Daniel Campos

Prosas

Ou exibir apenas títulos iniciados por:

A  B  C  D  E  F  G  H  I  J  K  L  M  N  O  P  Q  R  S  T  U  V  W  X  Y  Z  todos

Ordernar por: mais novos  

Encontrados 3193 textos. Exibindo página 315 de 320.

02/08/2013 - Vira-mundo

Mundo gira, mundo roda, mundo dá volta. Mundo levanta e derruba em suas rotações e translações. Mundo tem corpo de baile. Mundo não para quieto. Mundo é cavalo xucro, é boi de rodeio, é montaria que derruba. Mundo chicoteia, serpenteia, bambeia. Mundo bota para correr, para ferver, para valer. Mundo é trem desembestado, que vira e mexe escapa dos trilhos. Mundo dá enjoo, dá ressaca, dá tremedeira. Mundo dá tontura, loucura e zonzeira.

Mundo ponteia, clareia, bambeia. Mundo dá surra e dá pinote. Mundo é bicho bravo, que ama fazendo estrago. Mundo ioiô. Mundo é marcha, é trote, é valsa. Mundo suspira, pira, vira de pernas para o ar. Mundo pega, prega, carrega. Mundo aperta, esgana, atropela. Mundo não tem parada, não tem destino, não tem breque. Mundo é para lá e pra cá, boca de menina pé de moleque. Mundo vira-cabeça, vira-tripa, vira-casaca, vira-lata, vira-mundo.


Comentar Seja o primeiro a comentar

28/01/2016 - Viração

Vira a página, o dia, o mês, o ano. Vira na cama, na esquina, na estrada. Vira o destino, o itinerário, o mapa. Vira a vida de pernas para o ar. Vira o que deseja. Vira o copo. Vira o corpo. Vira o olho. Vira o mundo de cabeça para baixo. Vira o ponteiro do relógio, do volume, da temperatura. Vira rotina. Vira romance. Vira realidade a ilusão, o sonho, a fantasia. Vira causo a história. Vira flor a semente. Vira asa o ninho. Vira água o que era pedra de gelo. Vira abandono o que não se cuida. Vira saudade o que já se vai longe. Vira o vento fazendo curva, trazendo chuva. Vira verso. Vira música. Vira livro. Vira lição o que se aprendeu. Vira caminho o que se percorre. Vira fé o que se acredita. Vira príncipe o sapo. Vira pó a carne. Vira mar o rio. Vira amor a paixão, ou não. Vira, vira, vira... O que virá da viração?


Comentar Seja o primeiro a comentar

28/08/2010 - Viralata

Foi tudo muito rápido. Oitenta, noventa, cem quilômetros por hora. Uma descida em curva. Ultrapassagens proibidas. Riscos. Perigos. Negligências. Carros enfileirados em uma pista única. De repente, um grito. Um grito de dor e choro. Não foi um latido ou um uivo, foi um grito o que precedeu a imagem de um cachorro preto, viralata, caído no meio da estrada. Tentou levantar, correr dali, mas as patas traseiras sequer se moveram. E as dianteiras, por conta da dor, não se sustentaram. Carros passando e aquele cachorro, em silêncio, com olhos doridos. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

18/08/2015 - Viramento

Vira mais uma de amor. Estamos a oito mil rotações por minuto. Tudo gira. E a cada beijo eu sinto parar no alto da roda gigante de um parque iluminado de lua cheia. Rodeia-me enquanto rodo o seu corpo no meu. Sou seu catavento. Roda, roda, roda seus olhos nos meus olhos enquanto nossas peles misturam seus óleos. Rodopia sobre mim. Faz viramento de mim. E vamos nos virando e nos amando e nos encontrando nas voltas desse carrossel. Faz seu circulador em mim. Corrupia-me com seus passos, braços, traços, percalços, estardalhaços, compassos. Volteia-me com suas voltas sem volta virando sempre mais uma de amor.


Comentar Seja o primeiro a comentar

16/09/2015 - Virando do avesso

Toma minha boca como sua e sai pela rua comemorando o fato de ter colocado entre eu e o tempo o seu retrato. Ouça balbuciar ainda em seus lábios, mesmo que distante de mim, a minha última palavra, já rouca, pedindo para você ficar mesmo sabendo que você não é de atender pedidos. Tropeça nos gatos vadios. É iluminado pelos faróis bêbados dos carros. Ganha cantadas baratas. E mesmo assim vai caminhando para longe de quem nunca lhe foi nada além de uma boca cheia de palavras sem sentido. Nunca entendeu um poema que foi dito aos seus ouvidos ou escritos em suas costas. No começo eu a rejeitei. E depois eu me neguei. E pior, acostumei a me negar para continuar lhe querendo. Comemora em outros copos o fato de ter feito desse homem sem saudade um copo vazio cheio de lembranças.


Comentar Seja o primeiro a comentar

12/10/2010 - Virgem Negra da Conceição Aparecida

Santa. Santa negra dos pobres, dos discriminados, dos injustiçados. Santa. Santa negra achada num rio, pescada numa rede de peixes. Santa. Santa dos humildes, dos famintos, dos esperançosos. Santa. Santa negra encontrada separada da cabeça. Santa negra dos segregados, dos apartados, dos violentados. Santa das multidões, das promessas, dos joelhos ao chão. Santa. Santa negra. Conceição negra. Santa da libertação, dos bons de coração. Santa negra. Virgem Negra. Madona negra. Maria negra.

Santa. Sangre negra de pele e ainda mais negra pelo fumo das velas. Das velas dos pecadores. Santa. Santa negra dos milagres. Santa. Santa negra das favelas, dos roçados, das senzalas. Santa. Santa negra que arrebenta correntes, que quebra grilhões, que converte canivete em flor. Santa. Santa negra dos oprimidos, dos pequenos, dos sofridos. Santa. Santa negra do oratório, da Basílica Velha e do Santuário. Santa. Santa negra de coroa de ouro, manto azul e pés descalços. Pés negros. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

05/07/2010 - Virgens de Copacabana

A mulher precisa voltar, precisa voltar às origens para não se olvidar, por uma semana sequer, das virgens de Copacabana. Ondas que nascem no eclipse do oceano e se levantam do ventre do mar como um apocalipse nuclear. Com força e beleza femininas, as ondas correm pelas vistas como meninas descalças avançando, sem perceber, sem querer, em cristas de valsa. O perfume das ondas é brisa que o pássaro leva em suas asas, é a melodia que um piano traz ao rádio da nossa casa, é a poesia que extravasa na maresia. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

20/12/2013 - Vírgula

Drummond tinha uma pedra no meio do caminho. Os finais felizes das histórias que ficaram para trás tinham um ponto. E eu, poeta que sou, tenho uma vírgula. Amanhã? Não sei o que serei amanhã, depois de amanhã, depois de depois de amanhã. Só sei que serei algo de amor. Certo ou errado, serei sentimento. Não há como ser o contrário. Não há como negar o que sinto. Com toda licença poética que me cabe, serei, durante e depois da vírgula um sonhador, aliás, sempre o fui. Sou feito de sonho.

Definitivamente, não gosto de ponto final. Passei a não gostar de três pontinhos. Exclamações e interrogações nem sempre dão direito a mais alguma coisa. Portanto, é melhor ficar com a vírgula, que até esteticamente falando tem lá sua poesia. E que eu possa balançar nesta vírgula, voltar a ser criança. E olhando bem, a vírgula lembra um anzol, e há uma lua de peixes a ser fisgada a cada noite que se anuncia. Além disso, a vírgula é sutil a ponto de levar o destino a tropeçar nela embaralhando seus planos....
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

02/04/2013 - Visão na velhice

O homem no fim da estrada, mesmo com a vista cansada, enxerga melhor. Enxerga o mundo rico em detalhes, em sentido, em nitidez. Tem foco. Não desperdiça olhares com bobagens. Sabe que o tempo para encher as vistas é precioso. Enxerga o que realmente vale à pena ser enxergado. É uma visão que decifra todos os códigos secretos contidos na imagem. Uma visão que lê e compreende as entrelinhas. Uma visão de longo e raro alcance. Uma visão mística, que se debruça sobre segredos e mistérios. Depois de tanto olhar como caçador, aprendeu a olhar como caça. Uma visão mais lenta, porém com gana de sobreviver. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

03/10/2015 - Visões

Quando você vê uma teia de aranha, arranca-a ou fica admirando a arquitetura das fiadas certeiras? Logo após um susto, toca em frente ou para agradecer aos céus pelo prolongamento da sua vida? Diante do por do sol, você percebe os anjos misturando as cores ou só vê mais um dia se acabando? Se estiver caminhando e for surpreendido pela chuva, corre reclamando da água ou abre os braços e encara aquilo como uma benção? Ao folhear um álbum de fotografias antigas se prende às mudanças da aparência ou às lembranças boas? Diante de uma encruzilhada, pega o caminho mais bonito, mais fácil, mais conhecido ou aquele que seu coração indica? Tem buscado mais os ponteiros do relógio ou os pássaros que seguem outro tipo de horário? Ao olhar a sua volta consegue ver tudo ou pouco tem percebido da vida que o rodeia? Se a mata incendeia você fecha as janelas para não entrar fuligem ou sofre com as árvores e animais queimados? Encara tudo como um acaso ou fruto de um propósito maior? Convive com os outros como se fossem apenas ilhas ou partes do seu continente? Tem sido mais razão ou emoção? Tem sido mais diferente ou indiferente? Tem sido mais o que você quis ser ou o que já foi um dia? Quando entra num mar, num rio, numa mata pede licença ou acha que tudo aquilo lhe pertence? Há mais saudade ou vontade dentro de você?


Comentar Seja o primeiro a comentar

Primeira   Anterior   313  314  315  316  317   Seguinte   Ultima