Daniel Campos

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Encontrados 224 textos. Exibindo página 11 de 23.

Palavras

Debruce o seu olhar
E devagar
Vá lendo
Sentindo
As palavras
Que fui lhe escrevendo
Que fui lhe esculpindo
Tentando capturar
Nos meus versos
Você sorrindo
E gostando.

Ao rabiscar
Essas palavras
Você foi surgindo
No poema
De um poeta inspirado
Amargurado
Enluarado
Que lhe procura em palavras
Que lhe cultua em palavras
Que sonha em palavras
Que não se apagam...
...
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Palavras mudas

Como definir o que não tem definição?
Uma união de vidas
Que rima tristeza e felicidade
Tendo a única certeza
De deixar saudade
Mesmo não havendo despedidas.
Amar é um olhar
Que se entrelaça em outro olhar
Sem mais razões.
Amar é chorar a lágrima alheia
Abrir seu peito a outra pessoa
E sorrir na boca amada
Não pensando em mais nada
Nada senão ela, somente ela.
Amar é quando o infinito e o eterno
Perdem seus valores...
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Palmos daqui

Foge do pôr-do-sol
Esconde-se em fumaças
Não ouve mais os grilos
O estralar de um canário
A chuva caindo nas telhas
Da parede de meia.

Por mais que se emudeça
Não consegue a quietude
Não anda descalça pela terra
Ao olhar pela janela
Não vê muito além de alguns palmos
Tem os punhos soltos
E a alma prisioneira.

A rosa não é mais rosa
O horizonte não é mais azul
A lua não é mais branca...
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Papel carbono

Eu abono
A sua falta
Eu, papel carbono,
Tenho seus gestos
Nas minhas línguas,
Tenho seus gostos
Nos meus braços
Embora a falta dos seus abraços
Tragam-me ínguas
De saudade
E você ainda diga
Sem parar, com todos os apostos,
Que eu
Que eu não
Que eu não presto
Para ser seu par.

Você que não tem dono
Que me perturba o sono
Não admite
Não permite
Um papel carbono
Que rouba o seu mundo...
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Papel crepom

Céu azul
Sem graça
Sem aviões
Sem fumaça
Esparrama-se
Solitário
Pelos pontos cardeais
Dos casais
E corta como vidro.

Céu azul
De tão sozinho
Tenta se jogar ao mar
De golfinhos
E se arranha nos prédios
E se desfigura
E sente um mal estar
Uma ressaca
Uma tontura de solidão.

Céu azul
Campo aberto
Infinito
Que se recolhe
E se encolhe
E escorre
Feito chuva seca...
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Papel poema

Dobrei
A folha branca
Da amoreira
Onde eu tinha escrito
Manuscrito
Um poema
De fogueira
Para aquela
Que diz - ame
E se fecha em origami.

Das dobras
Do papel poema
Um avião
Que voou
Em aquarela
Um vôo
Lírico
Na tela
Do cinema.

Das dobras
Do papel poema
Um barco
Que escorreu
Em rimas
Pela enxurrada
E foi a pique...
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Papo-bate-papo

Saudade
Me perdoa
Se nos últimos tempos
Eu abusei dos teus abusos.
Saudade
Se quer um culpado
Não me olhe com condenação
Saiba que eu
Sou só um lado da separação.
Saudade
Já deve ter lido as cartas
Que eu deixei ao vento
Já deve saber que o meu mal
Aumenta com a distância.
Saudade
Me faça um favor
Vá e diz
Como é difícil se casar
E quiçá ser feliz
Contigo.


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Para além das ilusões

Para além das ilusões
Fui lhe encontrar
Submersa
Em olhares
Que se vão por lugares
Que nem mesmo se pode esperar.

Para além das ilusões
Os lábios ficam tristes
Porque a boca da saudade existe
E insiste em nos beijar.

Para além das ilusões
Nada é para sempre
Só há o usufruto do presente
Num canto abandonado
Raiando num mar desacordado
E sem luar.

Para além das ilusões
O criador deixou de ser autor...
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Para além das palavras

Para além das palavras
Lava-me
Em cada gesto meu
De eu te amo
Eu te amo
Eu te amo me percorre
Eu te amo me asfixia
Eu te amo me provoca
Eu te amo soa como um registro
De um tempo
Que ainda não acabou
Que ainda não começou
Que ainda não me disse
Que ainda não me quis
No amor sozinho
Solitário
De Orfeu e Eurídice.


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Para se pensar na mulher amada

Para se pensar na mulher amada
Não é preciso folhear álbuns com fotografias antigas
Tampouco esperar a tarde cair para olhar o céu vazio
Não é necessário ouvir dezenas de vezes uma mesma música
Também não se sinta obrigado a ir a um dado restaurante
E exigir a mesa e a comida de costume.
Para se pensar na mulher amada
Não é preciso tomá-la em um drinque
Nem passar o dia em uma perfumaria em busca de uma lembrança
Nem procurar com toda minúcia o trecho de um filme...
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