Daniel Campos

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Encontrados 73 textos. Exibindo página 6 de 8.

22/02/2011 - Lições de vida e morte

Tive a honra de ter convivido por quase 25 anos com meus quatro avôs. Também conheci cinco dos meus bisavôs e uma porção de tios-avôs. Se hoje sou um contador de histórias, muito devo a eles. Cada qual do seu modo eles ensinaram-me muitas lições de vida e de morte. Até meus vinte três anos, dez meses e vinte e três dias de vida terrena, a morte ainda era uma coisa estranha para mim. Um tabu. Algo que só acontecia na casa do vizinho. Era como se eles, meus avôs, fossem imortais.

Embora eu já tivesse chorado as mortes de Betinho, Ayrton e Jobim e de alguns bisavôs, o meu círculo familiar mais próximo estava imune aos ceifadores. Durante a noite, acostumei-me a rezar pelos quatro e me questionei várias vezes como seria a vida sem eles. Eram próximos, na verdade, parte de mim. Não posso me queixar que os santos foram generosos comigo, afinal, poucas são as pessoas que puderam ter uma convivência tão intensa quão duradora como eu tive com meus avôs. ...
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14/01/2011 - Le Jeu de la Séduction

Sua alma é confeccionada em ouro branco, com navetes de rubis e diamantes. Espírito de seiva. Passado de marfim. Alma cortada com a exatidão de um deus ourives a partir da pureza das gemas que contrapõem seu design pouco inocente. Seu corpo físico é desenhado de forma onírica e com um detalhismo que mistura safiras azul, rosa e violeta com pavê de brilhantes. Seu coração é um broche atarracado ao peito e seus cabelos escorrem pelo pescoço como colares sutis que mudam de cor e textura ao sopro de um vento minerador. ...
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09/01/2011 - Literatus

Se for mentir, Pinóquio. Se for aprontar, Emília. Se for duvidar, Capitu. Se for amar, Iracema. Se for provocar, Gabriela. Se for comer, Lobo Mau. Se for pegar no sono, Bela Adormecida. Se for amar além da conta, Romeu e Julieta. Se for voar, Mari Popies. Se for se apaixonar, Fantasma da Ópera. Se for roubar a cena, Baleia. Se for confundir vitória com batatas, Quincas Borba. Se for iludir, Maya. Se for se devorar, Narciso. Se for investigar, Sherlock Homes. Se for se aventurar, James Bond. Se for se espantar, o corcunda de Notre-Dame. ...
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18/11/2010 - Latinidade

Hoje eu quero a mulher nascida sobre a água e renascida do fogo. Eu quero a mulher que tenha olhos de brasão. Eu quero a mulher de paradoxos, forjada entre a guerra e a delicadeza, entre os séculos dos séculos e o amanhã que ainda não vingou. Eu quero a mulher livre e transgressora, capaz de me deixar boquiaberto diante de sua boca. Eu quero a mulher inimaginada, que está além de cálculos e teorias. Eu quero avistar essa mulher caminhando pelos ladrinhos da poesia concreta que me habita. Eu quero essa linguagem de mulher na ponta da minha língua versando em segredo. ...
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09/11/2010 - Lições da natureza

Em todos os meus anos de sítio jamais vi duas galinhas chocarem os mesmos ovos, disputando acirradamente um único ninho. Ainda mais duas galinhas garnisé, bravas e espevitadas como elas só. Para minha surpresa, a cena, um tanto quanto improvável, aconteceu no quintal de casa. Aumentando o grau de improbabilidade, as galinhas escolheram o local da choca sem pensar em conforto, privacidade ou segurança. Mas elas quiseram assim, fazer o quê? Teriam que agüentar olhares, chuvas e companhias.
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06/10/2010 - Lá como cá

Lá como cá o pássaro canta na galha do ingá. Lá como cá dão vivas a Oxalá. Lá como cá o povo se vale do patuá. Lá como cá o sabiá conta em lá. Lá como cá alguém diz que dá. Lá como cá o sol morre detrás do jatobá. Lá como cá existe a promessa de um mundo acolá. Lá como cá tem quem siga o aiatolá. Lá como cá tem bebê pra babá. Lá como cá tem muito bafafá e blábláblá. Lá como cá tem vôo de biguá. Lá como cá tem assombração de boitatá. Lá como cá tem investida de lobo guará e carcará. Lá como cá tem morena dos olhos de cajá. Lá como cá era uma vez um tempo que há....
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26/07/2010 - Laços e fitas

Um sabiá me contou que um pintassilgo cochichou que escutou um inhambu dizer que hoje raiou, entre laços e fitas, o dia do seu aniversário. Os anjos acordaram cedo para fazer um céu turquesa com sol de batom e nuvens de crepom. A quitandeira lá de Minas vem num trem trazendo um tabuleiro cheio daqueles doces que você tanto gosta. O velho ourives espera seus dedos com uma pedra de rubi cor de pitanga. As crianças já estão correndo pela casa, querendo lhe entregar cartões e corações. Sua mãe, com sacolas de bordados, e seu pai, com um tempo guardado, estão na sala de estar. Feches os olhos e ouça o florista buzinando lá no portão. ...
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17/07/2010 - Lacunas de mulher

Quem é a mulher com olhos acortinados? Cortinas estas que escondem pátios espaçosos decorados por fontes de águas cristalinas e imponentes colunas. Será fruto da mitologia ou de outra ciência não exata. Nas praças interiores dessa mulher, estátuas de heróis sem pátria e mulheres nativas de saias coloridas e longas tranças. Que espírito de Rapunzel arrependida é esse que povoa os ares tristonhos dessa mulher que tem medo de jogar seus cabelos para algum forasteiro? Que mulher é essa que deita sua boca em dunas e se faz de lacunas por entre o doce e o austero? Será o fogo de Nero ou o demônio de Lutero? Será mulher de lacunas ou lacunas de mulher essa que quer como eu quero? ...
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24/04/2010 - Ladainha lírica

Mãe dos ares perfumados, perfumai minha estrada. Mãe dos jardins crescidos dentro d’alma, florescei em mim santas sementes. Mãe dos ventos suaves que afagam a face dos filhos seus, ventai um tempo novo. Mãe dos mantos azuis e vermelhos, guardai-me. Mãe de olhares de açúcar, olhai-me com mansidão. Mãe nuvem e céu, descei cá na Terra. Mãe de asas imensas e brancas, levai-me a sua morada. Mãe das luzes incandescentes, iluminai meus passos. Mãe das chamas mais ardentes, queimai meus medos. Mãe guia das estrelas, guiai-me. Mãe da igreja, renovai a minha face. Mãe das velas que iluminam os caminhos de dentro e de fora, clareai os pensamentos. Ò Mãe de tantos nomes, ò auxiliadora, auxiliai-me. ...
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14/04/2010 - Luto oficial de três dias

A morte de alguém famoso ou uma tragédia coletiva são fatos que levam à administração pública decretar luto oficial por alguns dias. Na maior parte das vezes, três. As bandeiras hasteadas a meio mastro indicam esse estado de pesar. Mas no que isso diminui a dor da perda? Para além do sinal de respeito e tristeza pelo acontecido, o luto oficial deveria levar a atitudes diferentes. Algo que possa ultrapassar o caráter de homenagem, já banalizada hoje em dia, e interferir na prática.

De que adianta alguém desconsolado com a perda de familiares, casa e bens em razão de uma enchente saber que o presidente, o governador e o prefeito decretaram luto oficial de três dias. Tal decreto não enche sua barriga, tampouco traz seus mortos de volta. Mais do que uma reverência, o luto oficial se transformou em uma mera burocracia. O presidente da Polônia morreu e o Brasil decretou luto oficial de três dias. O que isso representa? Diplomacia, meu caros, política de diplomacia....
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