Daniel Campos

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05/03/2011 - Dias de carne

Carnaval vem de carne e prazer. Durante a idade média, os dias de carnaval eram dias de prazer, de comer carne à vontade, já que na quaresma é preciso se abster dessa iguaria. No entanto, esses dias também são de muita carne humana. O corpo humano torna-se uma espécie de produto à venda, um objeto de desejo, um pedaço suculento de carne. É como se olhos, olfato, ouvidos e tato se rendesse ao paladar numa imensa e intensa antropofagia. E isso não é enredo de escola de samba.

Carne branca, preta, mulata. Carne louca. Carne nua. Carne de primeira, de segunda e até de quinta. Carne salgada e doce. Carne na cerveja, na cachaça, no vinho. Carne suada. Carne sangrando. Carne malpassada e ao ponto. Carne a la carte. Carne de boca em boca, de mão em mão. Carne de engorda. Carne seca. Carne nacional e estrangeira. Carne roubada. Carne proibida. Carne crua e temperada. Carne gordurosa. Carne em chamas. Carne no prato, na rua, na cama. Quartos de carne no quarto.

Carne para todos os gostos e ritmos. Carne de colombina, de pierrô, de pirata e jardineira. Carne de todos os sabores e origens no intuito de despertar os instintos mais primitivos da raça humana. Carne na brasa ardendo como o diabo gosta. Carne incitando à competição, à luxúria, à gula de homens e mulheres. Carne junta e misturada. Carne abusando da carne antes que se anuncie a quaresma e suas penitencias. Aproveite, pois, por enquanto, carnis valles, carne vale, carnaval...


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