Daniel Campos

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Encontrados 208 textos. Exibindo página 21 de 21.

Espelho, espelho meu

A suposta guerra entre EUA e Iraque poderia ser explicada através de diversas visões, desde um confronto entre dois países com posições dispares até uma crise freudiana que assolaria George W. Bush Júnior e o incumbiria de terminar o que seu pai começou com Sadam. Então, qual é a lógica da guerra?

A guerra do Golfo, no começo da última década do século XX, deixou cicatrizes. Um Iraque destruído e um ditador fortalecido pela relação de ódio com os americanos. Embargos comerciais de um lado e bandeiras americanas queimadas nas ruas, do outro. Este conflito é como aqueles filmes que pedem continuação. Antes de aparecer na tela o célebre The End, existe a deixa para o segundo episódio. ...
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Esperança

O galo avermelhado se equilibra e, entre asas abertas e peito estufado, canta. O dia ainda tem a pele negra. Bento, um homem com marcas de sol e de pouca conversa, acorda. O relógio passeia em torno das quatro horas da madrugada. Sai com as botinas e com uma camisa rala de flanela. Sai pelo orvalho. Quebra a escuridão num cigarro aceso. Os pés e a terra fria. Os pés e o esterco. Os pés e o mesmo caminho de anos atrás.

Como de costume, o encontro. Esperança o esperava com olhos grandes. Sozinha no curral, Esperança. Uma vaca mocha, branca com manchas negras. O coxo para tantas bocas e uma só vaca. Naquele mangueiro, Bento se encontrava com o rasto de tantas outras vacas. De fato, tinha lembranças. Aquele curral que teve quase cem cabeças, hoje, só tem uma. Esperança. Dói olhar aquela esperança solitária. A dor traumática de se separar daqueles bichos. Mas veio a crise e não tinha como ser diferente. Bento não entendia de política, mas sabia que a culpa era daqueles homens engravatados. ...
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Estado de emergência

Lá, deve haver aquele cachorro que anda com os olhos baixos e as costelas quase perfurando a pele. Lá, deve haver aqueles que andam com latas na cabeça, o dia todo, a procura de um pouco d?água. Lá, deve haver aquelas mães que velam seus filhos ainda bebês. Lá, deve haver aquela menina que sonha com romances nunca lidos (os olhos não sabem ler essas coisas). Lá, deve haver aquelas noites que se tornam ásperas como as mãos que lidam com a terra. Lá, deve haver aquela vontade de não se ter a hora do café, do almoço, do jantar, por não se ter o que comer. Lá, deve haver aquele homem que revira a poeira da terra com os pés, aliás, aquele homem não deve ser nem mais homem, deve ser poeira. Lá, deve haver aquela cabra que quando grita não se sabe se é de dor ou de tristeza. Lá deve haver aquela roça de milho que secou antes das espigas. Lá, deve haver aquele menino que corre com a barriga cheia de vermes. Lá, deve haver aquele rio onde correm as rachaduras da terra. Lá, deve haver aquela senhora que ascende uma vela à imagem de um santo, assim como faziam sua mãe, sua avó, sua bisavó e reza as mesmas rezas. ...
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Eu amo che guevara

Vestia vermelho. Mas não era um vestido vermelho de noite, tampouco uma lingerie vermelha de uma hora especial, muito menos um blazer para o trabalho. Era uma camiseta surrada contendo alguns dizeres que, na verdade, era um grito de guerra. E mais, era uma camiseta de hora qualquer. E a mesma camiseta usada por ela, vestia dúzias de homens que levavam em seu rosto a barba ainda por fazer. Para completar a brutalidade da veste, como uma flor que, mesmo sem querer desabrocha entre as pedras, vestia calça jeans e tênis. Nada combinava, nada rimava, nada se casava no visual daquela mulher que queria ser pedra e nascera flor. ...
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Eu e a roda-viva

Com todo o respeito e humildade necessários ouso professar: tem dias em que me sinto, tal Chico Buarque, "como quem partiu ou morreu". Dia em que me arrependo de amanhecer. Todos podem sorrir ao meu redor, mas acho isso tudo "um porre". Na cama, em casa, na rua, nenhum lugar me parece bom, uma angústia interior me percorre numa ânsia que me sufoca. Uma situação de incômodo me encurrala, não sei se o mundo me incomoda ou se eu incomodo o mundo.

As companhias pessoais ou materiais (os livros, os discos, os jornais,...) não me satisfazem. É uma sensação estranha de um desespero remoído, uma agonia que me obriga a fugir de tudo e de todos. Então, sem mais razões, encontro-me num canto, distante e solitário, onde eu posso me encontrar comigo mesmo, sem influências externas....
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Eu prometo

Há quem prometa a lua e nem mesmo alcança as estrelas. Há quem prometa tomar jeito e continua igual ou até pior. Há quem prometa o céu e nem acredita em Deus. Há quem prometa voltar e nunca mais volta, sequer para dar uma desculpa. Há quem prometa parar de fazer promessas e nem desconfia de que a vida não existe ou, ao menos, não tem graça, se vivida sem promessas.

A promessa pode se dar aos murmúrios ou até mesmo na frente das câmeras de televisão. Promessas nascem em todo lugar. Algumas são ensaiadas, outras de improviso. O ato de prometer não é exclusivo de um ou de outro, todos prometem, cada um a sua maneira. Todavia, é preciso mais do que sorte para fazer a promessa parecer irresistível....
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Eu quero lhe falar o meu amor

Eu quero lhe falar o meu amor, mas esqueci o texto. Eu quero falar o meu amor, mas não sei se os nós irão permitir. Eu quero lhe falar o meu amor, mas é preciso saber a dor que isso irá causar. Eu quero lhe falar o meu amor, mas e se eu falar errado? Eu quero lhe falar o meu amor, mas as palavras devem ser bonitas. Eu quero lhe falar o meu amor, mas e se o dia amanhecer nublado? Eu quero lhe falar o meu amor, mas eu não sei qual o horário adequado. Eu quero lhe falar o meu amor, mas eu precisava de flores, música, cenário. ...
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Eu quero uma casa no campo

O dia, da minha janela, amanheceu nublado. Embora ainda não haja enxurrada, já aflora das nuvens mais fagueiras o cheiro da chuva. Um cheiro esquecido, adormecido, perdido. Os pedaços de prédios que vejo daqui estão todos com suas janelas fechadas e assim se mostram ainda mais brutos como grandes totens emburrados. Não há ninguém debruçado nas sacadas, soltando maranhão da janela, mordiscando maçãs do amor no parapeito, tampouco fazendo caretas nos vidros temperados numa falta de sal e açúcar. No caminho de pedra, que serpenteia sob as minhas vistas, não passa ninguém. Os atletas, os trabalhadores, os foliões, os pedintes, os apaixonados, os sonhadores, os ladrões, os cachorros de coleira e os carrinhos de bebê devem estar internados dentro de casa por conta do "tempo feio", como gostam de dizer por ai em dias como o de hoje....
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