Daniel Campos

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Encontrados 200 textos. Exibindo página 19 de 20.

13/04/2016 - Mulher que poemo

Mostra as garras, ronrona e escala os telhados mais altos, faz miséria descalça ou de salto, é silêncio e contralto. Felina e menina num corpo que foi mais longe do que supunha o sopro do criador. Eva, da relva do paraíso à uma mulher com e sem juízo. Mulher que serpenteia e se se joga da teia para o vazio. Mulher que é mar, cachoeira e rio. Água em movimento, mulher, indomável tempo. Mulher de um sentimento inflamável, apaixonante e amável aos extremos. Mulher que poemo pelo reino do prazer, do platônico, do querer, do atômico. Mulher que se despe se vestindo, mulher que se veste nos despedindo. Contraria as escalas, redimensiona as metas, tudo diz quando nada fala, muda de trajetória nos caminhos do nosso coração sem dar seta. Mulher do sol e do abajur, que voa como um pintagol e se prende num ponto ajour. ...
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29/04/2010 - Mulher querubim

Porque o amor é o caminho, vivo assim: mergulhado no vinho de sua boca em busca do anjo querubim que lhe habita e, quiçá, palpita meu humano coração. Por ser assim uma criatura sobrenatural, mulher amada, busco suas asas por entre as casas dos seus botões entreabertos. Como são secretos seus caminhos, caminha em meus desalinhos. Leva-me à Árvore da Vida, ao lado oriental do Jardim do Éden. Leva-me já amanhã pela manhã para além do pecado da maçã.

Menina alada arqueia seu corpo e flecha meu peito com suas sete setas. Que desse ferimento sangre uma paixão desenfreada, um amor sem limites. Porque o sentimento é a sina dos viventes, vivo assim: tomado por essa guerra ardente que me domina com doses de sofrimento e ungüento. Invento um tempo e não agüento e suplico por um beijo bento e pecador de sua boca querubim. Eu amo lhe caçando pelos céus com balas de festim sabor cereja. Beija-me!


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07/03/2016 - Mulher sem saída

Quando me deito no seu ventre e escuto o som que corre pelos labirintos íntimos de mulher sem saída vou ao deleito. A vida e a morte a açoitam e nossas esperanças se amoitam. Você geme de pesar e de prazer. Suas contrações indicam um absoluto querer, pulsante e indomável. Mulher sonhadora e palpável. Escandaliza os meus ouvidos. Passa ao meu coração os seus tremidos. É trem sem trilho, mãe sem filho, canção sem estribilho. Deito em ti como quem deita com as esquinas, com os encontros inesperados, com os poetas do passado. É dona de um romantismo perdido, inviolado, incorruptível. Casta do fantástico, o desejo como um elástico da alma é tensionado ao impossível. E eu ouço as batidas, a lida dos seus fantasmas, os seus cataclismos e empirismos, num um som abafado e angustiado como que peito com asma. Eu ouça as badaladas, suas jornadas pelas invernadas do tempo, escuto o vento nascente e de luto de colocando sobre a cama enquanto diz que me ama. E eu te devoro, infiltro-me em seus poros, misturo nossas raças e no acalanto você acha graça. Constante e esparsa, desespero que não passa. Mulher destemida, livre e sem saída temo te perder antes de entregar minha vida.


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Mulher sentada à beira do caminho

Quem é a mulher sentada à beira do caminho. O que pensa a mulher sentada à beira do caminho. O que espera a mulher sentada à beira do caminho. Quantos os sonhos que se sentam ao seu lado. Quantos os passos que caem na rede de olhares da mulher sentada à beira do caminho. Quantos os que passam e deixam seu passar mudar de direção diante da mulher sentada à beira do caminho. Qual o tempo da mulher sentada à beira do caminho? Será o tempo dos incas, dos persas ou dos parnasianos? Quais os motivos que motivam a mulher sentada à beira do caminho? Quanto sexo é feito e desfeito nas cinzas da mulher sentada à beira do caminho. Quanto de deus há na mulher sentada à beira do caminho? Quantas as saudades em busca de caminhos que sentam no colo da mulher sentada a beira do caminho. Quanto de amor e quanto de guerra há na mulher sentada à beira do caminho. Quantos dias entardeceram e anoiteceram e amanheceram nos lábios da mulher sentada à beira do caminho. Quanto de luz há na sombra da mulher sentada à beira do caminho. Quantas flores e quantas pedras no sentar da mulher sentada à beira do caminho. Quanto de silêncio se silencia e quanto do silêncio se revolta e grita e canta e suspira na mulher sentada a beira do caminho? Quantos apóstolos tentaram e desistiram de seguir a mulher sentada à beira do caminho. Quem está por trás da mulher sentada a beira do caminho. Qual o caminho da mulher sentada à beira do caminho. Será de copas ou de ouro o blefe da mulher. Qual o vento que pousa na mulher sentada à beira do caminho. Quantos trevos têm a folha da sorte dos olhos da mulher sentada à beira do caminho. Quanto de mar ainda há nos pés de areia da mulher sentada à beira do caminho. Quantos se enforcam diante da mulher sentada à beira do caminho. Quanto de si já se perdeu na mulher sentada à beira do caminho. Quanto do perfume já se impregnou no cheiro da mulher sentada à beira do caminho. Quantas as cores que já se descoloriram no camaleão que habita a mulher sentada a beira do caminho.


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18/04/2012 - Mulher total

A mulher total não diz respeito a totalitarismos, mas à totalidade de sentimentos e afeto. A mulher total ama sem trégua e preenche todos os espaços, estando eles vazios ou não. A mulher total é inteira, plena, toda. A mulher total traz em si todas as dualidades. A mulher total é feita de todos os opostos. A mulher total é uma colagem viva, em constante movimento e conflito. A mulher total está presente totalmente em vários acontecimentos, em todos os seus ângulos e apontamentos.

A mulher total relaciona-se consigo própria e com o mundo ao seu redor. A mulher total mergulha na razão e na emoção com a mesma intensidade. A mulher total causa espanto aos que não estão acostumados com sua totalidade, que é seu estado original, sua essência natural. A mulher total embora seja feita de partes mostra-se inteira em tempo integral. A mulher total é una em seus fragmentos e detalhes. A mulher total aparece de forma repentina, mas tende à eternidade. ...
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08/02/2010 - Mulher tropicália

Ah! Se seus olhos falassem a língua dos profetas anunciariam o sol que ninguém jamais viu raiar. Seus olhos são como rios que devido às águas correntes se mostram diferentes a cada novo olhar. Dos seus nervos ópticos ao seu corpo dos trópicos o tédio não existe, a rotina não insiste e o belo é tão belo que chega a ser triste.

Ah! Toma o meu peito porque ele é seu e do seu jeito me devora agora, boca e camafeu. Mulher serafim tem pena de mim deixando-me ser uma dessas seis asas que lhe fazem poema. Mostra-me suas garras, mata-me de amar e joga-me em cova rasa. Dona do paralelo mor e dos meridianos do ar me faça suar em seu suor. ...
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11/02/2010 - Mulher verde-limão

O sol cobre a cidade com seu manto de fogo. E por entre pedras e flores abrasivas, surge uma mulher morena levando em seu corpo uma blusa verde-limão. O tecido chega a brilhar de forma cítrica diante dos olhos, refrescando a vista de quem a vê passar sem se preocupar com os quarenta graus. Sua beleza parece ter viçado com a explosão de raios ultravioletas que caem sem dó de um céu cheio de buracos.

Entre o sonho e a realidade, aquela mulher passa deixando gotículas de um sumo delicado pelo caminho. Os deuses colaboram e levam para longe qualquer possibilidade de chuva. De sombra, só aquela que pinta o rosto da mulher. No mais, tudo é claridade e vaidade na mulher que segue misturando na medida exata ciano e amarelo. Diante da mulher que verdeja o cotidiano, o canto e o silêncio se encontram verdes na partitura. ...
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23/09/2015 - Mulher viola

Seu corpo é feito viola que tiro música sem nem perceber. Afino suas cordas no meu diapasão-coração. E lhe faço acorde. E me faço desejo. E há beijo em todas as casas. Tal viola você me dá raízes e alonga minhas asas. No seu braço seu choro. No seu corpo eu me deito. Na sua cintura me ajeito. E canto seguindo seu tom. Eu sou caipira, apaixonado arretado, eita trem bão. Tem voz doce e é toda encorpada. Chega tremer na minha mão. Atarraxo meu corpo ao seu e a melodia corre solta. E quando acaba uma eu começo outra. ...
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Mulher, chuva e café

Chovia. Mais um desses fins de tarde em que não se sabe se a cor do céu é negra por causa do prenúncio da noite ou por causa da chuva. As nuvens grossas impediam a lua de decifrar a charada. Tirante às dúvidas, chovia. Não aquela chuva de pancadas fortes que, de tão fortes, só acontece de repente. Chuva esta que precisava tomar fôlego para chover e, entre essas pausas, fazia com que sombrinhas se abrissem e tão logo se fechassem com ares de coreografia.

Mas, desta vez, era uma chuva leve que, de tão leve, fazia-se constante. Chuva que sufocava a poeira e deliciava a terra. Enquanto chovia esquentavam água nas chaleiras para o café. Chuva e café, um casamento feliz. E o cheiro do café misturado ao cheiro da chuva saía pelos ventos. Ventos que, como a chuva, caiam leves. O vento trazia o perfume da chuva e ganhava o perfume do café. Talvez, depois que se findasse a chuva, os aromas seriam outros. Não era para menos, a primavera estava a caminho. Mas isso ficaria para depois, por enquanto chovia....
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08/03/2013 - Mulher, dia que...

Mulher, dia que canta pelas esquinas. Mulher, dia que chora a felicidade de ser o que se é. Mulher, dia que se agiganta no calendário dos românticos. Mulher, dia de expectativa e saudade. Mulher, dia que se levanta para reverenciar essas criaturas que encantam. Mulher, dia perfumado. Mulher, dia de rímel. Mulher, dia de muita beleza e de uma pureza incrível. Mulher, dia de salto alto. Mulher, dia de meninices. Mulher, dia de saias, bolsas e vestidos. Mulher, dia de estrelas, brilhos e estribilhos. Mulher, dia de olhos absurdamente femininos. Mulher, dia de gatas e onças. Mulher, dia de unhas e garras. Mulher, dia de asas que voam longe....
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