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Encontrados 112 textos. Exibindo página 8 de 12.
16/09/2015 -
Virando do avesso
Toma minha boca como sua e sai pela rua comemorando o fato de ter colocado entre eu e o tempo o seu retrato. Ouça balbuciar ainda em seus lábios, mesmo que distante de mim, a minha última palavra, já rouca, pedindo para você ficar mesmo sabendo que você não é de atender pedidos. Tropeça nos gatos vadios. É iluminado pelos faróis bêbados dos carros. Ganha cantadas baratas. E mesmo assim vai caminhando para longe de quem nunca lhe foi nada além de uma boca cheia de palavras sem sentido. Nunca entendeu um poema que foi dito aos seus ouvidos ou escritos em suas costas. No começo eu a rejeitei. E depois eu me neguei. E pior, acostumei a me negar para continuar lhe querendo. Comemora em outros copos o fato de ter feito desse homem sem saudade um copo vazio cheio de lembranças.
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12/10/2010 -
Virgem Negra da Conceição Aparecida
Santa. Santa negra dos pobres, dos discriminados, dos injustiçados. Santa. Santa negra achada num rio, pescada numa rede de peixes. Santa. Santa dos humildes, dos famintos, dos esperançosos. Santa. Santa negra encontrada separada da cabeça. Santa negra dos segregados, dos apartados, dos violentados. Santa das multidões, das promessas, dos joelhos ao chão. Santa. Santa negra. Conceição negra. Santa da libertação, dos bons de coração. Santa negra. Virgem Negra. Madona negra. Maria negra.
Santa. Sangre negra de pele e ainda mais negra pelo fumo das velas. Das velas dos pecadores. Santa. Santa negra dos milagres. Santa. Santa negra das favelas, dos roçados, das senzalas. Santa. Santa negra que arrebenta correntes, que quebra grilhões, que converte canivete em flor. Santa. Santa negra dos oprimidos, dos pequenos, dos sofridos. Santa. Santa negra do oratório, da Basílica Velha e do Santuário. Santa. Santa negra de coroa de ouro, manto azul e pés descalços. Pés negros. ...
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05/07/2010 -
Virgens de Copacabana
A mulher precisa voltar, precisa voltar às origens para não se olvidar, por uma semana sequer, das virgens de Copacabana. Ondas que nascem no eclipse do oceano e se levantam do ventre do mar como um apocalipse nuclear. Com força e beleza femininas, as ondas correm pelas vistas como meninas descalças avançando, sem perceber, sem querer, em cristas de valsa. O perfume das ondas é brisa que o pássaro leva em suas asas, é a melodia que um piano traz ao rádio da nossa casa, é a poesia que extravasa na maresia. ...
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20/12/2013 -
Vírgula
Drummond tinha uma pedra no meio do caminho. Os finais felizes das histórias que ficaram para trás tinham um ponto. E eu, poeta que sou, tenho uma vírgula. Amanhã? Não sei o que serei amanhã, depois de amanhã, depois de depois de amanhã. Só sei que serei algo de amor. Certo ou errado, serei sentimento. Não há como ser o contrário. Não há como negar o que sinto. Com toda licença poética que me cabe, serei, durante e depois da vírgula um sonhador, aliás, sempre o fui. Sou feito de sonho.
Definitivamente, não gosto de ponto final. Passei a não gostar de três pontinhos. Exclamações e interrogações nem sempre dão direito a mais alguma coisa. Portanto, é melhor ficar com a vírgula, que até esteticamente falando tem lá sua poesia. E que eu possa balançar nesta vírgula, voltar a ser criança. E olhando bem, a vírgula lembra um anzol, e há uma lua de peixes a ser fisgada a cada noite que se anuncia. Além disso, a vírgula é sutil a ponto de levar o destino a tropeçar nela embaralhando seus planos....
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02/04/2013 -
Visão na velhice
O homem no fim da estrada, mesmo com a vista cansada, enxerga melhor. Enxerga o mundo rico em detalhes, em sentido, em nitidez. Tem foco. Não desperdiça olhares com bobagens. Sabe que o tempo para encher as vistas é precioso. Enxerga o que realmente vale à pena ser enxergado. É uma visão que decifra todos os códigos secretos contidos na imagem. Uma visão que lê e compreende as entrelinhas. Uma visão de longo e raro alcance. Uma visão mística, que se debruça sobre segredos e mistérios. Depois de tanto olhar como caçador, aprendeu a olhar como caça. Uma visão mais lenta, porém com gana de sobreviver. ...
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03/10/2015 -
Visões
Quando você vê uma teia de aranha, arranca-a ou fica admirando a arquitetura das fiadas certeiras? Logo após um susto, toca em frente ou para agradecer aos céus pelo prolongamento da sua vida? Diante do por do sol, você percebe os anjos misturando as cores ou só vê mais um dia se acabando? Se estiver caminhando e for surpreendido pela chuva, corre reclamando da água ou abre os braços e encara aquilo como uma benção? Ao folhear um álbum de fotografias antigas se prende às mudanças da aparência ou às lembranças boas? Diante de uma encruzilhada, pega o caminho mais bonito, mais fácil, mais conhecido ou aquele que seu coração indica? Tem buscado mais os ponteiros do relógio ou os pássaros que seguem outro tipo de horário? Ao olhar a sua volta consegue ver tudo ou pouco tem percebido da vida que o rodeia? Se a mata incendeia você fecha as janelas para não entrar fuligem ou sofre com as árvores e animais queimados? Encara tudo como um acaso ou fruto de um propósito maior? Convive com os outros como se fossem apenas ilhas ou partes do seu continente? Tem sido mais razão ou emoção? Tem sido mais diferente ou indiferente? Tem sido mais o que você quis ser ou o que já foi um dia? Quando entra num mar, num rio, numa mata pede licença ou acha que tudo aquilo lhe pertence? Há mais saudade ou vontade dentro de você?
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31/08/2010 -
Visões de guerra
As últimas cicatrizes ainda ardem nos matizes dos olhares que não conseguem se esquecer do que viram. É tanta guerra, são tantos estilhaços de coração. É tanta guerra, são tantos pedaços de canção. É um mundo partido, dividido, proibido. Um mundo que dói e corrói e desconstrói. Um mundo imundo, profundo, moribundo querendo morrer em seus braços a todo minuto. Um mundo de luto.
Pólvora e explosões queimando a retina. Sangue e fuligem borrando a íris. Paisagem e vertigem numa ilusão óptica. Um exército de mutilados. Crianças sem colo no meio de uma estrada que não leva a nada. Mães com pás e enxadas enterrando filhos. O céu vermelho numa plantação de fogo. Fome e sorgo. Trincheiras fazendo o papel de lar, em meio a um luar alvejado de balas de canhão. E o horizonte dizendo “não”......
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Vitrines
O sol, imenso e amarelo, ardia em febre. Perdia-se facilmente a conta entre os tantos graus Celsius. Aflito, deixava um pouco dessa febre nos caminhos por onde andava a procura de algo que não se sabia exatamente o quê. Enquanto procurava, a vida prosseguia com as suas tarefas de rotina.
O sol quente. Em uma espécie de tontura, ela apóia-se numa vitrine qualquer. Cabeça baixa. Pouco a pouco, a sensação de ver o mundo sem eixo, sem gravidade, sem juízo. Conforme respira lentamente, os olhos se enchem de sol e os mistérios se confundem. Os mistérios daquele sol e daqueles olhos, lado a lado. E numa falta de memória repentina, não sabia onde estava. A única coisa que sabia é que aqueles que lhe olhavam da vitrine, e que parecia conhecer de algum lugar, tinham uma tristeza qualquer. Aqueles olhos tristes, berçários de beleza. ...
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28/12/2015 -
Viuvinha
A viuvinha cisca graciosa pelo terreiro. Tem pés de bailarina e ninho por perto. Sabida, faz ninho no oco abandonado pelo pica-pau. Como viúva, cuida da casa velha com esmero. O corpo todo vestido de negro, como um mata borrão, com exceção para a mancha branca que traz na cabeça como se fosse um véu. Anda como que bailando pelo chão. Vez ou outra, sem mais esperar, dá um piado assoviado como choro de viúva, intenso e rápido. As penas da cauda escorrem longas como que formando uma tesoura ou um vestido de noiva. Noivinha ou viuvinha? Seja o que for aquela ave dá um toque de saudade e esperança no campo. Hipnotiza de velhos a crianças, de estressados a poetas, de rabugentos a festeiros, com sua silhueta em movimento. Arisca, risca o céu, ao menor indício de perigo, com suas asas de nanquim. E quando voa, o véu da cabeça escorre pelas costas, com a brancura se atrevendo por entre a penugem negra. O conflito entre e a noivinha e a viuvinha pelo corpo amiúde da ave que hipnotiza nossas vistas e instiga nossa visão.
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01/02/2017 -
Viva o amor-presente
Não existe amor-passado nem amor-futuro, tanto que amar em tais tempos é pura ilusão. O único amor que nos evolui é o amor-presente, aquele que pode ser vivido agora, transformando, de imediato, nosso interior e o que nos rodeia.
Se você está preso a um amor que ficou no passado é porque você ainda não soltou uma determinada pessoa. Energeticamente falando, isso não faz bem nem para você nem para ela. Então, está mais do que na hora de desapegar. Acreditar em um amor que acabou é investir no autossofrimento, pois isso te impede de seguir em frente, de ter outras experiências, de se permitir ao novo. ...
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