Daniel Campos

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27/03/2015 - Vida-rio

Queria ficar na beira, na beira do rio, mas a vida não é beira-rio. É preciso cair de corpo, alma e espírito nas águas correntes que cortam nossa existência. E não pense que há de ficar em águas calmas, mansas e cristalinas. A vida é turbulenta, dada a muitas correntezas e quedas, tão lindas quão perigosas quanto às cachoeiras. E não pense que vá encontrar peixinhos coloridos em suas remadas, pois há muitas pedras pelas corredeiras. É preciso ir de frente, pois não há outra forma de seguir. O passado é como água passada, por mais que exista não volta. E ainda é preciso viver a fundo o que está nas margens, porém, jamais se apegando às paisagens, pois elas mudam durante o curso do rio. As águas muitas vezes ficam turvas, de modo que não se enxerga nada pela frente, por isso é preciso se entregar sem medo ao que vier. Não se assuste se as águas sempre doces ficarem salgadas de uma hora para outra, pois além de muito choro na beira do rio às vezes o mar dá em ressaca. E atente-se para o perigo, pois a vitória régia é a casa de Iara, que com o seu canto leva os apaixonados para o fundo das águas. E as mulheres que pensem sete vezes antes de cair nos encantos do boto-cor-de-rosa. As luas, por mais que flutuem espelhando tais águas, nunca são as mesmas. A vida, assim como as águas, mudam seguindo em frente.


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