Daniel Campos

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Encontrados 208 textos. Exibindo página 2 de 21.

18/04/2016 - Ela se foi e ficou

Ela pegou os sapatos e saiu descalça, sem vestido nem calça. Ela me amou e ignorou as consequências. E se foi farta da minha paciência. Condenou-me culpado, em olhares transitados e julgados, sem se permitir ouvir a minha inocência. Não pedi clemência, mas uma última e eterna sobreposição de destinos. Mais uma vez fui o seu menino. E ela, arteira como sempre, foi de uma só vez flor, fruto e semente. Intensa em sabor, em cor, em furor. Abriu os braços e o vento a levou. Porém, o melhor dela, aquela que foi Bela Adormecida e Cinderela, num conto de fadas contado de forma reinventada, ficou. Ela pegou os sapatos e saiu descalça, sem vestido nem calça. No entanto, suas asas de garça, continuam na minha graça. ...
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15/04/2016 - Escutei o mar

Quando encostei meu ouvido em seu peito escutei o mar. Ao contrário de batimentos cardíacos, o som do mar. Mar alto que quebrava em meus ouvidos em sustenidos ainda nem sonhados pelo compositor. E no seu beijo um gosto de sal, como saliva do mar. Não é à toa que sua cor preferida era azul. Azul ardósia. Azul cobalto. Azul marítimo. Azul de todo mar extravasando por suas palavras, por seus olhos, por seus poros. Ao vento seu corpo ondulava. Ao tempo seu corpo ia e vinha sem parar. Se derramava e puxava com a mesma intensidade. Sobre ela eu me sentia uma gaivota. Debaixo dela eu me via como um tubarão. Nunca descobri ao certo a sua profundidade, mas sua imensidão era coisa para lá de toda saudade que há. Se enfeitava de conchas e tinha amor por Iemanjá....
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09/04/2016 - Estrada cigana

A minha estrada é rosa, azul e grená. Se ocê, bem cê, tiver o passo leve e doce, pode passar por cá. Tem sonho, esperança e desejo por todo canto, magia não vai te faltar. Só não venha com pé pesado pra desmanchar o encanto que há. A minha estrada é o acalanto, o meu lugar. Sou cigano e minha sina é caminhar. Sai ano entra ano e eu continuo a girar. O meu corpo é a agulha, a minha alma a linha e a minha estrada o linho. Borda, poeta borda o coração da menina... A minha estrada de amoração transborda e não termina. Na minha picada tem fogueira, dança, encontro e solidão. Abro caminhos que fogem da minha imaginação. Sou cigano de acertos e de enganos, e passo como as mãos apaixonadas passam pelas notas de um piano. A minha jornada é de sol e enluarada, se ocê, bem cê, tiver o passo firme de um sabiá, pode passar por cá. O meu lugar pode ser o seu despertar.


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20/03/2016 - Eu voei

Arrumei a cama com uma colcha de retalhos dos sonhos que já tive e que hoje me esquentam nas noites mais frias. Enchi o bule de café para engolir as palavras que descem a seco pela minha garganta. Palavras que não quero engolir. Palavras que se remoem pela minha boca querendo fugir. Palavras que perderam a hora de serem ditas. Palavras benditas que se tornaram malditas, e que, mesmo bonitas, ninguém as repita. Coloquei o gosto da vida que ainda me resta no meio de um pão. E mastiguei o que ainda me sobra como um cantor mastiga a sua canção. A mesma canção que ele canta toda vez que sobe no palco como se fosse a sua oração. Abri minha janela, dei bom dia ao infinito do sol reluzindo pelas telhas de zinco, tendo a certeza que dois mais dois são cinco. Olhei as horas e mais uma vez veio a tristeza de ainda, de ainda não ser a minha hora. Liguei a TV, abri um livro, pensei em mim, em você, em nós, o que eu ainda vivo. Fui para frente do espelho e vi meu sorriso vermelho, em carne viva, numa sina de ser imenso sendo pequeno, de se ouvir de dentro para fora, de vir mesmo tendo de ir embora, de ser tantas vidas num só. Tirei o pó da estante, coloquei um disco para rodar, fechei os olhos e dancei com elefantes, como se eu fosse um menino gigante. Depois da dança, senti como se tivesse estrelas na língua, o sabor da esperança, peguei a colcha de retalhos dos sonhos que já tive e coloquei em minhas costas como se fosse asas, e pulei na imensidão desse oceano que veio quebrar suas ondas na minha janela. E eu juntei meus sonhos, amei-os como nunca, colei-os numa junta, e, por mais incrível que seja, veja, eu voei.


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27/02/2016 - Esquinas e porta-retratos

Porta-retratos são como espelhos do passado. É como o ontem me olhando, dizendo o quanto fui feliz. É um tempo que existiu, que me sorriu e depois seguiu. O que eu quis foi o passado no futuro, fazendo do presente um lugar pouco seguro. E eu me olho e me perco nessas fotografias do ausente. Podia ter sido, podia ser tão diferente. Caminhos cruzados deviam seguir lado a lado. Por que as ruas cruzam e depois correm em separado. Cada esquina é um porta-retratos, um cruzamento concreto e abstrato que dura para sempre num tempo que existe ali, ali somente. Logo ali à frente a esquina terminou, o homem, olhando para a lua, se perde e segue por uma rua e a menina que o beijou, flutua por outra. E a história tão amarrada naquela esquina se vai tão solta. Do encontro do tempo e do espaço nas esquinas, nos porta-retratos nasce o desencontro de homens e meninas que ainda andam tontos à mercê do que tudo isso os destina.


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22/02/2016 - Ele ainda está vivo

Se tudo terminasse agora eu mesmo assim não iria embora porque não aceito o fim do que não chora. E eu ainda sorrio, você ainda gargalha como se sentisse cócegas na alma que te avacalha. Não há o frio entre nós do vazio. O amor não encalha quando a calha do nosso sonhadeiro ainda dá pro estrangeiro. Ninguém é prisioneiro de ninguém, olhe às cordas do violeiro e entenda que as modas vão e vem. Se tudo terminasse agora e o cupido assinalasse com sua flecha torta o ponto final da nossa história eu mesmo assim gritaria “maldita escória” de anjos sem memória que acabam com amores como se nunca tivessem sido pecadores. E eu, mesmo a contragosto do céu, mesmo desobedecendo o meu papel e outros anseios, manteria o gosto de te amar do meio jeito roto, pois o amor que há, ligando meu peito aos seus seios, não está morto. ...
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08/02/2016 - Eu faço e ela nem aí

Ela toca viola e não me dá bola. Ela masca chiclete e me chama de pivete. Ela se escancara toda e não me mostra nada. Ela vai, vai, vai e não cai na minha estrada. Ela bamboleia em noite de lua cheia. Ela uiva e sua falta explode na minha boca como se fosse uva. Ela toma seu rumo e me deixa fora do prumo. Ela não se rende a mim, mas leva todas as flores do meu jardim. Ela me faz de palhaço e eu rio feliz só de poder seguir o seu rastro que cheira a anis. Bem que eu a quis e ainda quero, mas ela diz que foi feita para um rei. Eu não sei, mas acho que ela se descobriu mais feliz no dia em que eu confessei que eu fiz romaria, promessa, confusão, peça, ramalhete, sorvete e até poesia para casar meu coração ao dela.


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03/01/2016 - Entre peixes e pássaros

Eu quero rasgar a noite que traz em seus olhos feito farol tombando ao mar só para ter certeza que a gente vai se encontrar pelo oceano de nós dois. E não há de nos faltar água doce enquanto tivermos nossas línguas. Só não corte as unhas, pois, quando sentir frio há de abrir meu peito para se aninhar e, quando sentir medo há de abrir minhas costas e soltar minhas asas que vão te levar para os ninhos dos nossos antepassados que amaram como pássaros e morreram como peixes, e vice-versa, tudo entre o céu e o mar, por escolherem viver com quem amaram.


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20/12/2015 - Eu sou o seu

Eu sou seus trilhos, seus paralelepípedos, suas trilhas. Sou o que te leva adiante. Sou seu pai, seus filhos, suas milhas, o que nunca te trai. Eu sou sua visão, seu coração, seu sim e não. Eu sou o seu amante, o seu amor, o seu calor sem explicação. Eu sou o seu mocinho, o seu ninho, o seu caminho que a leva e a traz daqui. Eu sou o que te faz sorrir e chorar, cair e levantar, sumir e se encontrar. Eu sou o seu leão, o seu caçador, o seu último primeiro novo velho amor.


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21/11/2015 - Ela virou vagalume

E ela se desprendeu da mão do pai e correu no meio dos vagalumes, como se eles fossem estrelas beirando o chão e ela uma menina, apenas uma menina, imersa, totalmente imersa, na imensidão. O pai achou graça da menina dançando, saltando, cantando, rodando por entre os vagalumes. Foi alegria, contentamento, euforia, sentimento, perfume. Ela falou que seria vagalume, o pai não deu atenção. Achou besteira, bobagem, coisa de que não tem idade ou própria vontade. O pai se distraiu, a menina se abstraiu e ninguém viu o caminhão que cortou o estradão sem farol, sem buzina, na banguela, na surdina. O pai gritou, chorou, esperneou e a menina nem escutou. Por mal ou pro bem, ela cumpriu sua sina e virou vagalume também. O pai achou que ela acabou, mas ela, na verdade, iluminou.


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