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Encontrados 208 textos. Exibindo página 9 de 21.
17/11/2013 -
É chegada a partida
Se nunca mais ouvir falar de mim, tampouco eu mesmo falando de mim, não se desespere. Se nunca mais ler um texto meu, não se preocupe. Se nunca mais se achar pelas minhas palavras, não chore. Se nunca mais escutar a minha voz escrita em algum canto, não grite. Se nunca mais me vir caminhando pelas linhas afora, não se aborreça. Se nunca mais tropeçar nos meus versos, não soluce. Se nunca mais encontrar minhas vírgulas, não adoeça.
Eu sou um cavaleiro da poesia e, como tal, preciso partir com a mesma ausência de avisos e sinais que marca a minha chegada. E como as chegadas, as partidas também tem um propósito maior, mesmo que desconhecido por enquanto. Porém, um dia tudo será compreendido como o melhor que tinha a ser feito. Sou um cavaleiro que, dada sua missão por cumprida, seja de salvar ou matar uma princesa, parte em direção a outros reinos. ...
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06/11/2013 -
Eu Lua
Eu sou de lua. Eu sou da lua. Eu sou de Olorum. Tenho a cabeça e os pés mergulhados na lua. Meus chakras se harmonizam com as forças lunares. Sinto suas vibrações e encantos. Ouço seus cantos. Busco nela todo acalanto. Sou influenciado pela lua e suas fases, como as marés, as plantas, os cabelos, as frases dos poetas. Ela mexe comigo em todos os sentidos e para todos os propósitos. A lua me dá sensibilidade, intuição e segurança. A lua me faz inspiração. Sou mistério, sou cíclico, sou lua.
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20/09/2013 -
E o coração alado...
E o coração alado finalmente ultrapassou os limites da garganta, marcando a língua portuguesa com seu gosto lírico antes e partir. E o coração alado ganhou a noite, voando entre estrelas de néon e luas de batom. E o coração alado abriu suas asas ao sexo dos anjos por entre nuvens de algodão e céus de crepom.
E o coração alado, para ganhar fôlego para novos vôos, equilibrou-se em sacadas. E o coração alado ultrapassou as fronteiras físicas chegando aos planos da imaginação. E o coração alado passou por canteiros, por borbulhas, por deslizes, por palavras de amor, por espumas ao vento. ...
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17/09/2013 -
Ela foi
Pelos jardins do medo, ela foi pirata, enterrando, desde muito cedo, arcas e mais arcas de segredos. Pelo mar azulado, ela foi se despindo do passado, num salgado ato de amar. Pelas cercanias da imensidão, ela foi solidão, a única e própria companhia, fantasia e ilusão. Pelas estrelas de cristal, ela foi donzela, foi moça da janela, foi uma versão de cinderela e foi passista da Portela. Pelos terreiros de santo, ela foi encanto, quebrando quebranto e batendo cabeça a quem governa seu corpo inteiro. ...
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04/09/2013 -
Entre isso e aquilo
Entre mortos e feridos, não se esqueça de sobreviver. Entre chegadas e partidas, não se esqueça de acontecer. Entre quês e porquês, não se esqueça de confessar. Entre perdidos e achados, não se esqueça de se entregar. Entre deus e o diabo, não se esqueça de acreditar. Entre águas e vinhos, não se esqueça de passar. Entre dores e amores, não se esqueça de tentar. Entre culpas e culpados, não se esqueça de perdoar. Entre erros e acertos, não se esqueça de se permitir. Entre céus e terras, não se esqueça de voar....
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27/08/2013 -
Esse bicho
É essa coisa no peito, revirando, moendo, torcendo. Muita gente fala de nó na tripa, mas o que eu tenho é nó no peito. E são vários nós. É uma coisa que ata, que embaraça, que aperta. Difícil explicar. Uma sensação de angústia, de agonia, de “nada vai dar certo”. Nós pessimistas. O coração bate como que machucado, como que sem espaço, como que açoitado. Fica difícil até para respirar fundo. E quanto mais raso se respira, mais difícil fica viver e conviver e reviver como se deve.
É como se tratores com aqueles implementos pesados que reviram tudo, deixando tudo fora do lugar, fossem e voltassem dentro do meu peito dia e noite. Por fora, demonstrações de cansaço, fadiga, desânimo. Por dentro, marcas e mais marcas. Falam de encosto sentado sobre nossas costas, mas eu quero falar de um encosto acomodado dentro do peito. Um encosto sem rosto e com tantos rostos ao mesmo tempo. Um encosto que não aceita reza, perdão ou rendição. ...
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27/07/2013 -
E seu bicho, como ama?
Os cachorros amam fielmente, com lealdade e devoção. Os gatos amam de forma elegante, mas com total independência. Os pássaros amam de forma arisca, doando um pouco de sua música e de seu céu. Os cavalos amam com direito a trotes e galopes, permitindo ser montados. Os peixes amam deixando ser fisgados. Os coelhos amam aos montes. Os elefantes amam em bando. As vacas amam, por entre tetas, dando o próprio leite, assim como as galinhas amam chocando novas galinhas. Os macacos amam dando banana. Os galos amam no papel de relógios pontuais e afinados. Os tubarões amam, com sangue e honra. Os jacarés amam fadados a virar presentes apaixonados, de sapatos a bolsas. Os lobos amam de forma platônica, uivando à lua....
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21/07/2013 -
Exatamente assim
Ouça o que a ternura tem para dizer, palavra por palavra. Brinque, sempre que possível ou impossível, com a intimidade. Peça perdão a todo instante para garantir uma absolvição antecipada. Espalhe palavras gostosas por terras que vão além de onde sua vista alcança. Respeite as particularidades do dia e da noite, curvando-se ao sol e entregando-se à lua. Tateei o medo até que ele – o medo – não sinta mais medo de você. Durante as tempestades, ofereça doses e mais doses de mansidão aos que chegam trazendo ventos, raios e trovões em suas falas e gestos. Faça dos restos de tantos eus o seu eu inteiro. ...
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29/06/2013 -
Eis o flamenco
De repente, os pés, do alto de seus saltos pretos e avermelhados, golpeiam o chão como se fossem exus. Ora são passos sutis como um sopro ora são passos enérgicos como um grito. São movimentos fortes e intensos que buscam a quebra de limites entre silêncios e aplausos. Tudo é tão desafiador e convidativo. O flamenco vaza dos olhos, da boca, da pele da bailarina, que emociona e sensibiliza sem perder o fôlego já perdido pela plateia.
Em poucos instantes, ruas e prédios, árvores e carros, pedestres e cachorros estão hipnotizados pela mobilidade da bailarina que desafio o mundo em suas panturrilhas. Uma arte viva regada a ritmo, técnica e capacidade aeróbica. Uma coreografia dramática que chega a tourear. Enquanto sentimentos são expressados em uma dança sedutora, as expressões pingam como suor por entre passos e palmas dentro do tempo.

17/06/2013 -
Ela se aninhou
Ela não sai do ninho. Ela não quer painço, alpiste, girassol. Ela tem medo da alface, faz cara feia para o jiló e corre da goiaba. Ela perdeu o apetite, por amor. Ela não canta, não assovia, não coloca pra fora qualquer demonstração de alegria. Ela se internou no ninho desde que se apaixonou. Ela não se dependura no poleiro, não fica de ponta cabeça, não pede para ir ao viveiro. Ela se isolou do mundo inteiro para viver a sós seu amor profundo.
Ela não sai do ninho. Ela não quer água para beber ou para se banhar. Ela não deixa seus aposentos nem para espiar o sol. Ela não se espia no espelho. Ela não penteia seus cabelos. Ela não conversa com os vizinhos. Ela não abre seu coração. Ela não tenta fugir. Ela amou. Ela enviuvou. Ela se reapaixonou. Ela aninhou. Ela perdeu a noção do tempo. Ela não mais abriu suas asas ao vento. Ela se culpou. Ela se condenou. Ela se trancou.
