Daniel Campos

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05/03/2016 - A mula que leva o tempo

A mula que leva o tempo em seus jacás nunca empaca. Ela vem com um passo firme e passa por onde nem imaginamos ser possível chegar. A mula ataca ribanceiras, ladeiras, precipícios, indícios de impossibilidade, de irredutibilidade e de irresponsabilidade. Atente ao que faz com o seu tempo. Tente viver entre o amanhã e a saudade de um jeito totalmente diferente. Avance e não canse com as pedras. A mula que leva o tempo em seus jacás há de seguir independentemente das tormentas, do que venta, cai e troveja. Veja que a direção aponta para frente. Toda semente jogada na terra um dia há de brotar. E quando esse dia raiar sementerá um novo velho sempre tempo. O tempo que está em todo lugar, no alto céu, no fundo mar, nos jacás da mula que o leva, no magnífico ventre da semente que rasga, parte, escapole da casca dura como uma dura certeza – de que o tempo virá em completa beleza e que ninguém o segura porque o tempo é correnteza que tudo carrega e ninguém sossega.


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16/09/2014 - A mulher (indigna de ser) amada

A mulher amada não tem consciência de até onde ela pode chegar no quesito perversidade com quem a ama. Ela é capaz de matar lentamente só pelo prazer de ver o ser que é capaz de fazer tudo por ela prostrado, agonizando, sangrando. É como a gata que brinca com a caça antes de devorá-la. Ela sabe jogar como poucas mãos de ases. Sabe enredar, envolver, se vender em sentimento só para depois descartar sua vítima como uma viúva negra que mata mais por esporte do que por fome. A mulher amada não tem limite para fazer sofrer quem só faz amá-la. Tem a capacidade de colocar uma agulha venenosa no cerne de cada fraqueza de quem a ama. Ela fere onde mais dói. É especialista nisso. Ela brinca com o corpo, com a mente, com o coração que são a ela entregues. Não importa a ela respeitar, mas ser respeitada a qualquer preço. Sua “honra” vale mais do que qualquer história de amor. Tem crises de amnésia muito convenientes ao seu bem-estar. E sabe tirar uma desculpa da manga como ninguém. A mulher amada é o umbigo do seu mundo, nada é mais prioritário do que ela mesma. E ela age para isso o tempo todo – para satisfazer a si mesma sem pensar em quem vai ferir. Ah! A mulher amada tem o dom de ferir. Ferir com palavras e ações. E principalmente, ferir com sua omissão. Quantas expectativas depositadas na mulher amada e quanto ela concretiza? Ela só faz o que interessa a ela. O ser que a ama é usado, reusado e depois descartado sem o mínimo de compaixão. Ela sabe muitíssimo bem a diferença do ouro e do lixo, ah como sabe, não havendo qualquer desculpa para o seu modo de tratar. Quando ela trata a criatura que a ama como lixo é exatamente isso o que ela quer fazer. Ela conhece seu poder de destruição. Não importa o que você faça para ela, ela continua insensível ao que você sente, prova, demonstra... A mulher amada é uma pedra lapidada em matéria de beleza, mas que lhe apedreja como pedra bruta. É rosa que, quando quer, só se dá em espinhos. A mulher amada humilha para ser ainda mais superior, pois ela quer sempre estar acima do bem e do mal. A mulher amada não aceita leis, julgamentos, regras. A mulher amada faz tudo conforme sua vontade. A mulher amada é um poço de intenções secretas que só dizem respeito a ela. A mulher amada é o quinto inferno de Dante. A mulher amada quer conquistar, aumentar seu império, escravizar novos corações, ter o impossível aos seus pés, só para desprezar. A mulher amada vive o amor a sua moda, a moda que satisfaz única e exclusivamente a ela. O amor lhe é útil para trazer o que quer, na hora que quer, da forma que quer. A mulher amada tem a força de um exército. E é impiedosa como tal. Mata no calor da emoção ou a sangue frio em nome dela mesmo. A mulher amada se aproveita dos amores mais puros, do que lhe é oferecido com mais verdade, da entrega mais intensa e propensa ao infinito. É nesse terreno que ela gosta de semear sua ilusão mais desesperadora. A mulher amada adoece e enlouquece quem a ama, pois ela sabe se dar sem se dar. A mulher amada mancha a fé de quem acredita no amor. A mulher amada diz da boca pra fora que se coloca no lugar de quem a ama, pois ela jamais quer ter outra visão senão a dela. O egoísmo é sua principal qualidade. É como uma dessas deusas da antiguidade que quer seus fieis ajoelhados, adorando-a o tempo todo. Ela planta no íntimo de quem a ama a ilusão de que ama quando na verdade ela só sente amor por si. A mulher amada não ama ninguém a não ser ela. Ama receber elogios, ama ser cuidada, ama ser paparicada, mas não é capaz de oferecer nada em troca senão sua vaidade para ser alimentada. A mulher amada é uma farsa, mas tão bem maquiada, construída e orquestrada... Cuidado, a mulher amada não é de confiança, ela trai na calada da noite fazendo todo o amor que você dedicou a ela parecer uma grande tolice. Tolos, tolos os que deixam se envolver por essa mulher que se diz digna de ser amada quando na verdade é indigna do amor que lhe é destinado. A mulher amada é um câncer no coração apaixonado, que quando dá conta está batendo sem vida. Faça a biopsia no coração de quem a ama e achará nas entranhas desse tumor (benigno) maligno a identidade da mulher amada. A mulher amanda recebe amor e devolve solidão na mesma medida.


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18/06/2010 - A mulher amada e seus caminhos interiores

No interior da região oeste da mulher amada há um caminho lendário. Os apaixonados passam por este caminho levando nas costas pesados fardos de sentimento. Para conquistar o amor dessa mulher é necessário enfrentar essa trilha cheia de intempéries. Uma trilha escondida, íngreme e escorregadia. O relevo da mulher amada é o resultado de anos e anos de monções diluvianas. É preciso medir os passos, se agarrar em esperanças e até mesmo voar para não cair nos precipícios da mulher que é um verdadeiro desfiladeiro de sonhos e paixões. ...
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04/05/2010 - A mulher chopiniana

Em homenagem à Chopin, um certo deus pianista criou a mulher chopiniana. Sem dúvida, uma das mais imaginativas incursões pelo mundo do compositor, tanto no plano estilístico quanto emocional. Uma mui digna criação. Diante dela, nossos ouvidos são imediatamente capturados. Cada nota vinda de seu corpo vale um disco inteiro. É belíssimo acompanhar o balançado dessa mulher na Polonesa em lá bemol maior.

Virtuosística e irresistível, a mulher chopiniana é puramente sonora. Ela consegue reescrever Chopin em atos e desacatos seus construindo em si novas obras de arte. Olhos e bocas, braços e pernas, seios e coxas, cabelos e pés, fronte e nádegas vão se desenhando em linhas melódicas e harmônicas. Ela não nega, tampouco afirma Chopin. Apenas faz dele sua identidade. E é válido lembrar que o compositor polaco viveu a era romântica das artes. ...
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16/10/2010 - A mulher de Damasco

A mulher de Damasco não é uma mulher fruta rica em fibras, com poucas calorias e que se oferece de forma seca ou fresca. Pelo contrário, a mulher de Damasco guarda em si o sal e o amargor de milênios de conflitos por território, liberdade e religião. Encontrar o doce da mulher de Damasco é uma tarefa difícil e perigosa, que pode levar o aventureiro à morte. Afinal, a mulher de Damasco fica 680 metros acima do nível do mar e é cercada por desertos e cordilheiras. Para conquistá-la é preciso muito suor, além de resistir ao clima semi-árido que ela impõe aos seus supostos conquistadores. Além disso, ao invés de um céu azul mediterrâneo, a mulher de Damasco é sempre envolta de uma estranha neblina, nublando atos e pensamentos alheios....
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02/05/2010 - A mulher do Alentejo

Ah! Eu quero a mulher do Alentejo. Quero correr por suas planícies a perder de vista num ritmo lento e compassado, para não deixar escapar as cores trazidas pelo sol à paisagem que nos cerca. Por Nossa Senhora de Fátima, eu quero a mulher do Alentejo. Quero me debruçar por sua planura imensa, por suas praias selvagens, por suas searas de outono ondulando ao vento. Quero toda a beleza agreste e inexplorada da mulher do Alentejo.

Que o amor, disposto em parreiras em meu corpo, se transforme em vinho a partir da mulher do Alentejo. Que ela pise em minhas costas, em meu peito, em minhas pernas tingindo-me com a mais adocicada das tintas. Quero me fazer suco em seus lábios e morador de suas casas térreas e brancas polvilhando os montes. Na mulher do Alentejo, a força da terra fala mais alto. Mais alto do que o tempo, do que o espaço e do que o aço que teima em transpassar o sentimento coração. ...
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06/07/2012 - A mulher e as mulheres Copacabana

Copacabana é mais do que um bairro, mais do que uma praia, mais do que um hotel, mais do que uma rima, mais do que uma música, é mulher. E uma mulher grandiosa em extensão e profundidade. Copacabana, talvez a mais feminina das criações divinas. Bela, atraente, apaixonante, assim é Copacabana, mulher que provoca suspiros, delírios e desejos boquiabertos. Copacabana é a mulher que por mais distante está sempre por perto. É a geografia do verbo amar. É a antítese do deserto. É o beijo suspenso no ar. ...
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25/03/2011 - A mulher e as trovoadas

Quando ela ouve o ronco da trovoada, estremece-se toda. Sua pele treme, sua boca empalidece e seu olhar entonce querendo colo, abrigo, defesa. Quando o céu faz zoada, como um zangão gritando mel, ela se esquece até das palavras daquela oração que aprendeu quando ainda usava véu. Seu corpo fica ouriçado, frágil e assustado ao mesmo tempo. É só um trovão, mas ela corre como se corresse de um leão.

Se eu fosse anjo desceria pelos relâmpagos como um cavaleiro só para confortá-la em minhas asas. Mas eu sou demônio e, nesse caso, chamo mais e mais trovões para que ela enlouqueça e padeça em mim. Não que ela mereça tanto sofrimento, mas eu a mereço num sentimento bruto e sem fim. E os trovões vão deixando-a nua de histórias e memórias. E mesmo não cultuando os céus, não escondo que dou glórias e mais glórias a cada estrondo. ...
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30/07/2012 - A mulher gilbertiana

A música de João Gilberto é como uma mulher que passa com corpo de violão sem se importar com o tempo ou se caminha na contramão dos modismos. Sim, a bossa-nova é uma mulher com balançado próprio, com uma batida diferente que mexe com o ritmo de uma gente feita de barquinhos e beijinhos. Sua voz baixa e delicada, no ápice da afinação, invade nossos poros e aflora a nossa imaginação, além de instaurar um estado de bem-estar em nosso corpo físico e mental. Voz e melodia tomam caminhos diferentes que se encontram mesmo que distantes....
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26/09/2011 - A mulher que caminha pela praia

A mulher que caminha pela praia deseja, por ao menos um instante, que as ondas quebrem em seu corpo. A mulher que caminha pela praia, mesmo sem saber, rege o mar – suas pernas são, na verdade, as batutas de uma maestrina casual. A mulher que caminha pela praia vai misturando seu perfume, seu paladar, sua temperatura às gotículas frias e salgadas que sobem do oceano. A mulher que caminha pela praia, caminha em ondas. A mulher que caminha pela praia, lança olhares, em feitio de rede de pescadores, em busca dos mistérios mais profundos do mar profundo. ...
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