Daniel Campos

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Encontrados 208 textos. Exibindo página 6 de 21.

02/11/2016 - E vamos em frente

Hoje é o dia dos mortos. E os mortos, na verdade, nunca morreram. Continuam por aí, vivendo de outra forma, em outros lugares, com outras missões. Portanto, muito cuidado, pois nosso choro, nossa dependência, nossa vontade de tê-los conosco fazem é atrapalhar suas caminhadas. Não é fácil se desligar da Terra, da família, dos amores, dos trabalhos, do que conquistaram com muito suor, do que desejaram demais. Então, não devemos atrapalhar esse desapego com lágrimas, desejos impossíveis, tristezas irremediáveis. A dor da perda não pode ser maior que o advento da vida. ...
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14/01/2015 - Ebulição

Minha casa não tem telhado. Minha boca tem sol e lua no mesmo céu. Meus braços não formam laços. Meu chão não tem fundo. Minha saudade está à frente de mim. Tenho medo da minha falta de medo. Meus ouvidos escutam as pedras, as árvores, as nuvens... Meu coração não tem cantos e meus amores são agudos e obtusos ao mesmo instante. Eu sou ave de silêncio, cantante apenas no que escrevo. Não me dobro, mas me cobro intensa e incessantemente por tudo o que sou, o que fui e o que quero ser. Sou ebulição mesmo nas horas em que sereno. Nada do que se passa ao meu redor deixa de me afetar, me influenciar, me tomar de uma forma ou de outra. Sou onda ora a caminho do continente ora em direção ao mar aberto.


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19/02/2011 - Edifício de mulher

À primeira visita, a mulher desejada deve ser contemplada do alto de sua arquitetura e engenharia. Porque depois que ela se tornar mulher amada só poderá ser vista de baixo, no ângulo permitido aos olhos que rastejam e ajoelham. Enquanto lhe é permitido voar, alongue as asas e observe bem do alto esse arranha-céu de beleza e tristeza que é essa criatura descendente de Eva. Se não conseguir chegar até lá com suas próprias asas, tente um teleférico, um foguete ou se pendure nos cabelos de um anjo. ...
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04/10/2011 - Eduardo Matarazzo Suplicy

Suplicy. Tradicional e, ao mesmo tempo, contemporâneo. Suave nas notas iniciais e extraforte nas finais. Tipo exportação. Cultura permanente. Safra em movimento. Suas palavras têm aroma e sabor. Discursos encorpados que despertam e estimulam a criatividade e as atitudes alheias. Ideias e ideais que podem ser bebidos no café da manhã, após o almoço, numa roda de amigos ou solitariamente. Pensamentos que brotam, dão flores e lançam sementes como um bom pé de café. Presente nos barracos, nas casas do campo, nos palácios. Puro ou acompanhado, Suplicy é sempre uma boa pedida. Simples e sofisticado, faz parte do dia-a-dia de brancos e negros, de homens e mulheres, de jovens e idosos. Charme e elegância saborizados. ...
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26/02/2014 - Eis a mulher amada

A mulher amada tem que não só saber amar, mas permitir que a amem estabelecendo equilíbrio entre tais artes - de amar e ser amada, numa finíssima sintonia. Ao mesmo tempo em que dá carinho deve estar pronta para receber toda e qualquer carícia, pois precisa ter consciência de que inspira atos inimagináveis que podem ser chamados de loucuras de amor. A plataforma de entrega deve ser indubitável para que o nível de amabilidade possa bater recordes, superando apostas das mais arriscadas. A mulher amada precisa ter a situação toda em suas mãos e, ao mesmo instante, perder propositalmente o controle. ...
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29/06/2013 - Eis o flamenco

De repente, os pés, do alto de seus saltos pretos e avermelhados, golpeiam o chão como se fossem exus. Ora são passos sutis como um sopro ora são passos enérgicos como um grito. São movimentos fortes e intensos que buscam a quebra de limites entre silêncios e aplausos. Tudo é tão desafiador e convidativo. O flamenco vaza dos olhos, da boca, da pele da bailarina, que emociona e sensibiliza sem perder o fôlego já perdido pela plateia.

Em poucos instantes, ruas e prédios, árvores e carros, pedestres e cachorros estão hipnotizados pela mobilidade da bailarina que desafio o mundo em suas panturrilhas. Uma arte viva regada a ritmo, técnica e capacidade aeróbica. Uma coreografia dramática que chega a tourear. Enquanto sentimentos são expressados em uma dança sedutora, as expressões pingam como suor por entre passos e palmas dentro do tempo.


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23/03/2008 - Eis que é Páscoa

"Eu vivo, e vós vivereis" ? diz Jesus no Evangelho de João (14, 19)

Eis que o homem cai no jardim do Éden. Eis que o pecado devora o mundo com seus dentes afiados e sua língua tentadora. Eis que cobras arrastam seus ventres pelo chão. Eis que se aguarda um novo tempo. Eis que se espera a passagem das trevas para a luz. Eis que se deseja a quebra das correntes da escravidão. Eis que uma virgem engravida. Eis que um rei nasce. Eis que, depois de mais de dois mil anos de esperas, um homem é crucificado, morto e sepultado. Eis que aquele que dividiu a história em antes e depois, ressuscita como Deus vivo. Eis que é Páscoa. ...
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10/04/2015 - Eis-me

Porque urjo eu fujo do subterfúgio inerente ao seu olhar depois das seis. Será que um dia, qualquer dia, mais dia menos dia, o meu sonho por entre os seus seios ainda tem vez? Eu já lhe contei que venho de outro planeta, que já fui árvore na paisagem e minha linhagem é de reis... Eu já duvidei do que sinto e, sinto muito, não minto, do seu eu mais bonito, situado entre o seu eco aflito e a sua alma de absinto, continuo o mesmo freguês. Então, ilusão na mesa, coração que troveja, demônio de igreja, para além da boca que beija: ainda me quereis?


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25/10/2015 - Ela caminha

Ela caminha como se não tocasse o chão. Ela me vinha como se não viesse mais não. Ela tem figuras geométricas espalhadas pelo corpo num desenho louco num sopro de deus. Ela caminha como se nada dela fosse mais meu. Ela balança a silhueta e me vira a ampulheta. Ela apaga os rastros antes de marcar o solo. Ela passa e eu imploro por braços, pernas, colo, abraços, enfim, por fazer parte daquela arquitetura. Ela passa e ateia em mim o fogo de uma doce loucura. Ela vem com jardins suspensos. Ela vem com um corpo denso que mesmo assim se esvai pelo ar. Ela surge e ruge e canta e decanta e mia e se esguia pelas trilhas. Ela passa como ilha flutuante, cantante, alucinante pelo meu oceano. Ela com seus tantos planos e eu com meus enganos. Ela passa e o mundo treme, geme, fica sem leme. Ela esvoaçante, dançante, delirante. Ela caminha como quem alinha saturno, marte e plutão num só olhar. Ela trilha fazendo picada no meu coração e eu, capitão-do-mato, perco-me em mim mesmo. Ela caminha e a realidade segue a esmo num completo desacato. Ela caminha como que dando linha ao meu maranhão.


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31/07/2011 - Ela domingo

Era domingo. Era só isso o que sabia. Nada mais. Era só a certeza de uma data, ou melhor, de um dia de uma semana que não lhe trouxe maiores lembranças. Não sabia quem era, somente que viveria mais um domingo. Talvez o último, talvez o melhor ou o pior também. Não se lembrava de segundas ou quintas, nem de quartas ou sábados, tampouco das terças, mas acordou com a certeza de que estava num domingo. Isso poderia ser um sinal ou um avanço, seja lá de sua sanidade ou se sua loucura.

Era dia de vestir sua melhor roupa e seguir aos almoços familiares, ao cinema, ao estádio de futebol, à igreja, à praça, à sorveteria, à casa do namorado... No entanto, ela só tinha pijamas no guarda-roupa. Dezenas deles. Seja lá quem fosse, vivia boa parte de seus dias na cama. Também não se lembrava de ter família, de seu filme preferido, de seu time, de sua religião, do endereço da praça, de seu sabor de sorvete, de ter alguém para beijar e dividir seus esquecimentos. ...
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