Daniel Campos

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Encontrados 112 textos. Exibindo página 2 de 12.

30/04/2016 - Vento da montanha

Sopra o vento da montanha tamanha pelos vales do desassossego. São tantas criaturas correndo, por amor e por medo. O vento vai calando, vai cortando, vai embalando corpos que guardam diferentes reservas de vida. O tempo que abre é o mesmo que fecha as feridas. Sopra o vento da montanha por uma gente estranha que se estranha. Sopra o vento abrindo estradas, picadas, pegadas por um tempo concreto e abstrato. São lembranças, são saudades, são esperanças de todas as idades, são essas e outras realidades, são lambanças num mesmo destino. O vento sopra menino, o vento brisa menina, o vento dobra a esquina. Sopra o vento da montanha, ninguém perde ninguém ganha, apenas se vive, se sobrevive, se revive o que já é. O que já é foi e será. Pode ser diferente, pode mudar, pode ficar tudo de pernas pro ar quando ventar. Mas isso depende de como você vai receber esse ar, esse movimento, esse sentimento dinâmico que é a existência. Sopra o vento da montanha e assanha uma nova consciência na sua velha inconsciência. ...
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21/04/2016 - Vai e passa

Vai e passa, pois é o teu destino. Não fica porque sua sina não é de ficar. Coloca-se a caminhar. Mexa-se. Avance. Vá além do seu, do meu, do nosso alcance. Nada fica. Tudo vai e passa. O rio não para. O vento não morre. O fruto não espera no pé. O sabor, a dor e o calor vão e passam. A beleza de hoje não é a mesma de ontem. O amor de amanhã, se houver mais desse amor amanhã, há de ser diferente do de agora. Por isso, vai e passa em busca de suas aventuras, sem se importar se o que é feito é ilusão ou loucura. Toma seu rumo e não é com moderação que se faz o prumo. Pois tudo chega e vai, tudo vem e passa, nada será como é, nada foi como está. ...
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18/03/2016 - Violão arredio

O violão está num canto esquecido, perdido em canções silenciosas. Só escapa uma ou outra nota quando o vento vibra as cordas que mais parecem cobras espichadas ao sol, sem intenção de bote. Inofensiva e decorativa, assim vai aquela peça de madeira entalhada para cantar. O meu violão caipira, do interior do interior, se avexa com a cidade grande e tem saudade do mato. Queria ter sido violão pantaneiro, mas acabou num canto do quarto de um desafinado. Pobre violão que não é tocado, que não é abraçado, que não é incorporado ao corpo do seu mestre. Talvez fosse melhor entregá-lo à correnteza para ele escolher o seu dono rio abaixo. Suas seis cordas não conversam entre si. Suas casas vão ficando cada vez mais longe uma das outras. Suas curvas vão pegando poeira e o silêncio lhe dá uma canseira. Parece que chora um choro quieto, de inutilidade, de frustração, de descriação. Por essas e outras, maltratado naquilo que nasceu para ser, mais dia menos dia ele irá num pé de vento ou nas mãos de uma mulher que ao contrário do meu coração prefira fugir com meu violão.


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23/02/2016 - Vida e morte de galo

O galo despertou. O galo anunciou: são seis horas da manhã. O galo o meu coração disparou. O galo cantou e eu não sei se é ontem ou amanhã. O galo não perdoa. O galo me tira do sonho como quem tira doce de criança. O galo me acorda à toa, pois continuo sonhando com os olhos abertos. O galo por mais longe está sempre perto. O galo empoleira na minha cabeça. O galo cocorica e não há quem do cocoricó esqueça. O galo, sem corda, sem pilha, sem bateria, escandalizou outro dia. O galo espora a noite, bica a madrugada e do nada decreta o fim da fantasia. O galo é a voz da realidade nos chamando à vida. O galo, sem ter asas para voar, prefere escravizar a saudade na lida. O galo anunciou que o amanhã chegou no hoje que já vai ficando para trás. O galo esperneou pintado de guerra. O galo acabou com a paz. O galo inflou e tombou pela terra. A galinha veio e ciscou e nesse ciscar o galo enterra.


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21/02/2016 - Viola atrevida

Toca viola porque viola é de tocar rezando. E agora é preciso muita reza porque o dia já vai se acabando. É preciso reza para boiada não se perder. É preciso reza para o coração não escurecer. As sombras estão por aí e tem gente que tomba aqui e ali pelo que assombra do cachorro ao bem-te-vi, do lobo ao quati, do branco ao tupi. Toca viola porque viola é a moda do deus, do deus caipira que não se convenceu de que precisaria estar num altar para que pelos seus dias seus pés viessem beijar. O deus da viola é o deus dos carreiros, dos violeiros, dos boiadeiros que mais do que boi tocam o que ainda não foi. No canto da viola o estradão se alumia e o boi que fugia volta sem revolta. O vento dá reviravolta pra mor de seguir com a viola que se enche de lua e flutua no terreiro do pequizeiro que dá moda e dá pequi o ano inteiro. Toca viola porque viola é reza das brabas, que enche de lua e de sol a estrada da moçada que acorda para a lida, que reacorda para vida, toda vez que as cordas da viola dão aquela tremida. Êta viola atrevida! ...
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28/01/2016 - Viração

Vira a página, o dia, o mês, o ano. Vira na cama, na esquina, na estrada. Vira o destino, o itinerário, o mapa. Vira a vida de pernas para o ar. Vira o que deseja. Vira o copo. Vira o corpo. Vira o olho. Vira o mundo de cabeça para baixo. Vira o ponteiro do relógio, do volume, da temperatura. Vira rotina. Vira romance. Vira realidade a ilusão, o sonho, a fantasia. Vira causo a história. Vira flor a semente. Vira asa o ninho. Vira água o que era pedra de gelo. Vira abandono o que não se cuida. Vira saudade o que já se vai longe. Vira o vento fazendo curva, trazendo chuva. Vira verso. Vira música. Vira livro. Vira lição o que se aprendeu. Vira caminho o que se percorre. Vira fé o que se acredita. Vira príncipe o sapo. Vira pó a carne. Vira mar o rio. Vira amor a paixão, ou não. Vira, vira, vira... O que virá da viração?


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28/12/2015 - Viuvinha

A viuvinha cisca graciosa pelo terreiro. Tem pés de bailarina e ninho por perto. Sabida, faz ninho no oco abandonado pelo pica-pau. Como viúva, cuida da casa velha com esmero. O corpo todo vestido de negro, como um mata borrão, com exceção para a mancha branca que traz na cabeça como se fosse um véu. Anda como que bailando pelo chão. Vez ou outra, sem mais esperar, dá um piado assoviado como choro de viúva, intenso e rápido. As penas da cauda escorrem longas como que formando uma tesoura ou um vestido de noiva. Noivinha ou viuvinha? Seja o que for aquela ave dá um toque de saudade e esperança no campo. Hipnotiza de velhos a crianças, de estressados a poetas, de rabugentos a festeiros, com sua silhueta em movimento. Arisca, risca o céu, ao menor indício de perigo, com suas asas de nanquim. E quando voa, o véu da cabeça escorre pelas costas, com a brancura se atrevendo por entre a penugem negra. O conflito entre e a noivinha e a viuvinha pelo corpo amiúde da ave que hipnotiza nossas vistas e instiga nossa visão.


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19/12/2015 - Viola afiada

No riscado da viola eu te chamo e mostro num piscar de hora como um homem chora. Amor de viola não é amor de esmola, precisa de mais, sempre mais, para não se perder indo embora. Moda de viola é igual toada de coração que não se aprende na escola. No ponteio da viola serpenteio pelo mundão dos seus olhos e boio na imensidão da lua cheia que clareia nossos campos. Nas cordas da viola eu amarro uma paixão, enforco qualquer dor e ainda quebro quebranto. Na viola eu mareio e incendeio qual fogueira de São João. A viola é como cola nos meus dedos, quando prende não solta mais não e aí meu corpo se rende a mais um refrão. Na viola, a gente se embola, se enrola e decola como fagulha do carvão. Nota a nota, a viola amola o nosso destino numa pedra chamada coração.


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05/12/2015 - Vestida de vermelho

Vem vestida de vermelho, dama de fazer o cavalheiro dobrar-se em joelhos numa cortejamento que vai ligando e desligando e religando sentimento. Vem de pernas à mostra e cabelos ao vento. Vem e, em ensolarada ou ao relento, quem é que não gosta da beleza posta de forma mais que especial. Aliás, espacial, pois é vinda das estrelas, das constelações, das galáxias das imaginações que moram em minha cabeça. Não se esqueça de que somos partes do universo, repletos de infinitos e segredos, de luzes e sombras, de desejos e medos. Vem vestida de vermelho e nem precisa de espelho para saber que está soberana, dona das ruas, dos corpos, das camas. Arde em chama e faz arder na ilusão quem a ama. Rama de sedução. Trama de paixão. Drama de sim e não. Impossibilidade abstrata. Pele de cetim e coração de lata, vira-lata, que destrata a coisa amada. No seu vermelho, o relho do fim vai cortando, sangrando, se acabando em mim. ...
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24/10/2015 - Vira a página

Vira o disco, muda a música, troca de olhar, do jeito de olhar. Saia da mesmice, deixa de crendice, troca de fetiche... Pra que tanta tolice? Vá para outra página, viva outra história, invente outro final... Nem tudo é bem nem tudo é mal. Permita-se o novo. Peça outro prato, visite outro canal, estabeleça novos contatos de primeiro, segundo, terceiro grau. Repagine-se por dentro e por fora. Manda o habitual embora. Se ri, chora. Se chora, ri. Vá pra lá se está aqui. Vem pra cá se está ali. Deixa de medo do desconhecido, do diferente, do tempo ainda não nascido. Jogue-se à mudança. Cultive a esperança. Alcança o que está para além do seu teto e do seu fundo. Rompa a casca. O que é seu ninguém tasca. Vá ao profundo do seu ser para se encontrar e para se esquecer. Para nascer é preciso morrer. ...
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