Daniel Campos

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Encontrados 150 textos. Exibindo página 4 de 15.

12/09/2015 - Nunca vi

Nunca vi ninho de cobra, pito de saci nem mesmo berrante feito de chifre de peixe-boi. Nunca vi rastro de boto-cor-de-rosa nem pé de mafagafo nem riacho que corre de trás pra frente. Nunca vi lagartixa mostrar o dente, rosa dar oi pra espinho e felicidade dar prosa. Nunca vi sobra de brigadeiro, santo sem fé e tacho sem raspa de colher. Nunca vi semente de nuvem, pescador sem saudade e ferrugem que dá e some. Nunca vi homem sem idade, lobisomem sem fome e deus sem coragem. Nunca vi roda de carruagem mover moinho, vinho virar água e lua usar anágua. Nunca vi ovo de sapo, anjo de sapato e galinha que não é boa de papo. Nunca vi pássaro sem asa, caracol sem casa e fogão a lenha sem brasa. Nunca vi estrada que não volta, nó que não solta e abelha-rainha sem escolta. Nunca vi procissão de morcego, jacaré tocando violão, mulher dando sossego ao coração...


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02/09/2015 - Nada além de nada

Não me diga, com ou sem palavras, que eu não sou nada além de um nada. Não invente histórias. Não coloque pedras onde não há. Não insista no que não tem discussão. Não manche as minhas memórias. Não me faça de boco. Não me cobre o que você não pode me dar. Não me trate como se eu não fosse nada além de um nada. Não coloque em mim culpas que eu não tenho. Não me distraia com seus beijos que para mim nunca forma distração. Não invente motivos para fazer o que seu coração quer. Não me venha com desculpas. Não me traia como seu eu não fosse nada além de um nada. Não tire tudo de mim. Não me faça doer mais do que já tenho doído. Não me tome pelo que não sou. Não me venha com caridade quando eu quero amor. Não ignore o que eu sinto. Não me jogue fora como seu eu fosse nada além de um nada. ...
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30/08/2015 - Na outra pele

E se você tivesse nascido elefante com todo mundo de olho no seu marfim? E se você tivesse nascido leão vivendo para ser caçado por prazer? E se você tivesse nascido baleia ganhando arpões para virar óleo? E se você tivesse nascido arrara fugindo o tempo todo para não perder as penas? E se você tivesse nascido foca defendendo a própria pele sem defesa? E se você tivesse nascido árvore sendo cortada e queimada sem poder fazer nada?


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23/06/2015 - No meu quintal

No meu quintal tem graviola, acerola e jatobá. Tem moça bonita e um danado sabiá. No meu quintal tem enxame de abelha, moita de erva cidreira e ramas de hortelã. Tem romã pra dar sorte e uma biruta por onde passa o vento pra indicar o norte. Tem o azedinho do limão, o quê que amarra do caju e canção de bem-te-vi, sanhaço e anu. No meu quintal tem galo que canta na hora certa e galinha carijó que bota o ovo que fortalece o peito do poeta. Tem fruta do conde, tem tico-tico rei e uma imagem da rainha do mar. No meu quintal tem folhas que curam e uma formosura de encher as vistas. Tem uma lista de unguentos e matos pra fazer firmamento e muito espaço para buscar alento. Tem sementeira e roseira de tudo quanto é cor. Tem perfume e tem sabor. No meu quintal tem sombra pra pensar na vida e uma enxada para quem quiser pegar na lida. No meu quintal tem água corrente, mina brotando feito capim e cigarra chamando chuva e até um querubim. Tem goiaba, mangaba, jabuticaba e uma encantaria que não se acaba.


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29/05/2015 - Na sua cama

Quando eu tive medo corri para debaixo das suas asas de mulher-pássaro meio águia meio colibri. Porém, você tinha voado e eu não vi. Escondi-me na sua cama, por entre suas cobertas ainda cheirando ao seu corpo de sândalo e patchouli como se ninguém fosse jamais me encontrar naquelas nuvens de perfume, contornos e lã. Não havia qualquer motivo para desconfiar de quem quer que chegasse, pois quem ousasse entrar saberia que do seu amor não poderia mais provar. Eu continuei seguro mesmo no escuro de tantos acontecimentos. E então eu ouvi do vento, de um pedaço de vento que entrou pela veneziana, que você mesmo longe estava feliz de me saber na sua cama. E eu me enterrei em seus lençóis como se cavasse fundo e mais fundo nas molas de suas costelas. E eu rasguei os travesseiros em busca das preocupações ou divagações que escorriam dos seus ouvidos. E eu ouvi sem querer e sem poder cada um dos seus últimos gemidos. E foi instantâneo ter ciúme e prazer numa rima barata de amor e dor. Eu que havia fechado as cortinas para não ser visto fui quisto por cada uma das suas meninas. Cada dia que avança deixa uma menina para trás. E tanto tempo faz que nossos dias se cruzaram num sol lilás. E agora o mesmo tempo que nos aproximava, que nos ligava, que nos versava, abocanha-nos de forma voraz como se de toda ferocidade fosse capaz. Por isso, antes de ser totalmente tomado, devorado, amaldiçoado pelo tempo, corro para sua cama sem querer me perder ou morrer sem ter vivido o que me ama. ...
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27/05/2015 - Não ando só

Pra sua dó eu não ando só, nunca estou sozinho, podem parecer dois pés, mas é muito mais que marcam meu caminho. Não é por ser prosa, mas meu caminho é de fé e no findar do despetalar das rosas lá de cima sempre dá bem-me-quer. Não tenho começo nem tenho fim, tem sempre alguém olhando por mim, pra mim, em mim. Antes de atirar suas pedras contra mim, pense em quem você vai acertar também. Ai, nem vem. Joga suas pedras pra lá, pois eu estou protegido e você não vai querer ter quem me acompanha por seu inimigo. Eu não ando só e quem anda comigo não me deixa virar pó. É melhor mexer em outra fogueira, tomar outras bandas, subir outra ladeira, do que fazer zoeira na minha Aruanda. Eu não ando só e quem anda comigo desdá todo e qualquer nó. Nunca subestime a minha solidão, o meu andar sozinho é pura ilusão. Para quem me acha fraco, vem ver quem me sustenta de fato. Será que você aguenta lidar ou até mesmo olhar para quem aparece mais eu no meu retrato? Pega seu rumo, não bula no meu prumo, pensa bem com quem eu me levanto e com quem é que eu durmo. Pra sua dó eu não ando só.


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04/05/2015 - Num dia, noutro dia

Num dia ela me chega e me arranha. Noutro dia ela me chega e me apanha. Numa semana ela quer viver em Copacabana. Na outra semana, ela não arreda pé de ser suburbana. Num mês ela me ama. Noutro mês ela só quer cama e me acama. Num segundo ela quer casar. Noutro segundo, já quer separar. Num ano ela é só bondade, faz amor e caridade. Noutro ano ela é só tempestade, faz amor e saudade. Num minuto ela fala que tudo entre nós é para sempre. Noutro minuto, ela professa que somos tão livres quão as sementes. Num tempo ela mente. No outro tempo, já se desmente. Numa hora ela me chama para perto, para mais perto, e chora. Noutra hora ela me emburra, me empurra e me manda embora. Num quê ela me leva como buquê. Noutro quê, sem porquê, ela não me crê nem me vê. Num passo ela me dá um abraço. Noutro passo, crava em minhas costas o seu aço. Numa volta ela me se diz que se importa. Noutra volta ela diz que nunca mais volta, que nem morta, e me bate a porta. ...
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14/04/2015 - Na hora do medo

Na hora do medo, seja tarde seja cedo, é você que eu chamo. Chamo pra perto de mim. E ainda digo “amo” implorando para não me deixar, tampouco me fazer só. Preciso grudar em seu corpo para a correnteza da solidão não me carregar. Necessito de agarrar em suas pernas para o vento da tristeza de ser só, tão só, não me arrastar. Sem sua boca eu não me encaixo. Sem você sou oco por dentro, sou louco por fora e não me aguento. Sem seus olhos sou cego, perdido, doído, vencido pela cegueira como fagulha que escapa da fogueira para morrer na escuridão. Necessito urgentemente de segurar em seus cabelos para o redemoinho do eu-sozinho não me levar a rodar pela falta de caminho. Na hora do medo é você que eu chamo em segredo pro meu enredo. ...
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07/04/2015 - Naquele tempo

Sou do tempo em que a gente tinha tempo de ter tempo. Tempo de amar, de sonhar, de esperar. Um tempo em que o rio custava a dar no mar. Em que uma casa demorava uma vida para ser erguida. Em que Natal era distante e a dimensão do dia, gigante. Sou do tempo em que o tempo não corria, bailava. E como todo bailado há voltas e volteios, passos que vão e ao mesmo instante não num jogo de ilusão. Sou do tempo em que o tempo levava tempo a nos vencer. Naquele tempo era possível se ater à mudança da lua, à chegada do chuvaredo, à mudança de cor da paisagem. Os filhos demoravam a nascer e a crescer. Uma esperança tardava a morrer, sendo muitas vezes a última a fechar os olhos. Sou do tempo em que a gente se misturava ao tempo, bem diferente de hoje em que parecemos água e óleo. Sou do tempo da inocência, da simplicidade, da paixão acontecendo a cada segundo como se o amor não tivesse teto nem fundo. ...
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21/03/2015 - Neuza Maria Mulher Brasileira Alves da Silva

“Se eu sofri discriminação, preconceito, descrédito por ser mulher eu não tomei conhecimento, passei por cima, atropelando, porque eu não me permito sofrer essas coisas”. Colocar-se no papel de vítima, sublimar o sofrimento, sair gritando ou agredindo não é com Neuza Maria Alves da Silva, dona das aspas acima e de uma história que renderia um bom livro com linhas de superação e de como enfrentar as adversidades de cabeça erguida.

Seu nome é escrito no singular, mas Neuza é mulher-plural, afinal são tantas em uma só, assim como tantos são os santos da Bahia de Todos-os-Santos que a deu à luz. São Julianas, Carolinas, Anas, Renatas, Luísas, Veras,..., que se encontram nas lutas ou nos sonhos que fazem de Neuza referência de mulher firme, independente, determinada, destemida, forte, nobre, incansável, observadora, apaixonada, enfim, retrato dinâmico da mulher brasileira....
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