Daniel Campos

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Encontrados 254 textos. Exibindo página 24 de 26.

07/03/2008 - Paz verdadeira

Ao saber que o presidente da Venezuela, Hugo Chavéz, está em busca da paz verdadeira fiquei preocupado: será que já começou a época dos paturis? Lembro de ser percorrido pelo vento, em silêncio, na varanda das árvores. Há uma diferença entre casa na árvore e árvore na casa. O meu caso é o segundo! São dezenas de joão bolão, pau-d´alho, imbaúba, amoreira, castanheira, ameixeira amarela... E eu ali, no meio daquele verde com os olhos divididos entre o céu e o lago...

Fico entregue a um movimento constante. Cabe destacar que a vida é a arte do ir e vir. Bandos e mais bandos de paturi pousam no lago e ficam por ali a deslizar. Pés de todos os tamanhos vão se movendo em fila indiana, criando trilhos azulados e provocando pequeninas ondas que se quebram contra o barranco, que abriga os ninhos das tilápias. São aves pequenas, de penugem escura, que mergulham a cabeça na água em busca de alimento. Fico horas observando-as. ...
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14/02/2008 - Parar ou não, eis a questão

Qual a idade certa de parar? A maioria dos brasileiros pára lá pelos 70 anos quando consegue, depois de muito suor, a parte que lhe cabe deste latifúndio - o famoso salário mínimo. E os ídolos? Para quem aposenta cedo demais, fica a sensação de ter deixado alguma coisa por fazer. Do outro lado, há o risco de virar um herói decadente.

Há quem se aposente no auge. A cantora Celly Campelo, aos 20 anos, decidiu sair de cena em pleno sucesso. Outros vão protelando. Romário, com mais de 40 anos e mil gols, insiste em não pendurar as chuteiras. Existe ainda a possibilidade de essa decisão ser do destino, como aconteceu com o jovem ator Luis Carlos Tourinho. ...
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Pantofobia

Medo de bala perdida. Medo de juros bancários. Medo da cotação do dólar. Medo de se envolver demais. Medo de dar e de não dar esmola. Medo aéreo, terrestre, aquático e até subterrâneo. Medo do aquecimento global. Medo de calorias. Medo do estresse. Medo de andar na rua à noite e durante o dia também. Medo de sinal vermelho. Medo de não ficar desempregado. Medo de politicagem. Medo dos extremos. Medo dos ácaros. Medo do diferente. Medo da dor. Medo de lugares fechados e abertos demais. Medo de vento, de redemoinho, de furacões e de outras variações do sopro divino. Medo de ficar sozinho. Medos das flores do espinho. Medo do fracasso. Medo de fenômenos cósmicos. Medo de ser roubado. Medo do espelho. Medo do conhecimento. Medo da segunda-feira. Medo de estar sendo vigiado. Medo de se apaixonar. Medo de ser avaliado negativamente. Medo de pensar. Medo de envelhecer. Medo de sentir prazer. Medo de tecnologia. Medo de mudanças. Medo de sonhar. Medo de ter responsabilidade. Medo de ser tocado. Medo da exclusão. Medo da felicidade. ...
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Para além do espelho

- Oi.

Silêncio.

- Eu acho que não nos conhecemos?

Silêncio.

Silêncio.

- Você se lembra de mim?

Silêncio.

Silêncio.

Silêncio.

- Você está de passagem?

Silêncio.

Silêncio.

Silêncio.

Silêncio.

Você não vai dizer nada, não é?

Silêncio.

Silêncio.

Silêncio....
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Pela frente ou pelas costas?

A campainha se oferecia, se esticava, tentava ser uma perna cravada na parede... Mas suas mãos de esmalte corroído por dentes nervosos temiam-na. Ou melhor, temiam o que existia por detrás da campainha. O portão, feito com um jogo de barras de ferro, impediam seus olhos de avistar o que existia lá dentro. Ela rabiscava os ouvidos naquele concreto grosseiro do muro só para ver se escutava algo. Ela só ouvia os tijolos conversando. Ela ficava sem graça quando algum vizinho começava a olhá-la com um pouco mais de atenção. Logo disfarçava, fingia estar esperando ônibus, depositando cartas (levava sempre envelopes na bolsa) e até ser uma moradora daquelas calçadas....
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Pensamento

O tempo levanta escuro. Um cinza quase negro. O vento se mostra selvagem. Vira de um lado, vira de outro. Não sossega. Como um cavalheiro, dobra a cintura das árvores em sua dança. Como um sedutor barato, parece querer abocanhar todas as folhas. Folhas verdes. Folhas vermelhas. Folhas amarelas. Folhas rodopiando no ar. Vez ou outra, um barulho de manga caindo no chão. Em meio aquele vento, nem as abelhas conseguem se sustentar no ar e assim, rodopiam. Venta. E o vento varre as águas do lago. Sereias e botos se escondem. Venta. E o vento vasculha cada palmo de terra, descoberto ou não. O vento parece procurar alguém. De repente, uma nuvem de poeira passa apressada, com medo de se molhar. Os olhares se enchem de céu. Um céu que ronca. O medo de chuva de pedra. Trovões. Os cachorros se protegem como podem. As cigarras mais abusadas ainda cantam. As portas batem. Os pedidos para que a chuva venha calma se proliferam. Os relâmpagos e seus clarões iluminam os rostos. Por alguns instantes, alguns rostos surgem como há tempos não se via. Já há quem providencie panelas para capturar as primeiras goteiras. Já há quem queime palma benta, jogue sal grosso no terreiro, invoque a proteção de santa Bárbara. E ela, a chuva, chega. Primeiro, um chuvisqueiro prematuro. Uma pausa. Depois, ela se entrega. O vento ainda carrega suas águas. O pó se cala no chão. A terra escorre suculenta. As nuvens se cruzam ligeiras. De repente, um pássaro se arrisca num vôo solo. O tempo fechado como poucas vezes fora visto. O horizonte some. A chuva que desaba no lago é a mesma que se transforma em algumas gotas numa teia de aranha. Alguns conversam, outros se aquietam e deixam seus olhos correrem para aquele mar de ponta cabeça. Olhos piratas que velejam em busca de alguém.


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Per fumum

Não vejo nada, tampouco ouço. Hoje, sou só um nariz andando pelas ruas. Pelas ruas de fora, pelas ruas de mim. Sou como aqueles cães farejadores que se guiam pelo tempero dos cheiros. Quero viajar no mundo das memórias olfativas e resgatar todo afeto transformado em perfume. O momento é deveras apropriado, afinal estamos na primavera. Assim como os amores e as cores, os cheiros são mais possíveis nessa época.

Lembre-se do cheiro da infância, do cheiro de mãe, dos cheiros da casa, do jardim, da rua, da escola, da cidade e de outras cidades. Vamos descobrir o que está escondido atrás do mundo feito de imagens. Enquanto o paladar só distingue seis ou sete sabores, os narizes captam milhares de cheiros. Eu, por exemplo, guardo imagens e sons relativos a Ayrton Senna, mas a emoção vinda do odor dos pneus queimados do tricampeão de Fórmula-1 é algo inexplicável para os outros sentidos. ...
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Perturbadora

Cumprindo uma espécie maldição, ela estava lá. No mais improvável do improvável, lá estava ela. E pior, ele nem sabia quem ela era. Mas sabia que ela o seguia, mesmo sendo a primeira vez que a via. Talvez ela já aparecesse de outras formas, de outros jeitos, mas com o mesmo frio na sétima vértebra. E ele era supersticioso por demais. Aliás, tudo dele era por demais. O nervosismo levava as unhas, como cordeirinhas, a sua boca. Mas dali a pouco ela iria embora. Afinal, eram tantos ônibus, tantos trens, tantos aviões, tantos submarinos que poderiam levá-la para longe. Tudo acabaria em alguns poucos segundos. Não havia razão para tanto. Ou havia?...
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Pirâmide de sal ou de açúcar

Uma pirâmide cresce no meio de um deserto feito de muitas árvores, rios e flores. Não importa se as árvores são magérrimas, se os rios estão submersos e se as flores estão descoradas pelo sol que arde unânime no céu. O que importa é que esse reino existe em torno daquela pirâmide que não é de pedra, mas de sal ou de açúcar.

A distância existente entre a mulher e a pirâmide não a permite sentir o gosto e, por ordem superior, não há vento nem doce nem salgado a ventar por ai. A pirâmide está ao lado do horizonte mais profundo daquela mulher que corre em vão para encontrá-la. Quanto mais corre, mas longe a pirâmide se coloca. Comporta-se como a peça de um tabuleiro de xadrez que acuada pelo desvario do oponente, foge. Ou melhor, joga. ...
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Poesia plena

Lá estava ela. Tão perto, ao alcance de minhas mãos. Engraçado... Eu que sempre a tive em rimas estava pela primeira vez diante de seus olhos. Eu que sempre a tive no papel acariciava pela primeira vez sua pele. Eu que sempre pedi que viesse, passei a pedir para não ir embora. Em quantos poemas eu desenhei sua boca em palavras sem nunca tê-la tocado. Em quantos poemas eu dancei em seus passos sem saber que passava descalça. Em quantos poemas eu falei da sua saudade sem que ela tivesse surgido na minha vida de forma tão nítida. Eu sempre achei que a encontraria. Sempre tive essa certeza dentro de mim. Por mais esquisito que isso possa parecer, essa certeza sempre caminhou comigo. Eu me assumi poeta quando tinha 17 anos. Desde então, foram anos a fio de uma espera louca até que ela me chegasse por completo. Nesses anos todos, sempre a tive em pedaços. Seja no papel ou em outras mulheres. Eu passei esses anos todos procurando seus olhos em outros olhos. Eu passei esses anos todos tentando um poema perfeito. E esse poema só foi me acontecer quando, pela primeira vez nesse tempo todo, vi-me frente a frente com ela - a mulher amada. Eu que escrevi tantos poemas ao longo desses anos todos, diante daquele encontro a única impressão era a de que nada fora escrito. Tudo era novo. Tudo era inédito. Tudo era começo. Por quanto tempo eu sonhei com o momento de encontrá-la. Por quanto tempo eu sonhei os olhares, o jeito, o perfume dessa mulher que me habita há muitos anos (presumo que ela nasceu comigo). Por quanto tempo eu sonhei os sonhos dessa mulher. Por quanto tempo eu sonhei a essência, em toda inocência e em toda indecência, dessa mulher. Por quanto tempo eu sonhei com um beijo dessa mulher. Por quanto tempo eu sonhei aquele beijo. Quantas páginas de papel eu deixei pelo caminho na tentativa de construir aquele beijo em estrofes. Poesias que falavam da temperatura, da textura, da pulsação, das cores, dos sabores, dos perfumes, dos movimentos, da umidade, das vontades, da velocidade, dos teores, dos efeitos e de tantos outros detalhes daquele beijo. E pensar que nenhum escrito meu jamais alcançou a intensidade daquele beijo. Os sete céus e todos os infernos de Dante se calaram naquele beijo. O mundo se revirou pelo avesso naquele beijo. Os anjos tiveram sexo naquele beijo. Uma bailarina deixou sua caixinha de música e rodopiou pelas ruas durante aquele beijo. Enquanto se dava aquele beijo, alguém deve ter tido a certeza de que em algum lugar o amor existe. E de fato, existe. Em todos esses anos, quando eu pedia inspiração eu chamava essa mulher que sempre me esteve próxima. Em todos esses anos, quando eu escrevia "mulher amada" em um pedaço de papel eu falava dessa mulher que há sempre me esteve próxima. Em todos esses anos, tentei descobrir o nome dessa mulher. E hoje, sei que ela se chama poesia. Em todos esses anos, suportei a solidão porque eu sabia que um dia a minha poesia se faria completa na beleza dessa mulher. Como eu sonhei com aquele encontro. E o beijo foi o ápice, a prova, o milagre. De uma vez por todas, a boca da poesia em minha boca, consagrou-me poeta. Sonhei. Sonhamos.


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