Daniel Campos

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Encontrados 224 textos. Exibindo página 16 de 23.

Pios

Ai,
Quero-te
Num abraço
De sanhaço
E na graça
De uma garça
Branca que se esgarça
Pelo céu
Que passa e vai

Ai,
Ouço-te
Num relicário
No canário
De uma só nota
Que sai
E sempre volta
Num amor gaivota.


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Pirataria temporal

Nem o andar do calendário
Nem o maior dos falsários
Nem mesmo a distância
Vai afastar você de mim
Eu sei.

Entre nós existem tantas cidades
E o nosso amor pode passar da idade
Mas a saudade não se cansa
Enquanto o ponto não chega ao fim
Do fim.

Pode perguntar
Às paredes, aos búzios, aos porquês
E até à primeira estrela cadente
Se a solidão nasce do nada
Ou do poente de uma mulher.
...
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Pistas e outros vestígios

Vou espionar
Suas costas
Pelas encostas
Da beira mar
Armar confusão
Só para chamar atenção
Sair bar em bar
Pedindo socorro
Seguir seus rastros
Que ainda não deixaram de andar
Comprar um cachorro
Farejador
E um jogo de detetive
Particular
Anotar
Cada gesto suspeito
Cada falso amor
Que encontrar
Tentar recuperar
O que é meu por direito
Adquirido
Conquistado...
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Plágio de mim

Não sei se é menina ou fantasia
Se verdade ou profecia
Este rosto que parece de louça
Tem um pedaço de perdão
E um convite à sedução.

Linda! E que ninguém me ouça
Quero o silêncio por testemunha
E o amanhã para se lembrar do que propunha
Os esboços que vão lhe envolvendo
Sem dizer nada
Enquanto seus olhos vão tecendo
Páginas infantis sem querer
Sem saber sem perceber
Nas personagens que habitam sua boca
E me levam a uma realidade pouca....
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Platonismo

Poucos conhecem o amor verdadeiro
Não falo de paixões breves e superficiais
Ou do amor firmado em hipocrisias
Falo do amor que não se entende
Sem tê-lo vivido.
Poucos conhecem
Poucos entendem
Poucos os que se entregam a ele
A maior parte se espanta
Quando o encontra se afasta
E se ele insiste, é negado.
Quem não está preparado tem medo
Não sabe como agir
Chega a mudar de comportamento
Só para não se deixar influenciar...
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Pleito

Eu respeito
As tuas idas
E vindas
Sobre o pleito
Em que deito
Entre sonhos e pesadelos
E mareio
Mar-adentro seus cabelos
E tonteio
Entre pedras e flores de apelos
E pleiteio
O amor pleno
Entre a defesa de um anjo e o ataque de um coisa ruim
E o dia mais ameno
Entre o que há e o que jaz em mim.

Ah! Vem me tirar
Desse espaço entre o sim e o não
Ah! Vem e me chama
E me ama...
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Plexo solar

Perplexo
Ao seu reflexo
O mundo gira
Revira e a lira
Ganha nexo
E se alinha
Na órbita estelar
Do seu plexo solar

Podem me capturar
Podem me torturar
Podem até me matar
Mas eu não digo
Mendigo, mas não digo
Que todo o amar
E o mar de amar
E o enamorar
Nascem do seu umbigo.


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Plurais de vida

Já que não sei cantar
Como cantam caetanos...
Já que minhas palavras
Não são escritas em drumonds...
Já que o meu pranto
Não chora como choram pixinguinhas...
Já que não tenho a perfeição
Alcançada por alguns joões...
Perdoem-me os moraes
Já que insisto nos versos banais...

Já que a vida não tem limites
Sem alguém os propor...
Já que a lua não tem razão
Se não esperar o sol se por...
Já que os poetas podem falar mentiras...
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Poça de sorrisos

Chovia, escorria no molhado
Sorria e se via
Ao meu lado em abraços
Gotejava na cadeira
Pingava na quarta-feira
Cinzas beijando a água
Eu, você, afogando nossos mágoas
E chovia, chuvisqueiro
Nós dois sob o coqueiro
Sob os respingos que umedeciam
A sua boca louca
E a chuva que entardecia
Essa tardinha rouca e pouca.

Sua boca chovia, chovia.
O céu de cinzas sorria, sorria.
Sorria, chovia, sorria.


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Podas

Tentei te avisar
Que um dia a vida ia chegar
Sem fantasia,
Mas tive medo
Dos medos que iria te causar.

Tentei te proteger
E criar uma fortaleza
Dos sonhos que eram para sempre,
Mas não deu tempo
Das flores se darem em sementes.

Tentei te amar
Mais do que era possível
No seu imaginário,
Mas podaste minhas asas
E me deixaste no escuro.


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