Daniel Campos

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Encontrados 217 textos. Exibindo página 12 de 22.

Cálice de sangue

Pétalas vermelhas
Amparadas
Por um cálice de espinhos
Pontuando um corpo magro
Vestido de folhas
E pontas e caminhos.

Um botão
De rosa vermelha
Crivo de ninguém
Um coração
Fora de um peito
Vivo por alguém.

Flor de sangue
Flor de batom
Flor sobre tom
Flor do mangue
Flor sagrada
Consagrada
As suas mãos.

As suas mãos,
Onde estão?


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Cálice fundo

Quando se fez noite, desfez-se o drama
Quando tudo ficou quieto, de todo, quieto
A vida que existia lá fora
Tão quieta e imóvel
Aos poucos deixava de existir.
Os que andavam em busca de algo... pararam
Os que bebiam fugindo de alguém... pararam
Os que sonhavam nos delírios de si... pararam
Pararam em face da mulher que nascia
Nascia nos seios frescos da noite
No toque das mãos no ventre do piano
Na sangria dos que não se contentam...
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Cama elástica

Cabelos ao vento
Você
Pulando
Sonhando
Amando
Brincando
De ser você...
Ah! Por que você
Não pode ser você
O tempo todo?
Por que você
Tem que ser
O que os outros querem
Que seja você?
Ah! Rompa
De uma vez
Por todas às vezes
Com o que não é você!
Ah! Quero a mulher
Das conversas mais fundas
Do nascer de um sol
Que nunca foi seu.
Ah! Quero aquela mulher
De tantas mulheres...
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Camaleão

Toda vez
Que a constelação
De camaleão
Surgir
Nos olhos escuros
Do céu,
Saiba que este poeta,
Nu em sentimento e coração,
Vai cumprir
Seu rito
Mais bonito
Ao pedir
Tua mão
Em casamento
Aos deuses
Cegos
Pelas centelhas
Das estrelas
Que amam
Sob pena
De não vê-las.


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Camarim

Sei que é covardia
Retirar-me do palco
Antes da última cena
Mas o roteiro mudou
E ninguém me avisou
Que eu teria de beijar
A solidão.

Não!
Vou para detrás das cortinas
Para onde nem mesmo eu me veja
Vou para o escuro da coxia
E que a sorte me proteja
Ao me trancar no camarim
E tomar o resto da fantasia
Que se afoga no seu copo.

A minha última fala
É um longo silêncio
Um quase adeus...
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Campônio

Campônio
De um tempo afim
Laborando o sentimento em mim
Num andar interiorano
Suburbano de um tempo
Sem fim
Longe de casa
Triste ardor
Quebrada asa
Perdido no arrozal
Desconhecedor
Do bem e do mal
Cavaleiro da terra
Braço selvagem
Da lida
Sombreiro que descerra
O sol na descida
Do céu, do mar, da serra
Campônio de um amor camponês
Montado em seu burro xadrez
Vai arando destinos...
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Canaviais

Gemidos de facão
Escorrem com doçura
Sobre as mãos
Que sangram calejadas
O açúcar.
O açúcar
Nas calças rasgadas
Nos braços rabiscados pelas folhas
Nas camisas manchadas
Descosturadas e remendadas
De sangue...

O sol invade sem alarde
Chapéus de palha mal-traçada
Lenços coloridos em preto e branco
Que não projetem a alma
E desvirgina a pele
Que se atordoa e se auto-perdoa
No suor amargo e frio,...
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Canção da manhã

Canta o galo da manhã
No parto do dia
Tange o carro do sol
Pelo estradão
De uma lua de maçã
Apagam-se as velas da noite
E o sol dá cor aos sonhos
Que vão desabotoando a escuridão.

Canta o galo da manhã
Acorda a menina
Que tem boca de pitanga
E olhos de romã
Descalça e de vestido
Beija a poesia que não dormiu
E sai em cavalgada
Desbravando um destino bravio.

Canta o galo da manhã...
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Canção do tormento

Por favor, me entenda
Leva longe a sua dor
Conversa com ela
Ou a jogue pela janela.
Por favor, me atenda
Os pedidos
Que já se vão
Feito refrão
Subentendido
Nos gestos
Que detesto.
Se for menos doído
Grite num grunhido
Que eu não presto...
Mas me tira as rimas
Mas me tira os versos
Não me coloque acima
Do que eu lhe peço.

Mas por favor,
Não se adoeça
Por favor......
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Canção do vento

Ah! Se eu pudesse cantar
Como canta o vento, o vento
Ah! Se eu pudesse cantar
Como canta o vento da madrugada
Faria ah tantas serenatas
A uma amada namorada.

Pena que o nostálgico vento
Da madrugada e a namorada
São só lamento, lamento
Nos redemoinhos
Do esquecimento
Que vem, vem pelo caminho.

Ah! Se eu pudesse cantar
Como canta o vento, o vento
Faria ah dançar a rosa
Da roseira mais formosa
E em um desalento...
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