentimento mais sórdido morrem como morremos nós.
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29/10/2011 -
Cem anos de Nelson Cavaquinho
Cem anos daquele que viu os barracos como castelos. Cem anos daquele que nunca viu uma criança nascer sorrindo. Cem anos daquele que pisava em folhas secas. Cem anos daquele que em seu jardim só colheu saudade. Cem anos daquele que percorreu os degraus da vida. Cem anos daquele que atrasava o relógio para enganar a morte. Cem anos daquele que queria roubar as gotas de luar dos olhos da criatura amada. Cem anos daquele cuja voz rouca ainda arranha nossos ouvidos.
Cem anos daquele rei vadio. Cem anos daquele que descobriu que nem todos são amigos. Cem anos daquele que sabia que um palhaço chorava por alguém que não o amava. Cem anos daquele soldado do samba. Cem anos daquele que nos contou como é o pranto de um poeta. Cem anos daquele que não queria vingança. Cem anos daquele que descobriu outra afinação e outro jeito de tocar violão. Cem anos do parceiro de bambas como Cartola, de Guilherme de Brito, de Zé Keti. Cem anos do boêmio que passou quatro noites sem comer ou dormir, apenas bebendo. ...
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23/10/2011 -
Chama Clementina, chama
Chama, chama pela senhora do samba, chama. Chama por Clementina, colombina negra. Chama por Clementina de Jesus, de Oxalá, de Iemanjá. Chama pela velha baiana, sambista da gema, saravá!
Chama, chama pela voz rouca do morro, chama. Chama por Clementina, lágrima e serpentina. Chama por Clementina de Jesus, de Iansã, de Nanã. Chama pelo balançado da noite, pelo gingado da manhã.
Chama, chama pelo canto de trovão, chama. Chama por Clementina, mãe miudinha. Chama por Clementina de Jesus, de Oxum, de Ogum. Chama no atabaque, na cuíca, no zumzumzum....
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09/10/2011 -
Chuva fêmea
Minhas pernas em suas tabernas, eu bêbado de chuva e dançarino de estrelas. Ah! Ora pisava na ponta de uma das três marias ora caia nos domínios da ursa menor. Eu me pendurava ao vento, como se fosse uma peça de roupa somente, para logo perder a respiração numa tromba-d’água. Caia na lama, sujava a cama, trovejava em seus relâmpagos. Meu corpo ficava pesado e, ao mesmo tempo leve, cheirando a mato molhado.
E então veio o desejo de velejar pela chuva que escorria em sua pele, úmida e quente, em feitio de uma correnteza bravia. E o medo me seduzia e me enlouquecia e me convencia a ir mais longe. E tão logo me assumia náufrago me via capitão de seus afagos. Eu me sentia menino e ao mesmo tempo um velho lobo do mar. Queria valsar pelas ondas prendendo-a em meus braços ao longo de mil nós de marinheiro. ...
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17/09/2011 -
Conan
No mundo das histórias em quadrinhos fui Tio Patinhas, fui Asterix, fui Conan. Além dos discos e dos livros, meu pai me emprestou seus gibis. As histórias do bárbaro da Ciméria sempre me seduziram. Uma literatura de fantasia que me conduzia pelos territórios da imaginação. Eram contos de espada e de feitiçaria, de violência e de poesia. Poesia heróica, construída entre o humano e o divino. Uma lenda com sangue correndo em suas veias. Página a página, naquele preto e branco, meus olhos se enchiam de magos, de demônios e de outras criaturas perdidas no tempo e em civilizações caídas no esquecimento. Pela coleção de quadrinhos de meu pai, fui me confrontando com a realidade que me açoitava. ...
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10/09/2011 -
Consulta à telefonista
Alô! Telefonista? Por favor, me ligue com a bruxa disponível, com o mago em atividade, com a feiticeira mais próxima. Ah?! Eu quero falar com alguém do setor de magia. Não! Não serve cartomante, vidente, cigana, babalorixá. Se preferível, quero ser atendido por algum descendente dos celtas. Preciso falar com alguém que entenda de magia branca, magia negra, magia azul. Pode ser do hemisfério norte ou do círculo sul...
Não, não telefonista, não me importa se ela for velha, nariguda e encarquilhada e gargalhe assustadoramente durante o telefonema. Também não me preocupo com o preço. A necessidade me obriga a queimar todas as minhas reservas. Pode fazer um interurbano para alguma vassoura em pleno vôo, para o mais sombrio dos pântanos ou para um castelo europeu. Rápido. Não tenho muito tempo. ...
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