Daniel Campos

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Encontrados 362 textos. Exibindo página 21 de 37.

10/01/2011 - Capítulo 61

Naquela tarde de terça-feira, ao menos de forma temporária, o centro do mundo muda-se para Buenos Aires. Olhares apreensivos. Lentes angulares. Microfones nervosos. Há uma conversão de pensamentos e atenções para a cidade do tango. O nível de tensão extrapola a normalidade. Quando as primeiras ondas do tsunami devastam a costa Argentina, inicia-se o julgamento de Sebastian.

Gritos e correria. Ninguém quer saber se aquele tsunami resulta de fenômenos metrológicos ou erupções vulcânicas. Querem é saber se aquilo tudo tem ou não o dedo de Jhaver. O fator científico é rendido pela comoção espiritual. Tanto que o tribunal está com todas as cadeiras ocupadas. Isso sem falar da multidão que se aglomera do lado de fora. Júri popular. Tudo é grandioso, em matéria de pessoas presentes, testemunhas, repórteres e acusações. ...
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06/01/2011 - Certos dias

Certos dias a gente se avizinha e briga como bons vizinhos. Certos dias a gente se encontra e apronta como se não fosse ocorrer reencontro. Certos dias a gente promete só para aumentar a coleção de promessas não cumpridas. Certos dias a gente acorda com vontade de fazer isso e aquilo, mas não sai da cama. Certos dias a gente jura amor eterno e depois se desconjura. Certos dias a gente se ama só porque se odeia. Certos dias a gente se odeia só porque se ama.

Certos dias a gente se achega, aconchega-se e depois chora. Certos dias a gente se despede antes mesmo de ir embora. Certos dias a gente rompe os limites e depois se corrompe. Certos dias a gente se enxerga lado a lado e depois se nega. Certos dias a gente vai além do casual e depois se pega num ato normal. Certos dias a gente inventa mundos e pessoas e depois mergulha num sono profundo. Certos dias a gente é nobre noutros vagabundo. ...
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28/12/2010 - Conselhos de fim de ano

Quando o ano que termina é algo para ser esquecido, riscado da biografia, banido da memória o melhor é não remoê-lo nos tradicionais balanços de final de ano. Por maior a tentação, o ideal é fechar os olhos a tudo o que passou e abrir os braços para os novos ventos que já começam a soprar. Nada, a não ser que aconteça um milagre, poderá mudar o desempenho de um ano malsucedido nos negócios, na família, no amor ou em todos os campos juntos. A chegada do Papai Noel ou os fogos do réveillon, por si só, não têm força para mudar nada. Absolutamente nada na forma como se deu o seu ano e como irá começar o seu próximo. ...
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19/12/2010 - Coquetel

Um drinque para quem vai brindar ou engolir a seco o fim de ano. Um drinque para quem vai ter que se confraternizar com o chefe e os colegas de trabalho. Um drinque para quem vai fazer um balanço do ano que se vai. Um drinque para quem vai ter de encarar aqueles parentes indesejáveis. Um drinque para o trabalho atrasado. Um drinque para quem vai engolir alguns sapos. Um drinque para a louça suja que sobrou para você depois da ceia. Um drinque para acalmar a ressaca do ano anterior. Um brinde à paciência. ...
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09/12/2010 - Capítulo 60

Durante o sono, o perispírito de Sebastian é conduzido por Jhaver até um lugar do plano superior que não tem nome na Terra. Um bosque bonito, todo orvalhado, repleto de relva e pássaros. Depois de uma pequena conversa, deixa-o sentado nas raízes de uma árvore frondosa. O promotor não entende a razão daquela viagem espiritual, mas, a pedido de seu protetor espiritual, aguarda algo ou alguém naquele lugar desabitado.

Ao contrário de tempos passados, Sebastian já não questiona ações alheias, tampouco se nega a fazer o que lhe é pedido. Confia plenamente nos seres de luz que o rodeiam. Não há outros espíritos ali, naquele bosque, mas uma natureza intacta e exuberante capaz de renovar as forças de encarnados e desencarnados. E é esse frescor que ele tenta aproveitar ao máximo. Está descalço, pisando em folhas caídas. ...
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07/12/2010 - Chorar pelo leite derramado

Depois de hoje só restará amanhã. E amanhã já será tarde. Tarde para colocar nossos sonhos em prática. Tarde para fazer valer nossos desejos. Tarde para chorar pelo hoje. Tarde para querer o que não corremos atrás no passado. Tarde para comer o que não foi semeado. Tarde para perder o que não foi achado. Tarde para cantar a letra que não foi composta. Tarde para silenciar o que foi falado. Tarde para ninar o filho que não foi gerado. Tarde para chorar pelo leite derramado.

Ouça as sirenes do tempo. O dia de hoje é urgente, pois amanhã já será tarde. Tarde para reconstruir um caminho. Tarde para negar o destino que ajudou a forjar. Tarde para esconder o que não tem esconderijo. Tarde para ter medo do perigo que sempre lhe rondou. Tarde para remediar um coração sem remédio. Tarde para esquecer o que não dá para esquecer. Tarde para cumprir a promessa que não foi feita. Tarde para colorir o passado. Tarde para chorar pelo leite derramado. ...
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25/11/2010 - Capítulo 59

O fato de institutos metrológicos terem confirmado a chegada de um grande tsunami à costa da Argentina no mesmo horário marcado para o início do julgamento de Sebastian mexe ainda mais com o imaginário popular. Os cidadãos querem que ele seja libertado imediatamente, pois aquela onda só pode ser um castigo dos céus. Todas as mortes brutas, os acidentes coletivos, os fenômenos negativos são atribuídos a Jhaver, o eterno anjo castigador, que estaria enfurecido com a prisão de seu pupilo.

Assim como as pragas que Deus lançou contra o Egito, Buenos Aires estaria condenada a um tempo de infortúnios. Muitos, nessa visão apocalíptica, tratam Jhaver como um novo Lúcifer, cercado de anjos caídos, e Sebastian como um falso profeta. Diz a Bíblia que Lúcifer levou consigo um terço das hordas celestes, expulsos do Céu pelos demais anjos liderados pelo arcanjo Miguel....
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25/11/2010 - Casa rosa

Na casa rosa há uma mulher meio carne meio anjo debruçada na varanda, com os olhos serranos e sonhos mundanos. Na casa rosa há uma mulher que esconde as estrelas da noite, açoitadas pelo sol, nos vértices de seus lábios. Na casa rosa há uma mulher querendo ser amada enquanto mulher. Na casa rosa há uma mulher que trilha as trilhas dos pensamentos alheios. Na casa rosa há uma mulher com cabelos de cachoeira. Na casa rosa há uma mulher doce como os quitutes que se esparramam por uma mesa colonial. ...
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24/11/2010 - Colo de mãe

Eu não sei se mereço, mas se achar por bem, por favor, por todo amor, leve-me em seu colo. A estrada tem tido tantos obstáculos, tantas coisas que fazem desanimar. São tantas perdas, são tantas frustrações, são tantos sofreres que insistem em habitar o nosso caminho. O corpo já fraqueja, não suportando mais o peso de tanta falta de compaixão. A realidade é árida como os desertos que pisou, apavora-nos como soldados do império e põe nossa fé à prova a cada instante. Por todas as batalhas vividas e pelas que ainda estão por vir, quero colo, mãe....
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11/11/2010 - Coqueteleira

Como é bom chafurdar nos lábios da mulher amada. Sua boca é tão convidativa quão aqueles coquetéis coloridos, com guarda-chuvinhas na borda da taça, que suscitam em nós uma doce inveja de personagens do cinema norte-americano. Sem dúvida alguma, a boca da mulher amada é piscina de resort, totalmente imaginativa e desejada. Uma piscina de coquetéis tão nocivos quão fundamentais para a continuidade da espécie humana. É uma espécie de elixir da existência, que garante vida longa e apaixonada aos sonhadores....
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