Daniel Campos

Imprimir Enviar para amigo
29/10/2008 - Chuvareiro

No próximo temporal, vou quebrar tua sombrinha e meu guarda-chuva. No próximo temporal, vou levantar vela em plena enxurrada e convidar-te a partir. No próximo temporal, quero ser apedrejado e apedrejar na mesma proporção. No próximo temporal, vou conhecer a boca do lobo. No próximo temporal, vou chover ao vento. No próximo temporal, vou cair com as árvores. No próximo temporal, vou me revirar com as telhas. No próximo temporal, vou molhar a tua roupa, no teu varal ou no teu corpo.

No próximo temporal, vou cheirar a capim. No próximo temporal, vou fazer estátuas de barro e esperar que Deus venha soprá-las. No próximo temporal, vou atolar seu carro. No próximo temporal, vou me sujar como as crianças. No próximo temporal, quero um beijo molhado. No próximo temporal, vou inundar teu quarto, tua cama e teus sonhos mais distantes. No próximo temporal, vou chover canivete só para cortar a saudade que me corta. No próximo temporal, vou lamber-te num pé de vento e sair assoviando por aí.

No próximo temporal, vou espalhar as folhas do ipê, da figueira, do seu diário. No próximo temporal, vou lhe dar frios na espinha. No próximo temporal, vou bater na sua janela. No próximo temporal, vou clarear-te em relâmpagos. No próximo temporal, não vou deixar nada em pé. No próximo temporal, vou ecoar teu nome entre os trovões. No próximo temporal, vou lhe fazer invocar santos e deuses. No próximo temporal, vou levar-te para o chuvareiro que não cessa em mim.


Comentários

Nenhum comentário.


Escreva um comentário

Participe de um diálogo comigo e com outros leitores. Não faça comentários que não tenham relação com este texto ou que contenha conteúdo calunioso, difamatório, injurioso, racista, de incitação à violência ou a qualquer ilegalidade. Eu me resguardo no direito de remover comentários que não respeitem isto.
Agradeço sua participação e colaboração.

voltar