Daniel Campos

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Encontrados 208 textos. Exibindo página 3 de 21.

16/11/2015 - Entre o real e a ficção

E de repente, a claridade do dia ficou restrita apenas a dois olhos caribenhos. Ela, vestida como quem vai ter com o mar, recebeu-me na penumbra dos seus desejos. Velas, perfumes e liras de Caetano. E como numa lei física, atraímo-nos. E como numa equação química, reagimos. E como num verso de Pessoa, existimos. Entre beijos e abraços aproximamo-nos tanto a ponto de executarmos um perfeito eclipse. O coração bombeava eu te amos e as mãos buscavam ter certeza de que os corpos existiam para além da fantasia criada. Os lençóis eram tão virgens como o momento desfraldado. E quando os corpos se fundiram, Caetano se calou e as ondas do mar bateram forte revirando olhares de modo que as visões dali por diante ficaram fora de seus lugares. E não se soube mais o que era real e o que era ficção.


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25/10/2015 - Ela caminha

Ela caminha como se não tocasse o chão. Ela me vinha como se não viesse mais não. Ela tem figuras geométricas espalhadas pelo corpo num desenho louco num sopro de deus. Ela caminha como se nada dela fosse mais meu. Ela balança a silhueta e me vira a ampulheta. Ela apaga os rastros antes de marcar o solo. Ela passa e eu imploro por braços, pernas, colo, abraços, enfim, por fazer parte daquela arquitetura. Ela passa e ateia em mim o fogo de uma doce loucura. Ela vem com jardins suspensos. Ela vem com um corpo denso que mesmo assim se esvai pelo ar. Ela surge e ruge e canta e decanta e mia e se esguia pelas trilhas. Ela passa como ilha flutuante, cantante, alucinante pelo meu oceano. Ela com seus tantos planos e eu com meus enganos. Ela passa e o mundo treme, geme, fica sem leme. Ela esvoaçante, dançante, delirante. Ela caminha como quem alinha saturno, marte e plutão num só olhar. Ela trilha fazendo picada no meu coração e eu, capitão-do-mato, perco-me em mim mesmo. Ela caminha e a realidade segue a esmo num completo desacato. Ela caminha como que dando linha ao meu maranhão.


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27/09/2015 - Exitus

Eu não sabia o que queria, agora quero o que não sei. Eu ia e já não hei. Eu nunca fui de conversa, agora ando calado. Eu vou ao futuro e vejo o passado. Eu namoro a lua e ela não namora ninguém. Eu ando pelas estradas de sabe-se lá quem. Será de alguém? Eu aperto o passo e ponho rastro sobre rastro. Eu me volto ao espelho e não vejo nada. Quantos pássaros são precisos para fazer uma passarada? Tenho muitos cantando, voando, empoleirando em minhas árvores interiores. Eu semeio vento e colho flores. Há algo de errado. Não sei se sou eu ou se eu sou aquele que passou ao lado. Será que na noite todos os gatos são pardos? Se tudo é de Deus por que sou eu quem carrega esse fardo? Se nós nascemos e morremos sós por que fui me querer amado? Não sei mais qual é o meu livro de cabeceira. Até que momento minha paixão ainda se equilibrou inteira? Quanto de mim já entreguei à fogueira. Quantas vontades, fantasias, esperanças se sacrificaram por mim. Eram elas ou eu? E agora quem sou eu? Rei? Plebeu? Antes eu tinha sonho, hoje tenho sono. A quem pertence um cão sem dono? E toda vez que eu digo adeus é porque o começo se perdeu. E é no recomeço que me faço eu.


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07/09/2015 - Eu árvore

Há muito tempo eu fui nasci, cresci e morri árvore. Eu tive raízes que ainda sinto me levando para o fundo da terra em busca de águas e minérios. Era formado por galhos, por tantos galhos, que me fazem achar dois braços pouco para tudo o que eu preciso abraçar. Não é à toa que de vez em quando um pássaro pousa em mim. Já fui desejado. Quiseram a minha sombra, os meus frutos maduros, as minhas sementes, o meu lenho. Quantos quiseram me derrubar. Hoje choro com minhas irmãs árvores sendo lambidas pelo fogo ou sangradas pelos machados. Quantas vezes eu me corto e meu sangue é seiva. Não estranho de me procurarem para fazer seus ninhos. Por todo o meu ser flui a energia das árvores, dos espíritos das árvores. Muitos riem e querem me dar camisas de força por me encontrar conversando com jacarandás, mangueiras, amoreiras, ipês, jabuticabeiras, jequitibás... Tolos! Não percebem que as árvores dançam, falam, cantam, mudam de lugar sob os narizes incrédulos. O mundo é das árvores que nos dão de comer, de beber, de vestir, de escrever... Por conta desse meu passado sou tão apegado com as folhas. Enquanto muitos só leem páginas de jornais, revistas ou livros eu sigo lendo as folhas das árvores e assim releio a minha história. Hoje eu ainda conto as prosas, os romances, os versos que o vento, no passado, deixou em minha cabeça, ou melhor, em minha copa.


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01/08/2015 - Enxergue além

Nunca se contente com o que você vê. Há sempre mais a ser visto e revisto. Enxergue além. Busque olhar o que vem de dentro. É tempo de embrenhar os olhos pelo sentimento. Invente como invento um novo jeito de olhar às estrelas que estão por todo lugar. Tem sempre algo novo a ser encarado, mesmo que esse algo esteja no passado. Empenhe seus olhos ao tempo e mire o alento. E busque assento aos seus olhares no que está depois dos habituais lugares. Afunde-se no que esconde por detrás da pele, da carne, dos ossos, do coração. Ponha seus olhares a serviço do reboliço dos teares da visão. Há mais a ser visto do que pode imaginar quando se olha a sonhar.


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05/07/2015 - Entre tempos

Preocupa a minha falta de tempo. É como se houvesse um grande nó me atando entre o que sou e o que quero ser. Segundos, minutos, horas vão passando e eu vou ficando. Minha cabeça não para, mas meu corpo e minhas ações não têm o ritmo dos meus pensamentos. E eu vou ficando ao tempo. Rezo por bons ventos. Ventos que me empurrem. Ventos que me impulsem. Ventos que me levem ao que me falta. E se o vento não vier, que venha a maré alta, a quinta fase da lua, os cavaleiros do apocalipse. Que o mundo chacoalhe, que norte e sul se embaralhem e a previsão mais certeira falhe por inteira. E que assim, entre tempos, eu seja não o que eu quero ser, mas o que eu nem esperava viver.


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22/06/2015 - Era o primeiro, a segunda...

Era só o primeiro dia, o primeiro beijo, o primeiro vento, o primeiro sol. Era só a segunda noite, a segunda-feira, a segunda sina, a segunda mão. Era só o terceiro raio, o terceiro ato, o terceiro sonho, o terceiro deus. Era só a quinta avenida, a quinta poesia, a quinta teoria, a quinta expectativa. Era só o sétimo filho, o sétimo destino, o sétimo elemento, o sétimo cálice. Era só a décima vontade, a décima fantasia, a décima intenção, a décima bobagem. Era só o centésimo clarão, o centésimo encontro, o centésimo pulso, o centésimo pensamento. Era só a milésima adrenalina, a milésima moda, a milésima chuva, a milésima estrela. Era só o infinito tempo, o infinito desejo, o infinito silêncio, o infinito ser. ...
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21/06/2015 - Eu todo

Do outro lado de mim há mais de mim que eu possa imaginar. Sou pêndulo, espécie de barco ao mar, que com as ondas, tem sua carga de sonhos jogada pra lá ou cá. Se fosse pássaro, volta e meia, inclinar-me-ia para a direita e para a esquerda, para que o que há de sentimento de ambos os lados chegasse ao coração. Nem sempre o que sou é o meio, pois pendo de acordo com o que sinto, vejo, ouço. E devo confessar que ando sempre penso ao lado da emoção. Se quiser me conhecer realmente deve me olhar por todos os lados e me pegar como um todo não desprezando parte alguma. Deve levar em conta o inteiro de mim, pois há ilhas nesse continente que sou com amor extremamente concentrado que não pode ser ignorado.


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16/06/2015 - É mentira

Eu nunca fui de fazer poema. Prefiro a realidade ao cinema. Não gosto da lua, tomo banho de sol. Nunca quis subir num farol. Fecho os olhos para as estrelas e nunca perguntei aos alados como faço para tê-las. Fujo do mato. Desacato os bichos. E ao coração apaixonado eu digo sempre: deixa disso.


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26/05/2015 - E deixa viver

Eu ainda não sei o que vou fazer amanhã. Só tenho o hoje e o hoje é só o hoje, tanto que nem sabe do amanhã. Eu ainda não sei se vou pro norte, se vou subir ou descer, se é praia ou montanha, só sei que a sorte vai me querer. Eu ainda não sei o que escrever, só quando virar a próxima página é que eu vou saber. E deixa viver.

Eu ainda não sei o que será do meu amanhã, só sei que eu vou ser o que eu sou e assim meu sonho vai pra onde vou. Não sei o que será, mas o que há de ser será. Pode ser que eu seja estrada, casa, asa... Pode ser que seja sim ou que seja não, só sei que vou seguir o coração. Estarei entre a verdade e o mistério. E deixa viver. ...
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