Daniel Campos

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17/11/2011 - Caótico

Tudo errado, trocado, virado pelo avesso. O futuro começando antes do passado, a separação se antecipando ao casório e a morte chorando no berçário. Será que ainda compensa parir mais um sonho nesse mundo tão arredio? Pra que lado corre o rio? Que dia eu tenho e que dia nós teremos para nos dar? As perguntas batem contra meu rosto como um vento forte tentando me empurrar para trás da linha da ilusão. Chovem canivetes, giletes, pivetes ferindo, rasgando, roubando as nossas vidas. Não consigo romper a barreira que me separa do sonho que sonhei pra mim, que sonhamos para nós. Tanta paixão resumida a pó...

Confuso, confusão, confuseira. Há um caos em cada esquina. E é preciso cuidado, pois meu coração é de louça. Que o ser superior anistie os meus supostos pecados porque minha partida está próxima. Pego o próximo trem para deus me livre. E pelo visto vou sozinho cansado de guerra. Não posso parar. Não posso chegar. Não posso cantar. Sou obrigado, censurado, golpeado a cada passo do relógio. Os lobos da ingratidão já devoram a minha carne podre. Colhendo uma farpa aqui e outra ali transformei minha história num cordel farpado. Ah! E eu ainda estou jurado a gritar sufocado, condenado a morrer de amor...

Se achar por bem, use meu corpo como morada. Retire esse embolado de sentimentos e pensamentos que se formou dentro de mim e faça das minhas entranhas sua casa. Durma e acorde com os eu te amos que ecoam em minhas lacunas preenchendo todo e qualquer espaço vazio. Não me enterre, pois não hei de dar árvore boa. Minha existência magra dará pouca sombra e meus frutos, se vingarem, serão amargos. Não me creme, pois tudo o que tinha em mim para ser queimado já queimou. Não me atire ao mar, pois eu não sou filho do mar. Deixe-me ao tempo para que possa testemunhar o quanto o amor, fossilizado em cada célula minha, é eterno.


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