Daniel Campos

Prosas

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23/02/2016 - Vida e morte de galo

O galo despertou. O galo anunciou: são seis horas da manhã. O galo o meu coração disparou. O galo cantou e eu não sei se é ontem ou amanhã. O galo não perdoa. O galo me tira do sonho como quem tira doce de criança. O galo me acorda à toa, pois continuo sonhando com os olhos abertos. O galo por mais longe está sempre perto. O galo empoleira na minha cabeça. O galo cocorica e não há quem do cocoricó esqueça. O galo, sem corda, sem pilha, sem bateria, escandalizou outro dia. O galo espora a noite, bica a madrugada e do nada decreta o fim da fantasia. O galo é a voz da realidade nos chamando à vida. O galo, sem ter asas para voar, prefere escravizar a saudade na lida. O galo anunciou que o amanhã chegou no hoje que já vai ficando para trás. O galo esperneou pintado de guerra. O galo acabou com a paz. O galo inflou e tombou pela terra. A galinha veio e ciscou e nesse ciscar o galo enterra.


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23/02/2015 - Vida em bonança

Toca a minha mão, fala ao meu ouvido que eu sou seu amado, seu companheiro, seu amigo. Fala tudo o que tem vontade. Abre seu peito, com respeito, deixando escapulir a saudade. Segura em meus ombros para evitar tombos. Ampara em mim, mas não para porque sua caminhada não pode ter fim. Que seja de verdade todo amor que faz alarde. Joga o buquê de um casamento sem idade com as estrelas para os que sonham se mar sem por quê. Usa meu corpo para se esconder da tempestade. Pede meus sorrisos se for preciso para alimentar sua felicidade. Agarra em minhas costas para não cair pelas encostas do tempo. Pede conselho a quem jamais quer vê-la de joelho por sofrimento algum. Toma de assalto o céu, e volta alto, mas não voa voada rasa, se preciso for leva consigo as minhas asas. Sem medo, deixa no meu ninho os seus segredos que eu hei de cuidá-los antes que o cedo se faça tarde numa dessas ilusões da idade. Cala toda e qualquer calamidade, seja criança que não vê maldade nem esperança, apenas vida em bonança.


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Vida em folha morta

Dizem que meus escritos são tristes. Não me considero o senhor da tristeza. Digo e afirmo que nunca quis adotar um estilo trágico, sequer apoio o drama como forma de vida. Mas além de sofrer influências do mundo de sentimentos que me cerca, talvez eu tenha um toque natural de tristeza. Onde toco não vira ouro, vira tristeza.

Escrevo o que sinto - nada além nada aquém. Não disfarço os sentimentos, eles se afloram em mim na sua forma bruta para posteriormente serem lapidados. O ideal é que as palavras, mesmo refinadas, sejam fortes. Fortes na essência. Cada letra deve guardar algo, uma razão que possibilite a sua estada no contexto. As palavras não são os frutos de uma angústia nem de um contentamento, ao contrário, são produtos do momento. Procuro passar para o papel aquele momento. O estado é transitório. Transcrevo o instante. Escrevo no meu tom, não tenho culpa se o julgam como triste. ...
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05/11/2008 - Vida quântica

Quantos projetos você já engavetou sem querer? Quantos sonhos você já teve de deixar pra trás? Quantos amigos já lhe traíram? Quantas vidas você já gastou? Quantos prazeres se transformaram em dor? De quantas chegadas só restam partidas? Quantas estrelas cadentes já passaram pela sua frente? Quantos pedidos já se realizaram? Quantas fantasias você precisou sufocar para poder continuar? Quantas às vezes em que já mudou o destino e perdeu?

De quantos remédios você precisa para sobreviver? Quantos mistérios você já desistiu de descobrir? Quantas histórias você deixou de contar, de ouvir, de viver? Quantos caminhos ficaram longos demais para você percorrer? Quanto de saudade você guarda no peito? Quanto de bom se transformou em ruim? Quantas certezas já não são tão certas assim? De quantos sóis o seu céu tem precisado? Quantas as noites em claro que você tem vivido?...
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26/08/2014 - Vida soprada

A vida é um sopro. Um sopro que habita um corpo. Um corpo que palpita todo. Um todo que gira-mundo. Um mundo que vira de ponta-cabeça. Uma cabeça que passa da conta. Uma conta que não fecha. Uma fechadura de mil combinações. Uma combinação de histórias. Uma história nem sempre de glória. Uma glória de ser feito de sonho. Um sonho de ser mais. Um mais que quer sempre mais. Um mais-que-perfeito amor. Um amor agrupado em moléculas. Uma molécula macroscópica de fantasia. Uma fantasia para ser vivida até o outro dia. Um dia com sangue nas veias. Uma veia poética por natureza. Uma natureza atlética sob medida. Uma medida que tem sempre um quê de despedida. Uma despedida que toma de conta de repente. Um repente que combina morte com sorte. Uma sorte de ser emoção e razão. Uma razão de ser além da matéria. Uma matéria que não se aprende na escola. Uma escola de sentimentos. Um sentimento de querer próximo. Um próximo que insiste em ficar distante. Um distante que se faz saudade. Uma saudade que nos faz pela metade. Uma metade que vive a procurar pelo sopro de sua outra metade.


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03/08/2013 - Vida-quebra-cabeça

A vida é um quebra-cabeça e nem sempre a morte é a última peça. Sempre falta ou sempre sobra alguma peça nessa história toda. Isso sem falar que há dias, semanas, meses e até anos que vivemos sem que nada se encaixe. Tudo parece fora do lugar. O mundo que nos é oferecido parece errado. De um lado ou do outro, há sempre arestas que precisam, mas não podem ser aparadas. E a culpa por esse jogo não ser perfeito é de deus que nos fez imperfeitos numa busca incessante pela perfeição. Ninguém sabe ao certo qual imagem vai se formar. ...
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27/03/2015 - Vida-rio

Queria ficar na beira, na beira do rio, mas a vida não é beira-rio. É preciso cair de corpo, alma e espírito nas águas correntes que cortam nossa existência. E não pense que há de ficar em águas calmas, mansas e cristalinas. A vida é turbulenta, dada a muitas correntezas e quedas, tão lindas quão perigosas quanto às cachoeiras. E não pense que vá encontrar peixinhos coloridos em suas remadas, pois há muitas pedras pelas corredeiras. É preciso ir de frente, pois não há outra forma de seguir. O passado é como água passada, por mais que exista não volta. E ainda é preciso viver a fundo o que está nas margens, porém, jamais se apegando às paisagens, pois elas mudam durante o curso do rio. As águas muitas vezes ficam turvas, de modo que não se enxerga nada pela frente, por isso é preciso se entregar sem medo ao que vier. Não se assuste se as águas sempre doces ficarem salgadas de uma hora para outra, pois além de muito choro na beira do rio às vezes o mar dá em ressaca. E atente-se para o perigo, pois a vitória régia é a casa de Iara, que com o seu canto leva os apaixonados para o fundo das águas. E as mulheres que pensem sete vezes antes de cair nos encantos do boto-cor-de-rosa. As luas, por mais que flutuem espelhando tais águas, nunca são as mesmas. A vida, assim como as águas, mudam seguindo em frente.


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17/11/2008 - Vidaria

Quem falou que viver era fácil, mentiu. Viver é para poucos, a maioria mesmo não passa da linha da sobrevivência. E dá-lhe chicotadas no lombo dessa gente que caminha sem ter aonde chegar. É uma gente que está pra lá do estreito de Gibraltar. Viver é carregar pedras e subir montanhas sem fim. É amar em português e sofrer em mandarim. O encontro do desencontro afim. É comer arroz, feijão e pólvora e servir de estopim para uma civilização que diz não quando diz sim. E onde está o gênio da lâmpada de Aladim? Será só de mentira, de mentira, de mentira a caminhada da nossa estrada. Vida, vida se eu a tivesse lhe daria, vidaria. ...
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Vidas que sangram

A natureza está morrendo. A frase parece banal ou óbvia demais, quando, na verdade, é de uma simplicidade forte. Uma morte silenciosa. Sem línguas de fogo ou gemidos de dor. Estamos em franca extinção. Não sorria ou ache que é mais uma profecia como tantas outras que não se cumprem. Não sou profeta. Sou apenas um observador dos sentimentos do mundo.

Você que agora lê essas pobres linhas, olhe a sua volta. Exceto se estiver num sítio, nos poucos que ainda sobrevivem, quase não encontrará o verde. As árvores restantes se contorcem entre fios, condenadas pelas podas criminais. Seus olhos, já cinzas, irão se encher de concreto. Ah! A dor dos olhos de concreto. Espere! Pare por alguns segundos a leitura e tente escutar o canto de algum pássaro. Não falo de pássaros engaiolados ou aqueles de aço. Silêncio... Onde estão os pássaros? Onde estamos??? Perguntas... O inverno passa sufocante, com febre e saudade do frio. A seca se alastra e, a cada novo ano, abraça mais dias do calendário. O céu é borrado em tantas cores artificiais que lhe roubam o azul. O meio ambiente é estuprado em praça pública. A palavra é forte, mas se faz necessária. Estupro!...
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02/05/2015 - Vidinha do mato

Nunca quis vida de novela. Não sou do asfalto nem da favela. Sou do mato. Nunca fui de contentar em ver a vida passar debaixo da minha janela. Sou simples, mas de fino trato. Na minha aquarela, as cores se casam, e se misturam e se lambuzam. Não quero que nada caia do céu, mas não admito que roubem o meu papel. Sou dono da minha cena. Sou a alma do poema. O amor é o meu lema, minha lança e o meu escudo. Sou sonhador, rei do meu ludo. Lá, e ainda lá, tenho nada e tenho tudo. Sou do alecrim, da arruda, do guiné... Sou do povo da fé. O tempo brinca em meus canteiros. Cada esperança é uma corda que me sustenta. Sou violeiro que inventa moda em penca. E não acredito no azar da avenca. Sou da roça e o destino não se dá a quem não se coça. Na minha viola ganho mola, vou às nuvens e faço bossa enquanto sinhá anja me roça e adoça.


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