Daniel Campos

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12/03/2011 - Bocejos lunares

Boceja a lua recostada no pé direito de uma casa de esquina. Tem desejos de mulher e olhar de menina aquela criatura curvilínea, redondamente atraente. Não tem medo de descer do céu para amar no meio da rua, feito o casal de namorados que beija com sabor de pipoca. Tomou coragem e tatuou um livro inteiro de Garcia Marques em uma de suas crateras e se pôs a espera de alguém que pedisse sua mão (e um pouco mais) para São Jorge.

Como queria deitar numa cama e ser acordada só na noite seguinte não importando se estrelas ou cometas questionassem sua ausência longa e súbita. Fria como a brisa que caminha pela madrugada queria se embrulhar em lençóis, beber uma bebida quente e dormir de conchinha. Queria ser chamada de “minha” no meio de um eclipse. Queria dançar com meteoritos de carne em passos de elipse.

Queria tantas coisas e não tinha quase nada. Tinha um lugar cativo no horizonte, um ciclo de metamorfoses e suspiros dos poetas apaixonados. E isso é pouco para uma lua entediada por sua existência ser marcada por bilhões de anos, nascendo e morrendo diariamente. A lua quer fazer outro uso de sua luz cinérea, quer levar a terra à lunação, quer revelar seu lado oculto, mas, por enquanto, seus desejos se perdem em bocejos.


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