Daniel Campos

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Encontrados 200 textos. Exibindo página 5 de 20.

20/12/2014 - Mais, melhor, além...

Eu queria fazer mais, mas todo o mais que faço é menos para você. Eu queria fazer melhor, mas você toda hora me acha pior do que qualquer um. Eu queria fazer diferente, mas você não olha para frente e me vê. Eu queria fazer muito, mas muito mais que muito, mas para você o meu tudo ainda é pouco. Eu queria fazer valer, mas você acha que eu não valho nada. Eu queria ir além, mas você me acha aquém. Eu queria superar todos os limites, mas você insiste em não avançar comigo. Eu queria dizer sim mas você só sabe fazer não.


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08/11/2014 - Minhas sorte

Minha sorte foi ter ido ao fim do mundo e encontrado saída. Minha sorte foi ter despencado do abismo e caído em pé. Minha sorte foi ter feito do apocalipse meu gênesis. Minha sorte foi ter tido sete mil vidas. Minha sorte foi ter tido pouco juízo para conseguir ir tão longe. Minha sorte foi ter compreendido que o tempo é o senhor de tudo. Minha sorte foi ter passado a ouvir, ler, sentir meus instintos. Minha sorte foi ter nascido do mato e ter jurado fidelidade às matas. Minha sorte foi nunca ter sofrido de medo de amar. Minha sorte foi ter ido além do impossível e ainda voltado de lá pronto para outra. Minha sorte foi ter estado sempre à frente dos meus próprios sonhos o que me permitiu vivê-los sem que eles precisassem ter ao menos acontecido.


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25/10/2014 - Mato luzido

Descobri que não sei nada de mim. Desconheço minhas vontades. Não me reconheço no espelho. O que eu quero agora, logo mais desquero. Não sei o que serei. Tenho medo de saber quem sou e descobrir que nada sou além do sonho que ainda não veio. Eu era fantasia, mas ontem ela foi embora sem se despedir. Sou a poesia que ainda não escrevi. Sou o que nunca vivi. Eu não sei se sou de chorar ou de sorrir, cada hora me dou de um jeito e tem dia que tenho certeza de que eu não tenho mais jeito. Sou cheio e vazio ao mesmo tempo. Sou o futuro-do-pretérito-mais-que-imperfeito. O eleito da solidão. Lágrima por lágrima, sou o que carrego. E muitas vezes, eu me assumo e eu me nego, vindo de arrasto. Sou mugido que ecoa no pasto deserto. Sou o que está longe e o que está perto. Sou mato luzido, crescido e não sabido.


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19/10/2014 - Meu querer mais

Eu lhe quero para sempre perto tão perto de mim. Quero seguir colado, tatuado, impregnado, grudado, atarracado, casado a você. Hei de ser seu anjo da guarda sempre em guarda para lhe proteger, cuidar, valer, voar, atender, abraçar. Quero escorrer pelo seu corpo como suor, como choro de felicidade e como prazer. Hei de lhe trazer ao meu lado, no meu colo, no meu futuro do passado mais que presente e na boleia do meu coração mais ardente. Eu prometo ser sua comida, sua vida, seu toque de Midas. Quero embrenhar pelo seu perfume, habitar do seu pé ao seu cume, extravasar por você como ciúme sem porquê. Vou mergulhar nos seus olhos em busca dos seus segredos mais bem guardados sem me preocupar com o que hei de achar. Vou me adentrar pelas suas vísceras e me arranhar nas suas manhas e malícias. Hei de encontrar seu cerne, suas raízes, suas sementes e a doçura do seu fruto. Juro ser o anti-ausente e ir fundo no mais profundo do seu ventre. Trabalharei sem parar o seu sonho mais bruto de modo a realizar seus pedidos ecoando junto de seus gemidos. Vou correr pelos seus pelos e pelugens e desafiar o tempo que nos ruge. Quero buscar suas declarações e confissões diretamente na sua língua enquanto lhe chamo linda. Quero pisar nos seus passos, tropeçar nos seus caminhos, abandonar de uma vez por todas os braços sozinhos de abraços. Desejo nossas mãos dadas, noivadas, amarradas por um laço invisível, indivisível e sentimental. Hei de ser sua fantasia carnal. Quero ser dia após dia o que vira seu coração de ponta-cabeça. Quero andar na sua boca feito batom e nos seus olhos como o reflexo de um porta-retrato sempre a espera da melhor foto. Quero ser moto-contínuo do seu amor fazendo pra isso o que preciso for. Quero a cada instante fazer mais parte da sua existência sendo moldura pra sua arte.


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13/10/2014 - Mulher-destino

A mulher amada deixou de ser uma simples viagem para virar um destino propriamente dito e vivido. Um destino escrito nos guias turísticos secretos. A mulher amada tende a ser o melhor passeio que você ainda não fez. É impossível você ver tudo numa visita só, portanto, decidir rumar à mulher amada é saber que se trata de uma viagem de muitas idas e voltas. E nada de pressa, o melhor é ir à mulher amada com tempo, muito tempo, diga-se de passagem. Quanto menor for seu conhecimento sobre os mistérios dessa mulher, maior será sua surpresa e encantamento. Portanto, prepara-se para quebrar e recriar expectativas. E quando você segue essa viagem sem objetivar um ponto como fim, percebe que o melhor está pelo caminho. E você sempre está disposto a se perder por esse caminho.


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18/09/2014 - Mãos sujas

Já parou para pensar como vai conseguir viver com isso? Você matou uma pessoa que tinha tantos sonhos. Matou da pior maneira, como não se mata nem o pior dos bandidos. Matou dando esperança. Graças a você essa pessoa nunca mais vai conseguir ser feliz. E isso não é pouco. Será que algum dia vai conseguir dormir tranquilamente tendo cometido tal monstruosidade? Uma pergunta que sabemos a resposta. Por mais fria e prática e calculista e desapegada que queira ser, não vai conseguir se livrar dessa macha. E não pense que o passar do tempo vai amenizar esse peso. Pelo contrário, por todos os seus dias esse crime vai repercutir em seu ser de uma forma ou de outra. Haverá aqueles dez segundos de arrependimento e então se deparará com uma dor ainda maior: a de que o seu arrependimento não lhe valerá de nada. Vai lembrar para sempre dessa morte trágica do amor, morte matada, diga-se de passagem, que vai se embrenhar por suas mãos, tirar o brilho de suas unhas, envergonhar suas linhas do destino. Você matou um apaixonado. Talvez o último deles forjado com essa intensidade. Aproveita enquanto essa ferida é recente porque depois ela vai se enraizar e tomar de conta da sua existência. Você está condenada a viver essa dor. Não sou a favor de castigo, mas de todos paguem pelo que fizeram de mal a alguém. E você vai pagar com essa lembrança dolorida que irá se manifestar nas horas mais importunas. Você matou um homem que era capaz de fazer tudo e mais um pouco por você. Você matou quem se entregou de forma única a você. Você matou aquele que só fez lhe cuidar. Que a falta de reconhecimento, de gratidão e até de perdão não lhe enlouqueçam mais dia menos dia. Que suporte sobre os ombros o defunto que criaste. Um defunto que não se consegue enterrar, mas arrastar por séculos sem fim. Beba, divirta-se, faça terapia tendo a certeza de que nada vai lhe trazer paz de espírito. Você acabou com os desejos, fantasias, expectativas daquele ser humano que se sacrificou por você a troco de nada. Ou melhor, a troco de dor, de descaso, de solidão. Faltou respeito e sobrou impunidade. Até quando? Até consciência acordar e declarar guerra. Pode eliminar todas as provas e indícios, mas quem mata, ainda mais um homem grávido de amor, fica pela eternidade com as mãos tão sujas que nem os esmaltes mais caros hão de conseguir disfarçar.


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17/09/2014 - Me engana que eu gosto

“O sentimento não mudou, eu tive que mudar”. Muito lindo de se ler e até de se guardar para vida toda no melhor do coração se não fosse mentira. Se o sentimento, de fato, não tivesse mudado, o tratamento seria outro. Não há sentimento da forma como está contextualizado que admita ser espectador de tamanha crueldade. Portanto, e para tanto, a afirmação é muito bonita, mas não passa de uma frase de efeito. Certas mudanças exigem renúncias e transformações interiores. Não há como o sentimento ser mantido intacto em um corpo que prova a todo instante que está muito longe de agir como prega. E eu sei muito bem a diferença entre amor-poético e amor-publicitário. O marketing-coração impressiona, mas é só uma propaganda com ares de perfeição. E eu não vivo de amor de propaganda. Eu vivo de amor que extravasa, que abusa dos limites, que não se preocupa com opinião alheia, que não se vende. Será que me acha tão imbecil para acreditar em qualquer lorota, para eu cair como um patinho em qualquer frase pronta. A afirmação de que o sentimento não mudou na verdade é uma negação, pois você nega tudo o que existe para dizer tal inverdade. Quer que eu acredite no engodo desse amor-publicitário por ignorância ou má-fé, pura e simples? ...
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11/09/2014 - Matado no mato

Mata-me no mato. Abandona meu corpo no capinzal. Deixa-me virar terra por entre raízes ancestrais. Que o verde me cubra e me proteja de todo mal. Que os galhos me abracem. Que as ramas me saúdem. Que os pés disso ou daquilo sejam meus pés. Que os bambuzais se verguem para me achar tão perdido quão achado. Que as folhas me vistam. Que os pássaros me avistem. Que a chuva me irrigue. Que para além de comida ou esterco, eu seja mato. Mata-me no mato.


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05/09/2014 - Minha casa

A minha casa é o corpo da mulher amada. Seus cabelos luzidos são meus telhados compridos. O abrigo que encontro em seu ser ora é feito de alvenaria, ora de palha, ora de poesia. A mulher que amo é uma construção sempre em construção. Perfeita em sua incompletude que a faz completa. Seus olhos são portas abertas que me levam aos cômodos mais íntimos e secretos. A acústica de seus ouvidos permite ecos de declarações e confissões de um amor infinito, que reverbera num som cada vez mais bonito. As luzes da minha casa são as luzes que escapam dos plexos em pleno funcionamento dessa mulher que me acolhe ao mesmo tempo em que tolhe a minha estadia em seu leito. Os desenhos que faço pelas paredes de minha casa são tatuagens estampadas pelo corpo dessa mulher contemporânea. Seus pés são minhas passadeiras indicando meus caminhos. E na sua boca encontro todas as garrafas de vinho que existem e não existem em minha adega. Seu colo é minha cama. Seus seios meus lençóis na penumbra que se dá ao balé de uma cheia pelos confins do universo. Minha cozinha é todo doce que há perdido pela essência dessa mulher. E como criança brinco revirando os gaveteiros de sua memória. Seu ventre é meu jardim onde semeio desejo e medo. ...
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30/08/2014 - Maltagliati

Meu coração maltagliati por suas mãos. Todo mal cortado em italiano. Sem qualquer preocupação com a métrica, servido al dente à passione que há em sua boca. Retalha os retalhos do meu tenro coração corado e serve a si própria sem qualquer pudor. Chega à mesa sob um ótimo pesto de sentimento. Mangiare, mangiare, mangiare meu coração maltagliati por suas mãos. Meu coração, meu coração, meu coração em pequenos pedaços distintos por tamanho, forma e espessura numa fome sem cura. Meu coração, meu coração, meu coração maltagliati visitando sua boca numa simplicidade moderna à moda de Anita Malfatti.


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