Daniel Campos

Imprimir Enviar para amigo
Canção do tormento

Por favor, me entenda
Leva longe a sua dor
Conversa com ela
Ou a jogue pela janela.
Por favor, me atenda
Os pedidos
Que já se vão
Feito refrão
Subentendido
Nos gestos
Que detesto.
Se for menos doído
Grite num grunhido
Que eu não presto...
Mas me tira as rimas
Mas me tira os versos
Não me coloque acima
Do que eu lhe peço.

Mas por favor,
Não se adoeça
Por favor...
Por favor, me esqueça
Por favor, desapareça
Dos meus dramas mal dormidos
Dos meus sonhos carcomidos
Do meu tempo ferido ? feridos...
Me apague! Me pique!
Me risque! Me abdique!
Dessas folhas
Dessas folhas
Dessas folhas...

Fui eu quem escolhi
Fui eu quem decidi
Não lhe dei escolha!
Deixe de me escrever
Vá ler volver tecer
Outros olhares
Porque se eu lhe perder
Eu lhe encontro
Eu lhe encontro
Em outros lugares
Desse tempo
De amares.

E se num momento
Cair nos braços
Cair nos laços
Cair nos passos
De outro alguém
Nunca vou me perdoar...
Mas quem é que precisa de perdão?
A vida me passa como um trem
E nenhum trem se dispõe a ficar
Para sempre na mesma estação.

Então, antes que o mal cresça
Desapareça!
Por favor, me esqueça!
Mas por favor,
Não se enlouqueça
Por favor...

Pode ir!
E se quiser um beijo
É o único almejo
Que posso lhe oferecer
Que posso lhe ceder
Ao se despedir
E cair no tempo.
E o tempo é o tempo
E o tempo é o tormento
E o tormento é o corrimento
E o corrimento é o sentimento
E o sentimento é o firmamento
E o firmamento é o tempo
Que não firma
Que não se afirma.

E eu sou o tempo!
Eu sou de tempo!
Eu sou pro tempo!

Sou complexa
Para os seus sonhos
Leva os de mim
Porque se algum deles ficar
Em mim... vai se acabar
De forma anorexa.

Eu nem sei
Quem sou...
Eu nem sei
Pra onde vou...
Só sei
Que agora
Não sei...

Me apavora!
Me chora!
Me namora!
Me ora!
Me gora!
Me demora!
Me ignora!
Me devora!
Me mora!
Me outrora!

Não! Não me diga mais nada...
Leva seus olhos da minha estrada
E deixa eu me internar
Na tua falta.
Não! Não me diga mais nada...
Leva seus olhos da minha estada
E deixa eu me entornar
Na próxima maré alta.

Deixa eu sair!
Deixa eu fugir!
Deixa eu sumir
Da sua pauta!
Porque eu já não sei
O duro pecado
Que me molesta.
Porque eu já não sei
O que me resta
De futuro guardado.

É melhor fechar a porta
Antes
De surgirem dores
Nunca dantes
Postas em amores.
Demais é melhor ser menos...
Não importa
Se o adeus é o pior dos venenos.
Eu não queria dizer isso
Mas para não lhe ver morto
Depois
Preciso cometer o aborto
De nós dois.

Por mais difícil
Faça esse sacrifício
Me entenda!
Me atenda!
Me compreenda!
Mas por favor,
Não se prenda
Por favor...

Mesmo que seja triste
A sua tristeza
Se renda
Posto que ainda me insiste
A certeza
De que o poeta - o poeta -
Será sempre minha lenda
Minha lenda predileta.


Comentários

Nenhum comentário.


Escreva um comentário

Participe de um diálogo comigo e com outros leitores. Não faça comentários que não tenham relação com este texto ou que contenha conteúdo calunioso, difamatório, injurioso, racista, de incitação à violência ou a qualquer ilegalidade. Eu me resguardo no direito de remover comentários que não respeitem isto.
Agradeço sua participação e colaboração.

voltar