Daniel Campos

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Encontrados 207 textos. Exibindo página 15 de 21.

05/09/2011 - Do inverno à primavera

O inverno, seco e frio, rigoroso e bravio, está prestes a morrer nos braços perfumados da primavera. O gigante das geadas e estiagens caindo aos pés da dama das flores. Flores de algodão, de colibri, de meia-estação. O gado magro voltará a ganhar carne. O mendigo poderá dormir tranquilo, sem o pesadelo de sofrer uma hiportemia no meio da rua. Os leitos dos rios, rachados se sol, ganharão a revisita das águas. Os canteiros empoeirados serão coloridos naturalmente por tons fortes e femininos.
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19/06/2011 - Dados

Eu já lhe dei minha vida, minha alegria. Eu já lhe dei meu sangue, minha fantasia. Eu já lhe dei minha chegada, minha partida. Eu já lhe dei meu romance, minha escrita. Eu já lhe dei minha profecia, minha ferida. Eu já lhe dei meu buquê, minha margherita. Eu já lhe dei minha derrota, minha vitória. Eu já lhe dei meu porquê, meu depoimento. Eu já lhe dei meu brilho, meu trilho. Eu já lhe dei meu refrão, minha história. Eu já lhe dei minha solidão, meu sentimento. Eu já lhe dei minha nuvem, meu vento. Eu já lhe dei minha memória, meu tempo....
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05/06/2011 - Dançando com a lua

Quando ela acordou, o sol ainda tinha os olhos fechados. Os vaga-lumes ainda brincavam ao som dos grilos apaixonados. Nas ruas não passava ninguém, nem andarilhos, nem carros, nem trem. Os galos nem pensavam em cantar. Um pé de dama da noite, perto do portão, exalava perfume de mulher. As crianças sonhavam com carrosséis e os poetas tinham pesadelos com a solidão. E ela, numa pele quente como flanela, contrariando o relógio natural e o horário oficial, seguia acordada, mas longe de ser qualquer coisa de alma penada. ...
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22/05/2011 - Dia das rosas

Hoje é um dia propício a encantamentos de amor e paixão. Afinal, hoje é dia das rosas. Dia ideal para namorar, noivar, casar. Dia de rezar, de ofertar rosas, de acender velas e incensos perfumados, de caprichar nas simpatias.

Hoje é dia de Rosália, o festival das rosas. Hoje é dia de Vênus, a deusa romana da beleza e do amor. Hoje é dia de Flora, a ninfa que floresce o mundo. Hoje é dia de Santa Rita, a santa que fez brotar rosas da neve.

Hoje ainda é dia de duas rosas virgens – Santa Quitéria e Santa Júlia de Cartago. Rosas mártires, mortas em nome da paixão de cristo, antes mesmo de desabrocharem. Rosas botões. Rosas sem espinhos espinhadas. ...
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16/05/2011 - Dia de Savitu-Vrta

Num tempo distante, uma jovem chamada Sarasvati foi fecundada pelo deus Brahma, o criador do mundo. A fecundação durou um século. De seu ventre nasceram a poesia e a música. Por esse feito ela é considerada uma das oito mães divinas. Hoje, dia de Savitu-Vrta, dedicado à celebração da deusa das artes, mais do que fazer rituais com sons, ritmos, flores, luzes, incensos e oferendas, é dia de tirar a poeira dos livros, de dar prosseguimento às pendências artísticas, de ler um poema, de ouvir uma canção, de encenar um ato, de criar e recriar em honra à Sarasvati. ...
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05/05/2011 - Descuido

Estou com pressa, vamos nessa, a hora é essa. Vamos correr, vamos fazer, vamos nos ver no próximo segundo. Vou mergulhar fundo, revirar o mundo, me perder até lhe achar. E quando lhe achar, caída na memória de um coração, vou lhe encher de beijos, falar de desejo enquanto lhe assoviarei uma canção. Vou engolir estradas, descer e subir lugares, remar sete, oito, nove mares. Vou pela água, pela lama, pelo sangue. Vou de boca fechada e com a alma gritando seu nome, seu signo, seus sinais...
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10/04/2011 - De tanto olhar...

Eu lhe olho distraída, parada e pensando na vida tão quieta e doída como uma ave ferida no seu direito de voar. Eu lhe olho concentrada, analisando por onde tem ido sua estrada e lhe sinto atormentada. Você sempre calada, de portas fechadas e almas guardadas a sete chaves, com setecentos segredos. Eu olho medos obtusos exalando de seu colo e de lhe olhar, feito um intruso, sorrio e choro. Quero ajudar, mas sem saber por onde começar, eu nada faço senão lhe olhar, lhe olhar, lhe olhar...

E lhe olhando me embriago como se passasse a noite num bar. E lhe olhando lhe afago como se tivesse em meus braços. E é lhe olhando que me pego dançando num salão, pareando meus passos em seus passos. Com meus olhos eu lhe cubro e lhe dispo, eu lhe alço e lhe derrubo, lhe pesco e lhe flerto. De olhar em olhar vou lhe esculpindo em minha mente, vou lhe tendo às vezes inocente, às vezes indecente, vou lhe roubando os pedaços e juntando aos meus os seus traços... ...
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28/03/2011 - Doído

Inútil fingir. Impossível mentir. Adeus. Não posso mais viver nos lábios teus traindo os sonhos meus. Estrela da manhã, pecado da maçã, sorte da romã, vou-me embora amanhã. Chora porque eu também hei de me prostrar. Grita porque eu também terei de me calar. Sangra porque eu também irei sangrando. Mas pro nosso amor continuar no mais alto esplendor o espinho terá de renunciar à flor.

Irei tão doído como lágrima de palhaço, como saudade em cordas de aço, como corpo sem abraço, mas irei. Irei porque é necessário, mas guarda minha foto em seu relicário pra caso de eu voltar, um dia, poder se lembrar do meu rosto. O gosto da sua poesia ficará na minha boca. E seu nome eu irei chamando até minha voz ficar rouca e se perder no silêncio da distância. Prometo que anos depois vou continuar buscando nossa infância.


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11/03/2011 - Da janela

Da janela eu vejo a favela e seus barracos multicoloridos se abraçando, se misturando, se acasalando no clarão do sol na escuridão da lua que anda torta no céu feito anzol. Da janela eu ouço polícia e bandido trocando tiros, um menino empinando pipa com cerol, uma mulher gritando, uma criança chorando e um violino conversando em si bemol. Da janela eu torço por aquela cesta de basquetebol no fim do jogo e pelo final feliz da fotonovela com olhos entre a insônia e o rupinol.

Da janela eu a vejo, ela, a jogadora de handebol, toda bela, enrolada no lençol, iluminada por uma arandela. Da janela eu sinto seu hálito de mentol com canela se perdendo entre as nuvens de um anjo sentinela. Da janela eu ouço o ar, cântico de rouxinol, se movimentado debaixo de suas costelas. Da janela eu grito: cuidado com o farol, com o colesterol, com a esparrela. Da janela eu a tenho como uma tela de aquarela retratando o mergulho do girassol no atol. ...
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05/03/2011 - Dias de carne

Carnaval vem de carne e prazer. Durante a idade média, os dias de carnaval eram dias de prazer, de comer carne à vontade, já que na quaresma é preciso se abster dessa iguaria. No entanto, esses dias também são de muita carne humana. O corpo humano torna-se uma espécie de produto à venda, um objeto de desejo, um pedaço suculento de carne. É como se olhos, olfato, ouvidos e tato se rendesse ao paladar numa imensa e intensa antropofagia. E isso não é enredo de escola de samba.

Carne branca, preta, mulata. Carne louca. Carne nua. Carne de primeira, de segunda e até de quinta. Carne salgada e doce. Carne na cerveja, na cachaça, no vinho. Carne suada. Carne sangrando. Carne malpassada e ao ponto. Carne a la carte. Carne de boca em boca, de mão em mão. Carne de engorda. Carne seca. Carne nacional e estrangeira. Carne roubada. Carne proibida. Carne crua e temperada. Carne gordurosa. Carne em chamas. Carne no prato, na rua, na cama. Quartos de carne no quarto. ...
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