Daniel Campos

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Encontrados 362 textos. Exibindo página 21 de 37.

01/11/2015 - Chovendo em mim

Quando chove eu fico verde, as águas do meu ser ganham volume, os pássaros interiores cantam como se tudo e todos fossem amores. Quando chove eu durmo em paz, tenho mais apetite e sou dado a ficar grudado com quem me quer bem. Quando chove eu floresço o que não me esqueço e como flores eu reapareço na felicidade dos casais numa saudade que nunca ficou pra trás. Quando chove eu fico fértil à inspiração que brota em mim como lua no sertão, imensa e desejada, densa e amada. Quando chove eu me liberto e tenho a felicidade por perto. A felicidade das matas, das nascentes, da bicharada em meio a chuva que cai fazendo ninhada no meu coração que se enche feito ribeirão.


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13/11/2008 - Chover em paz

A tarde vai caindo e com ela, uma chuva inesperada. Uma chuva fina, fria, bailarina. Cai em pontas, mas como uma delicadeza capaz de arrancar aplausos. Aos poucos, o sol torna-se negro e cede espaço para a água. Agora, não sei se ele deixa o tablado por ato de cavalheirismo ou por medo de se molhar. O fato é que aos poucos a chuva vai calando a rua, entre o concreto e o imaginário, dando um ar daqueles filmes europeus ao nosso tropicalismo.

Com a mudança de clima, as sombrinhas e guarda-chuvas aparecem às pencas. E o que era para dar mais cor e classe ao espetáculo das águas torna-se um ato melancólico. As sombrinhas trombam uma nas outras, as varetas dos guarda-chuvas espetam o rosto alheio, a água acumulada é chacoalhada em cima dos outros passantes... Um verdadeiro circo de horrores acaba com a beleza da chuva entardecida que, envergonhada, vai embora. ...
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18/09/2013 - Chuva chegou

E foi então que ela chegou fazendo arruaça, trazendo graça e amor. Chegou sacudindo as saias, balançando as folhas. As folhas dos livros, das árvores, dos calendários. Chegou sem cumprir horário, sem pedir licença, sem cerimônia. Chegou gerando gritos, sorrisos e alívio. Chegou levando a uma explosão de palavras de esperança naqueles que já iam com a garganta seca. Chegou acordando o canto dos pássaros antes da hora.

E foi então que ela chegou assoviando, caindo aqui e ali e ao mesmo tempo. Chegou causando suspiros, delírios, a ascensão de lírios e a queda de martírios. Chegou e imediatamente a inspiração germinou dentro e fora. Chegou umedecendo, molhando e encharcando. Chegou calando a morte, a falta de sorte, o corte aberto pela sequidão. Chegou roubando a cena, manipulando poemas, levantando perfumes de alfazemas, açucenas... ...
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01/02/2013 - Chuva contínua

O sol está afastado por tempo indeterminado. Ordens soberanas. Enquanto isso, a chuva dá expediente todos os dias. Amanhece, entardece e anoitece chovendo por aqui. Tudo cheira à chuva. As coisas mais diversas passaram a ter gosto de chuva. Há uma textura chuvosa que extrapola os limites físicos e infiltra em nosso imaginário. Sim, a chuva que molha nossa pele, que encharca nossas roupas, que nos banha do cabelo ao dedo mindinho também encontra o nosso interior, o nosso avesso, as nossas entranhas. A chuva é tamanha que promessas se afogam, segredos se transformam em náufragos e sentimentos queimados, arrancados, esturricados, brotam com viço. Os pássaros fazem reboliços escapando das gaiolas do nosso coração. O verão vira inverno. O outono passa a ser primavera. A chuva cria sua própria estação. ...
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07/04/2010 - Chuva de tristezas e alegrias

As águas de março não se deram por satisfeitas a ponto delas alvejarem abril, o mês das cores de anil. São águas correntes correndo pelas ruas, pelas calçadas, pelos poentes. São águas cheias enchendo garagens e quartos e cozinhas. São águas traiçoeiras levando queridas e outras vidas em suas correntezas. São águas que afundam. São águas que inundam. São águas que vão arrastando o chão que firma nossos pés. É abril de Iemanjá. Estamos no ano da dona das águas. Abril de botas e guarda-chuvas. Abril de notas úmidas e paisagens turvas. Abril de águas doces tais como choro de viúva. ...
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09/10/2011 - Chuva fêmea

Minhas pernas em suas tabernas, eu bêbado de chuva e dançarino de estrelas. Ah! Ora pisava na ponta de uma das três marias ora caia nos domínios da ursa menor. Eu me pendurava ao vento, como se fosse uma peça de roupa somente, para logo perder a respiração numa tromba-d’água. Caia na lama, sujava a cama, trovejava em seus relâmpagos. Meu corpo ficava pesado e, ao mesmo tempo leve, cheirando a mato molhado.

E então veio o desejo de velejar pela chuva que escorria em sua pele, úmida e quente, em feitio de uma correnteza bravia. E o medo me seduzia e me enlouquecia e me convencia a ir mais longe. E tão logo me assumia náufrago me via capitão de seus afagos. Eu me sentia menino e ao mesmo tempo um velho lobo do mar. Queria valsar pelas ondas prendendo-a em meus braços ao longo de mil nós de marinheiro. ...
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23/10/2015 - Chuva milagreira

Casais agarradinhos sob os guarda-chuvas vão passando de mansinho. O cheiro de café tomar o ar e se mistura aos pingos de chuva. A viúva olha para o céu e sente o seu bem tão mais perto. O deserto acabou e as flores estão brotando pelo quintal. O Natal chegou mais cedo para o arvoredo que ganhou o verde de volta. Um perfume que vem e não solta e traz ciúme aos dias ensolarados. Nublado. Carregado. Molhado. O dia amanheceu encharcado. O mundo invernou. A alma frutificou. E a inspiração proliferou. E quem nem mais sentimento tinha, amou.


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22/09/2012 - Chuvará

Na sexta-feira de Oxalá, Nanã apareceu em forma de chuva, num balé, bem devagar, de águas para lá, de águas para cá. E plantas e animais, em uníssono, saudaram a volta da velha senhora num grande Salubá. Sob o axé de Olodumaré, as chuvas provocaram as marés de Iemanjá e as outras iabás. As águas correntes de Oxum ganharam força nas corredeiras e cachoeiras. Os ventos de Iansã espalharam a chuva como se espalha sementes de esperança pelo ar. Obá, depois de tantas guerras, largou a espada e foi dançar. Na cor das águas, o céu de Ewá, cobriu a todos nós nas feições de um grande abadá. ...
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02/03/2015 - Chuvaredo

É água que corre é água que vai. É mato que cresce é semente que sai. É vida que brota é chuva que cai. É pedra que tomba é trovão que estronda. É vento que assovia é canto de cotovia. É nuvem carregada é estrada fechada. É trilha é filha é ilha é estrela de milha. É primavera é promessa de nova era. É amoreira é jabuticabeira é figueira é saudade mateira. É brisa doce é a ventania trouxe. É folha verde é menino na rede é onça com sede. É vestido molhado é beijo suado. É caminho sem porteira é menina fagueira. É tempo se formando é felicidade chegando é o amor se dando. É natureza é beleza é proeza do sabiá na galha do ingá. É cachoeira é clareira é poesia inteira. É boca lambuzada de cupuaçu é pio de jacu é voo de inhambu. É goiaba do campo é reza pro santo é o destino em canto. É um abraço bom é pé de bombom. É raiz se trançando é inseto feliz dançando. É o arvoredo em festa com o chuvaredo quebrando na testa.


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29/10/2008 - Chuvareiro

No próximo temporal, vou quebrar tua sombrinha e meu guarda-chuva. No próximo temporal, vou levantar vela em plena enxurrada e convidar-te a partir. No próximo temporal, quero ser apedrejado e apedrejar na mesma proporção. No próximo temporal, vou conhecer a boca do lobo. No próximo temporal, vou chover ao vento. No próximo temporal, vou cair com as árvores. No próximo temporal, vou me revirar com as telhas. No próximo temporal, vou molhar a tua roupa, no teu varal ou no teu corpo.

No próximo temporal, vou cheirar a capim. No próximo temporal, vou fazer estátuas de barro e esperar que Deus venha soprá-las. No próximo temporal, vou atolar seu carro. No próximo temporal, vou me sujar como as crianças. No próximo temporal, quero um beijo molhado. No próximo temporal, vou inundar teu quarto, tua cama e teus sonhos mais distantes. No próximo temporal, vou chover canivete só para cortar a saudade que me corta. No próximo temporal, vou lamber-te num pé de vento e sair assoviando por aí. ...
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