Daniel Campos

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Encontrados 372 textos. Exibindo página 9 de 38.

25/07/2011 - A moça da televisão

A moça da televisão faz cena, não faz almoço, não rói pescoço, não limpa o chão. Ela só quer saber de nada fazer, de muito querer, de todo poder. Ela é dondoca, passa no cinema e nem come pipoca. Vive de dieta, mas não recusa cachê para beber coca. Ela vai às compras e não carrega sacola, pisa no mendigo e não dá esmola. Ela não gosta de futebol, mas pro jogador do momento ela dá bola.

A moça da televisão ora está namorando ora ficando ora casando ora separando, num vai e vem do coração. Ela não sabe o que quer, na verdade abusa da sua natureza de mulher. Não planta uma semente sequer, mas gosta de receber flores. Não gosta de sofrer, mas adora encenar uma mocinha às voltas com suas dores. Só admite fotos do seu perfil direito, mas pra certa revista se mostrou de todo jeito. ...
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27/04/2012 - A moça que perdeu as asas

Os olhos da moça se aninharam em pranto. O dia sequer havia amanhecido quando o espanto calou qualquer esboço de canto. Gaiolas, alpiste, poleiros e penas coloridas espalhadas pelo chão. Aquelas criaturas pequenas em tamanho e gigantes na magia que enchiam aquela moça de sonhos e desejos alados acabaram nas garras de um desses gatos da noite que não tem nome completo ou endereço fixo.

Não eram pássaros quaisquer. Tratava-se de um casal de agapornis, as aves do amor. Pássaros fiéis, amantes leais, que viviam eternamente apaixonados na fantasia do dia a dia. A moça que se imaginava com asas ficou sem céu. A moça que tinha a cabeça nas nuvens despencou de um arranha-céu. A moça que gostava de brincar de equilibrista, girava sem sair do lugar feito carrossel. ...
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03/05/2013 - A monotonia

A monotonia nos pega de jeito. A monotonia, quando se instala dentro do peito, ai, dá até mal-jeito no coração, que fica batendo sempre no mesmo refrão. A monotonia engessa a fantasia, quebra a perna do dia, dá mal-estar, tontura e azia. A monotonia é o pássaro que perde as asas, é o vento que deixa de soprar, é a praia de um mar sem ondas. A monotonia é rede que não balança, é romance sem beijo, é aventura sem risco.

A monotonia é um malfeito. A monotonia é o lugar comum mais estreito que há. A monotonia é a desvalia do que é ser vivo. A monotonia é o que não faz vibrar. A monotonia é fosca. A monotonia censura a criatividade. A monotonia é o pleno funcionamento da máquina da inutilidade. A monotonia é uma espécie de status quo do tédio. A monotonia nos rende, nos veda, nos cala, nos coloca no plano de fundo da vida.


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04/03/2008 - A mordida do leão

Rrrruuuaaa... rrrrrruuuuuaaaa! Com a abertura da temporada 2008 do Imposto de Renda (IR) pago por nós - os eternos contribuintes - coloco-me a pensar no leão. A sua mordida é famosa. Que o diga os 24,5 milhões de brasileiros que terão de entregar suas receitas tintim por tintim até o próximo 30 de abril. Cá com meus pensamentos, descobri que o governo tentou, com seus podres poderes, transformar o leão em um cachorrinho. No entanto, nem Roberto Carlos, o nosso rei, atreveu-se a cantar que algum leão havia sorrido para ele rugindo....
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16/11/2010 - A morte da mulher amada

Está consumado. (João 19:30)

A mulher amada não morre pela falência de seu corpo, mas de seu sentimento, ou melhor, do sentimento que carrega consigo. É como se o amor, tal erva parasita, tivesse usado o corpo dessa mulher como uma espécie de vaso. Chega um momento em que a planta se torna maior do que o vaso. Quando a planta é fraca, morre sem alimento ou ar. Mas quando a planta é forte, trinca e quebra o vaso, ganhando o mundo ao seu redor. Ao final de sua existência, que pode durar um dia, meses ou anos, a mulher amada está certa de que vive o seu fim. ...
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11/06/2010 - A morte da prima-ballerina

As pontas tateiam mais tristes os palcos bailarinos pelo planeta Grand Plié. Pontas enlutadas pela morte de Marina Semenova, a eterna primeira bailarina do teatro Bolshoi. Quando ela brilhava num pas de basque a Rússia ainda era vermelha de União Soviética. Indiscreto, o capitalismo suspirava por aquelas sapatilhas comunistas. Para além da guerra fria, Marina do Lago de los Cisnes, de La Bayardère e de Giselle. Aos 101 anos, a bailarina russa, por mais uma vez, calou o mundo do balé. Por ela, ou melhor, pela ausência dela, o Bolshoi chorou. ...
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02/05/2011 - A morte de Bin Laden

A morte de Bin Laden não abalou a rotina de bilhões. A morte de Bin Laden não mudou a cor das flores do jardim. A morte de Bin Laden não estancou o choro das crianças com fome. A morte de Bin Laden não trouxe outros mortos de volta. A morte de Bin Laden não mudou o que os apaixonados sentem um pelo outro. A morte de Bin Laden não inventou outro gênero musical. A morte de Bin Laden não modificou as fronteiras dos países. A morte de Bin Laden não calou a saudade dos que sentem falta de algo ou de alguém. ...
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02/03/2010 - A morte de dois guardiões

Dois importantes guardiões foram chamados a deixar seus postos e, por conseqüência, esta terra sem memória. Walter Alfaiate e José Mindlin, guardiões do samba e dos livros, respectivamente, partiram deixando suas obras em vida. Para muitos, o primeiro era só um sambista. Para muitos outros, o segundo só um bibliófilo. Mas ambos iam além de rótulos ou aparências. Ambos eram patrimônios culturais de um país ainda não descoberto.

Um imenso abismo social separou Walter de José, dois homens travando, por anos e anos, a mesma luta: a sobrevivência da arte. Literatura e música ficam mais pobres com a falta desses dois estandartes de uma época. Mindlin doou sua imensa biblioteca, com mais de 40 mil volumes, a uma das mais importantes universidades do país. Já Alfaiate, que precisou exerceu a profissão que lhe deu nome desde os 13 anos para sobreviver, deixou suas canções às gargantas de Paulinho da Viola e outros bambas. ...
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14/07/2014 - A morte de quem se ama

Como se sentir depois de receber a notícia de que a pessoa que você mais ama na vida morreu? E receber essa notícia dela mesma? Uma morte tão inesperada quanto anunciada. Uma morte que você não quer e nem vai aceitar. Afinal, quem se conforma em perder seu grande amor? Saber que nunca mais vai poder tocar sua pele, sentir seu perfume, olhar no fundo de seus olhos e declarar o que sente seja por meio de prosa ou verso com toda licença poética. A certeza de que nunca mais vai ser possível lançar um eu te amo e esperar as reações dela consome até a última gota da alma. Nunca mais, essa expressão dói, cala, grita, faz chorar por dentro e por fora, sangra sentimentos em carne viva. Dar adeus todo dia a resquícios que ainda estão impregnados no cerne do afeto é dilacerador. A morte é declarada, mas ela não é finita. A morte de alguém que se ama é infinita. Cada dia ela morre um pouco mais e de um jeito diferente, trazendo dor e perdas diferentes. A lembrança em certos momentos desse luto é pior do que o esquecimento. Há fantasmas do que você poderia ter dito e não disse, do que poderia ter feito e não fez, do que poderia ter ouvido e não ouviu lhe apavorando o tempo todo. Porque a morte, como coloca uma pedra na possibilidade de continuação, levanta a todo e qualquer instante o “podia ter sido diferente se”... quando, na verdade, sabíamos que tinha de ser exatamente assim. A morte faz com que fiquemos nos enganando para sofrer menos ou mais dependendo da necessidade. A morte da pessoa amada nos martiriza, deixando-nos sozinho e nu com nós mesmos. Aliás, a morte desse amor infinito coloca em dúvida até mesmo a existência do amor. Sim, porque desde sempre acreditamos que os amores não morrem. Como se sentir depois de receber a notícia de que a pessoa que você mais ama na vida morreu? E receber essa notícia dela mesma? Rasgado. Apunhalado. Dilapidado. É como se uma bomba atômica acabasse com todas suas ligações neurais e você não pensasse em mais nada. Apenas sentisse a dor das consequências. E entenda conseqüências como estragos, vazios, destruições... E o pior é a solidão, tão sedutora quão indiferente, querendo brindar com você a cada instante o seu estado solitário. A morte da pessoa amada faz você se sentir o mais solitário dos seres. Nada do que for dito ou feito é capaz de lhe consolar. E que ninguém tente estancar seu choro. É preciso colocar pra fora para que essas feridas todas não se transformem em uma espécie de câncer sentimental. A sensação é de que era muito melhor ter morrido no lugar dessa pessoa, mas não havia motivo algum para você morrer antes dela. E pelo resto dos seus dias você vai se perguntar a razão de ela ter morrido de forma tão brusca quão bruta. Sim, porque a morte da criatura amada por mais que aconteça durante o sono é de uma brutalidade tamanha. E daí a fé em outras vidas se reforça, mas quanto tempo ainda será necessário esperar para o reencontro. Será melhor morrer logo para antecipar esse recomeço? São tantas dúvidas pairando sobre a morte da mulher amada, que não se sabe se foi natural, acidental ou criminosa. De fato, há sempre um crime palpitando numa despedida desse porte. Aliás, despedir-se de quem se ama de forma definitiva é algo que contraria a natureza humana. Os homens inventaram o fogo, a roda, o avião, mas não criaram uma forma de superar a perda. Como se sentir depois de receber a notícia de que a pessoa que você mais ama na vida morreu? Com um ponto final no lugar do coração.


Comentários (3)

22/03/2011 - A morte, o que será?

Se deus é sinônimo de vida o que é a morte? A antítese divina? E quem é a antítese de deus? Lúcifer? Acho que não. Aquela figura lendária que vaga entre os moribundos com capuz negro e foice, ceifando a vida dos humanos está atrelada a deus ou ao demônio? Por que o criador iria matar sua criação? Não faz sentido. Por que o diabo iria matar sua fonte de pecado, se o inferno é vivido na crosta terrestre? Também não faz sentido. Será a morte o elo perdido entre deus e o diabo?

Quem ou o que é a morte afinal? Se a morte não é deus pode-se dizer que é tão antiga quanto ele, ou até mesmo que ela o precede na linha do tempo. E, sendo assim, deus e morte duas criaturas antagônicas, o todo-poderoso pode morrer. Difícil imaginar isso, mas há um duelo incessante entre a vida e a morte, entre o começo e o fim, entre a luz e a sombra. E perguntas não se calam: deus venceu a morte ao ressuscitar seu filho? O diabo compra almas para continuar vivo? ...
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