Daniel Campos

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09/06/2011 - Boca florida

Quando eu toco em sua boca sinto camadas e camadas de flores compondo seus lábios. Sinto, entre um beijo e outro, as pétalas, as folhas, o pólen, as abelhas, os espinhos, as cores, o sereno, a renda. Sinto margaridas bem pequenas, alfazemas cheirosas, azaléias ensolaradas e damas da noite mescladas de lilás. Sinto flores feitas à mão por um anjo artesão. Algumas espécies se alastram por seu sorriso, outras se encolhem num canto da boca. Flores que murcham ao serem atingidas pelos cristais de sal das lagrimas que, vez ou outra, derrama mesmo sem querer.

Ao beijá-la esparramo essas flores como um vento num jardim de outono. Essas suas flores são como páginas de livros, misteriosas e surpreendentes. Flores que chegam a dançar em seus movimentos. O balé dos beijos seus. Flores que mancham meu corpo, os lençóis e as toalhas de banho. Beijo apimentado, flores de dendê. Beijo delicado, flores de crochê. Flores românticas, de um lirismo dobrado. Por meio de um beijo, passa-me sementes e mudas dessas flores que se desmancham na boca como açúcar. Flores que explodem e lambuzam feito mel.

Flores que me atiçam e me fazem relaxar, flores de feitiços e rituais, flores de viços e seivas. Beijos silenciosos, flores aos gritos. Leva em sua boca, mulher, flores mexicanas, de sangue latino e semeaduras passionais. Flores de luz, de nuvem, de crepom. Flores frágeis, fortes, carnívoras. Flores de beijos irreverentes, inocentes, poentes. Beijos de flores desabrochando, brotando se despetalando. Flores em beijos. Beijos floridos mesmo em tempos de inverno.


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