Daniel Campos

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Encontrados 112 textos. Exibindo página 7 de 12.

21/10/2008 - Vinte e quatro anos de silêncio

O coração de Eloá ficou em silêncio. Mas não foi o silêncio eterno, tampouco o quase silêncio do coma. Foram 24 anos do mais puro silêncio. Com Eloá, ele viveu durante quinze anos. Poucas vezes deve ter pulsado tão rápido quanto nos dias em que ficou à mercê do ex-namorado e atual assassino. Diante das ameaças, um pulso desafinado. Diante do choro da mãe, um pulso sufocado. Diante do ataque da polícia, um pulso desesperado. Diante da solidariedade da amiga, um pulso consolador. Diante dos tiros, um pulso saudoso....
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19/12/2015 - Viola afiada

No riscado da viola eu te chamo e mostro num piscar de hora como um homem chora. Amor de viola não é amor de esmola, precisa de mais, sempre mais, para não se perder indo embora. Moda de viola é igual toada de coração que não se aprende na escola. No ponteio da viola serpenteio pelo mundão dos seus olhos e boio na imensidão da lua cheia que clareia nossos campos. Nas cordas da viola eu amarro uma paixão, enforco qualquer dor e ainda quebro quebranto. Na viola eu mareio e incendeio qual fogueira de São João. A viola é como cola nos meus dedos, quando prende não solta mais não e aí meu corpo se rende a mais um refrão. Na viola, a gente se embola, se enrola e decola como fagulha do carvão. Nota a nota, a viola amola o nosso destino numa pedra chamada coração.


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21/02/2016 - Viola atrevida

Toca viola porque viola é de tocar rezando. E agora é preciso muita reza porque o dia já vai se acabando. É preciso reza para boiada não se perder. É preciso reza para o coração não escurecer. As sombras estão por aí e tem gente que tomba aqui e ali pelo que assombra do cachorro ao bem-te-vi, do lobo ao quati, do branco ao tupi. Toca viola porque viola é a moda do deus, do deus caipira que não se convenceu de que precisaria estar num altar para que pelos seus dias seus pés viessem beijar. O deus da viola é o deus dos carreiros, dos violeiros, dos boiadeiros que mais do que boi tocam o que ainda não foi. No canto da viola o estradão se alumia e o boi que fugia volta sem revolta. O vento dá reviravolta pra mor de seguir com a viola que se enche de lua e flutua no terreiro do pequizeiro que dá moda e dá pequi o ano inteiro. Toca viola porque viola é reza das brabas, que enche de lua e de sol a estrada da moçada que acorda para a lida, que reacorda para vida, toda vez que as cordas da viola dão aquela tremida. Êta viola atrevida! ...
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18/03/2016 - Violão arredio

O violão está num canto esquecido, perdido em canções silenciosas. Só escapa uma ou outra nota quando o vento vibra as cordas que mais parecem cobras espichadas ao sol, sem intenção de bote. Inofensiva e decorativa, assim vai aquela peça de madeira entalhada para cantar. O meu violão caipira, do interior do interior, se avexa com a cidade grande e tem saudade do mato. Queria ter sido violão pantaneiro, mas acabou num canto do quarto de um desafinado. Pobre violão que não é tocado, que não é abraçado, que não é incorporado ao corpo do seu mestre. Talvez fosse melhor entregá-lo à correnteza para ele escolher o seu dono rio abaixo. Suas seis cordas não conversam entre si. Suas casas vão ficando cada vez mais longe uma das outras. Suas curvas vão pegando poeira e o silêncio lhe dá uma canseira. Parece que chora um choro quieto, de inutilidade, de frustração, de descriação. Por essas e outras, maltratado naquilo que nasceu para ser, mais dia menos dia ele irá num pé de vento ou nas mãos de uma mulher que ao contrário do meu coração prefira fugir com meu violão.


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24/10/2015 - Vira a página

Vira o disco, muda a música, troca de olhar, do jeito de olhar. Saia da mesmice, deixa de crendice, troca de fetiche... Pra que tanta tolice? Vá para outra página, viva outra história, invente outro final... Nem tudo é bem nem tudo é mal. Permita-se o novo. Peça outro prato, visite outro canal, estabeleça novos contatos de primeiro, segundo, terceiro grau. Repagine-se por dentro e por fora. Manda o habitual embora. Se ri, chora. Se chora, ri. Vá pra lá se está aqui. Vem pra cá se está ali. Deixa de medo do desconhecido, do diferente, do tempo ainda não nascido. Jogue-se à mudança. Cultive a esperança. Alcança o que está para além do seu teto e do seu fundo. Rompa a casca. O que é seu ninguém tasca. Vá ao profundo do seu ser para se encontrar e para se esquecer. Para nascer é preciso morrer. ...
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19/05/2015 - Vira homem vira bicho

O sapo se incha todo e até toma banho no lodo querendo namorar. O pavão abre a cauda, a cigarra estronda, o cachorro uiva querendo namorar. O gato mostra as unhas, a galinha abre as asas e o rato sai da toca querendo namorar. O canguru troca de bolsa, o jacaré palita os dentes e a girafa estica ainda mais o pescoço querendo namorar. O galo estufa o peito, o macaco faz graça e a cobra encontra seus pés querendo namorar. O porco rola na lama, a mula pisa feito uma dama e a lagartixa cai na cama querendo namorar. O grilo afina a sanfona, o tatu fica nu e a maritaca se ataca querendo namorar. O pato até bota ovo, o carrapato desgruda e a matilha fica muda querendo namorar. O leão penteia a juba, o cisne faz pose e o cavalo empina querendo namorar. A formiga sai da trilha, a hiena fica séria e o elefante é todo ouvido querendo namorar. A onça dá pinta, o lagarto dá língua e o papagaio dá o pé querendo namorar. O morcego dá com a cara na parede e o peixe cai na rede querendo namorar. O cupim morde, o bode cospe, o hipopótamo se sacode querendo namorar. A vaca se esfrega, o coelho não sossega, a cabra fica cega querendo namorar. O tubarão se faz de vilão, o pinguim jura fidelidade e a aranha teia a saudade querendo namorar. O jumento dá coice, o camaleão muda de cor e a taturana pega fogo querendo namorar. O homem vira bicho e o bicho vira homem querendo namorar. ...
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02/08/2013 - Vira-mundo

Mundo gira, mundo roda, mundo dá volta. Mundo levanta e derruba em suas rotações e translações. Mundo tem corpo de baile. Mundo não para quieto. Mundo é cavalo xucro, é boi de rodeio, é montaria que derruba. Mundo chicoteia, serpenteia, bambeia. Mundo bota para correr, para ferver, para valer. Mundo é trem desembestado, que vira e mexe escapa dos trilhos. Mundo dá enjoo, dá ressaca, dá tremedeira. Mundo dá tontura, loucura e zonzeira.

Mundo ponteia, clareia, bambeia. Mundo dá surra e dá pinote. Mundo é bicho bravo, que ama fazendo estrago. Mundo ioiô. Mundo é marcha, é trote, é valsa. Mundo suspira, pira, vira de pernas para o ar. Mundo pega, prega, carrega. Mundo aperta, esgana, atropela. Mundo não tem parada, não tem destino, não tem breque. Mundo é para lá e pra cá, boca de menina pé de moleque. Mundo vira-cabeça, vira-tripa, vira-casaca, vira-lata, vira-mundo.


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28/01/2016 - Viração

Vira a página, o dia, o mês, o ano. Vira na cama, na esquina, na estrada. Vira o destino, o itinerário, o mapa. Vira a vida de pernas para o ar. Vira o que deseja. Vira o copo. Vira o corpo. Vira o olho. Vira o mundo de cabeça para baixo. Vira o ponteiro do relógio, do volume, da temperatura. Vira rotina. Vira romance. Vira realidade a ilusão, o sonho, a fantasia. Vira causo a história. Vira flor a semente. Vira asa o ninho. Vira água o que era pedra de gelo. Vira abandono o que não se cuida. Vira saudade o que já se vai longe. Vira o vento fazendo curva, trazendo chuva. Vira verso. Vira música. Vira livro. Vira lição o que se aprendeu. Vira caminho o que se percorre. Vira fé o que se acredita. Vira príncipe o sapo. Vira pó a carne. Vira mar o rio. Vira amor a paixão, ou não. Vira, vira, vira... O que virá da viração?


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28/08/2010 - Viralata

Foi tudo muito rápido. Oitenta, noventa, cem quilômetros por hora. Uma descida em curva. Ultrapassagens proibidas. Riscos. Perigos. Negligências. Carros enfileirados em uma pista única. De repente, um grito. Um grito de dor e choro. Não foi um latido ou um uivo, foi um grito o que precedeu a imagem de um cachorro preto, viralata, caído no meio da estrada. Tentou levantar, correr dali, mas as patas traseiras sequer se moveram. E as dianteiras, por conta da dor, não se sustentaram. Carros passando e aquele cachorro, em silêncio, com olhos doridos. ...
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18/08/2015 - Viramento

Vira mais uma de amor. Estamos a oito mil rotações por minuto. Tudo gira. E a cada beijo eu sinto parar no alto da roda gigante de um parque iluminado de lua cheia. Rodeia-me enquanto rodo o seu corpo no meu. Sou seu catavento. Roda, roda, roda seus olhos nos meus olhos enquanto nossas peles misturam seus óleos. Rodopia sobre mim. Faz viramento de mim. E vamos nos virando e nos amando e nos encontrando nas voltas desse carrossel. Faz seu circulador em mim. Corrupia-me com seus passos, braços, traços, percalços, estardalhaços, compassos. Volteia-me com suas voltas sem volta virando sempre mais uma de amor.


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