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Encontrados 200 textos. Exibindo página 12 de 20.
21/03/2012 -
Morando no espaço
Moro na noite. Meu jardim é feito de flores de escuridão. Guardo meus sonhos nas fendas da lua. Respiro galáxias e faço compras em Júpiter. Namoro em Vênus me enroscando nos anéis de Saturno. Tropeço em vários objetos astronômicos. Brinco com forças gravitacionais e giro em torno de um centro de massa comum. Sou vizinho de Andrômeda. Viajo a anos-luz cavalgando em cometas. Pulo asteroides e me deito com estrelas cadentes. São milhões, bilhões, trilhões de estrelas. Cada qual com um desenho e um brilho diferentes. ...
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08/03/2012 -
Mulher, Mulheres
Parabéns à mulher-poesia versada pelos poetas e cantada pelos menestréis, à mulher-objeto vendida em reclames publicitários e à mulher-bandeira, que defende sua liberdade, seus direitos, sua felicidade. Parabéns à mulher-nuvem, que está sempre acima de tudo e de todos. Parabéns à mulher oceano navegada e saqueada por piratas, à mulher-de-ninar rodeada de sonhos e à mulher alfazema que chega trazendo uma primavera de cheiros e cores.
Parabéns à mulher-bem-te-vi que canta alardeando sua presença, à mulher-divina sempre onipresente, onisciente e onipotente e à mulher-quântica que nunca se mede. Parabéns à mulher-humana e à mulher-sobre-humana. Parabéns à mulher-papel que se dobra em tantas dobras e ainda forma um lindo origami. Parabéns à mulher-destino que nunca se destina. Parabéns à mulher-pirofágia que está sempre brincando com fogo sem jamais se queimar. ...
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23/02/2012 -
Mesa, ou melhor, saudade posta...
Mesa posta. Pratos e talheres em seus devidos lugares. A cabeceira, mais uma vez está a sua espera. Fica tão bem ali. Como se fosse o rei. Aliás, sempre foi o rei. Será que você vem? Fiz a sua pedida favorita. Arroz, feijão, bife, ovo, torresmo e salada. Os grãos não foram plantados por suas mãos e não brotaram naquela terra vermelha, mas foram temperados com lembranças de um tempo que insiste em dar frutos. A carne vermelha, com aquela gordura margeando como um território proibido de prazer, não se sabe se é de garrote, como era de sua preferência. O torresmo também não ficou mergulhado em latas de gordura e o ovo não tem aquela gema vermelha que o senhor tanto gostava de furar com o garfo. A alface e os tomates não vieram de suas terras, mas escolhi com todo cuidado e capricho. O meu sítio agora virou o supermercado. Mesmo assim, procurei trazer o melhor para a nossa mesa....
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08/02/2012 -
Mulher flor
Certas palavras da criatura amada são capazes de desenhar orquídeas no ar, bem como impregnar o perfume dessas flores no vento. A boca dessa mulher é como uma crônica-buquê, com palavras florescendo entre pétalas e espinhos. São versos rosas, tulipas de prosas e um palavreado digno de jardins europeus. Há um lirismo de lírios pelos seus atos. São lábios tecidos pelo melhor da safra do algodão. É um palavreado miúdo, possível, envolvente. Sentidos dóceis como as flores do campo.
A mulher amada é flor que se atiça, imaginação que se inebria, amante que entrega seu pólen ao ser que ama. O tempo dessa mulher é tão incerto quão o tempo da germinação de um amor. Um tempo ausente, mas sempre presente, que se alastra como erva daninha e nos enche de surpresa. As cores se dissipam, os formatos mudam, o cheiro se recria ainda mais intenso e vibrante....
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20/01/2012 -
Maria Padilha
Quem tem medo hoje não acende vela. Quem tem medo hoje não sai na janela. A moça do cruzeiro avisou que hoje a noite vai girar. Gira para lá, iaiá. Gira para cá, iaiá. Com ou sem a sua licença, Maria Padilha das Almas com as almas vai passar. Ela é rainha. Rainha dos infernos, rainha das facas, rainha do candomblé, rainha da malandragem, rainha dos ciganos, rainha das pombagiras, rainha sem coroa... Êêêê êêêa hoje Maria Padilha vai girar até a noite se acabar.
Quem tem medo a noite não sai de casa. Quem tem medo não brinca com brasa. Ela é mulher formosa, de cabelos longos e pele morena. Dança a dança das ciganas, gosta de beber e freqüentar uma boa cama. Maria Padilha gosta do luxo, do brilho, da boa vida. Usa muitos colares, anéis, brincos e pulseiras. Como todo Exu ela usa e abusa do dom da sedução. Mas quem tem medo a ela não entrega o coração. Maria Padilha só anda de navalha e tem como um de seus amantes o rei das 7 Liras. ...
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16/12/2011 -
Me diga
Me diga o que fazer daqui pra frente, me diga o que buscar nesse tempo ausente, me diga como quebrar essa corrente. Me diga como combater a saudade, me diga qual o caminho para a anti-realidade, me diga qual o segredo que habita a cidade. Me diga o que há por trás deste mundo, me diga como curar um coração moribundo, me diga como ir ainda mais fundo. Me diga como encontrar a palavra perdida, me diga como estancar a seiva dessa ferida, me diga como ultrapassar novamente a nossa medida.
Me diga uma forma de descobrir o ponto fraco do medo, me diga como ser para sempre cedo, me diga como encontrar uma árvore no meio de um arvoredo. Me diga como terminar o que não começou, me diga como ir sem dizer para onde vou, me diga como saber se o sonho que sonhei foi o mesmo sonho que sonhou. Me diga como correr sem olhar pra trás, me diga como me livrar do “mas”, me diga que eu ainda sou capaz. Me diga uma cantiga, me diga uma novidade antiga, me diga que nosso amor ta de barriga.
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02/12/2011 -
Mais sobre a mulher amada
A mulher amada foge das premissas mais básicas do mais básico amor. De insípida, de inodora, de incolor essa criatura não tem nada. Em sua boca, notas ácidas, doces, amargas e picantes se misturam e se individualizam e se sobressaem. Embora intensa, a mulher amada é de uma leveza capaz de andar sem tocar o chão. Seus lábios, vermelhos como hibisco, trazem toques de tâmara, gengibre e patchouli.
Pelas entranhas da mulher amada, hortelã, menta, flor de laranjeira, amora. Uma fonte de aromatização capaz de inebriar os mais céticos. Seus olhos contêm flores in natura e pétalas em infusões. Alma cítrica, doce como laranja lima ou suave como limão siciliano. Uma alma a ser bebida sem pressa. Confere sabor, refresco e energia a quem a bebe. E o que dizer de seus cabelos de erva-cidreira, açúcar e mel? ...
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30/11/2011 -
Mundo peçonha
Sem conseguir vislumbrar o horizonte, sigo de arrasto como serpente por esse chão áspero e pedregoso. Serpenteio movido não por sangue, mas por veneno. Veneno alheio. Minhas presas estão sempre preparadas para o pior. Provoco gritos, alvoroço, pavor. Não tenho piedade ou compaixão. Afinal, forjaram-me assim. Não sou víbora porque quero, mas porque preciso. Não tenho saída. É a maneira que encontrei para continuar vivo, ou melhor, sobrevivo. Porque cobras não vivem, sobrevivem.
Serpentes não desfilam, seguem camufladas, escondidas, sorrateiras. Sigo me arrastando por ali e por aqui como sinal de castigo. Sou culpado por um pecado que não é meu. Porém, pertenço a uma raça condenada ao sofrimento. E é preciso ter cuidado com todos, sem distinção, quase não há diferença entre uma cobra coral falsa e a verdadeira. Não tenho pernas, ao menos não pernas visíveis aos olhos cotidianos. Aliás, meus sentimentos, meus desejos, meus quereres também são invisíveis... ...
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02/10/2011 -
Mulher e pássaro
A mulher é pássaro que voa longe. Seus cabelos são como nuvens, que passam por nós. Suas costas vão roçando o horizonte e sua boca bebendo sol comendo lua. Quando ela abre suas asas ninguém sabe onde vai parar. Vem e vai ao vento, varrendo céu, cruzando mar. Rompe plantações, porteiras fechadas e estações. Voa molhada de chuva e de prazer. Voa azul turquesa, lilás, amarela, vermelha e negra ao anoitecer. Faz pouso nas estrelas e nas gaiolas do seu absoluto querer.
No alto do salto de um sapato alto ou de um sobressalto, a mulher faz seu vôo. Um vôo cego de intenções, de aflições, de orações. Um vôo em que deixa para trás o tempo fugaz, os olhos do rapaz, os amores surreais, as paixões carnais, as desilusões fatais. Precisa de leveza de alma para voar. Não pode levar sobrepesos de expectativas ou de solidões contigo. Precisa se desligar de seu umbigo e se entregar ao infinito como se o nada fosse o seu único e mais bonito abrigo. ...
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11/09/2011 -
Mulher paisagem
Olhos coloridos como chita. Destinos trançados como vime. Boca de cumbuca. Sentimentos artesanais. Mulher dos vilarejos, dos beijos naturais. Suas costas são como falésias, desafiadoras, solitárias e assassinas. Mulher de olhares chuvosos, alma forte e corpo sinuoso. Tem um bafo úmido de calor, como se estivesse em febre constante. Mas, pelos seus cabelos, reina um vento noroeste que tem efeito de refresco de caju com três pedras de gelo.
Mulher das aventuras e do sossego. Mulher do agito, do grito, da paquera. Mulher de um quê bonito e de um querer de fera. Mulher da natureza, da franqueza, da era das águas. Mulher da contemplação, da solidão, das mágoas. Mulher das provas, das trovas, das covas. Mulher, lua alaranjada, nua de suas anáguas, subindo por entre o lilás e o azul escuro da noite. Mulher do açoite, do coiote, do trote. Mulher das ruelas e da areia fofa, sem endereço e sem luz elétrica. Mulher sagrada e cética. ...
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