Daniel Campos

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Encontrados 372 textos. Exibindo página 7 de 38.

25/05/2015 - Acaloramento

Um prato de sopa de avó com um pão entardecido aquece o estômago e a alma de quem não se esquece. O colo de quem se quer bem cobre mais do que coberta de casal que ainda se chama muitos e muitos anos depois de meu bem. A expectativa da chegada da pessoa amada incendeia mais do que o fogaréu da partida. O fogão a lenha é como nosso peito cozinhando uma paixão. E a vontade proibida nos queima entre o pecado e o desejo. Um pão sovado por mãos que são mães alimenta e sustenta de fermento os sonhos que crescerão. O porta-retratos bem postado dá gosto ao passado e morna o presente como banho de recém-nascido. A saudade quando remexe dentro da gente é como criança brincando em nossas entranhas com suas manhas e artimanhas. A cama desarrumada é um ninho que ferve a quem nela se atreve. O sol que a nós se estende pode dar calor como uma boa lua render suador. E quando a fé entra em ebulição não é preciso dizer mais nada não.


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22/05/2015 - A mão da realidade

Podia ter sido tão diferente. A gente podia ter sido pra sempre. Nosso amor, de porta-retrato, devia ter sido tudo o que foi de fato em nossas cabeças. Mas a realidade foi mais forte. E olha que para a realidade ter conseguido vencer nossos sonhos ela foi mais do que forte. Eu sonhei tanto. Você sonhou que foi um encanto. E a gente se sonhou como nunca se sonhou. Mas veio o futuro e nos pegou, pois fica fácil de destruir quando não se tem passado. E nós dois sonhamos o amanhã se esquecendo de viver o hoje. Fomos inconsequentes. Irresponsáveis. Canalhas com nós mesmos. Pois nos abortamos pensando que poderíamos nascer depois.


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11/05/2015 - Ainda elas

Madalena me pediu uma rena. Anastácia achou tudo uma falácia. Jurema só me trouxe problema. Rosa me deixou antes do fim da prosa. Gertrudes foi mais do que eu pude. Minerva queria porque queria ser serva. Natália foi falha. Suzana estava sempre em outra semana. Bruna se misturava na bruma. Sofia tinha ciúme da Lia. Carla me queimava como lava. Ana vivia de cana. Gabriela não saia da minha janela. Letícia me dava preguiça. Mariana era sorrateira e fatal como ratazana. Aghata exibia uma aliança de prata. Doralice gostava de uma crendice. Eloá era doce feito ingá. Manuela já não era mais donzela nem aquela Manuela. Aline tinha a envergadura de um cisne. Nicole dizia me bole como quem diz me acolhe. Isadora queria tudo para agora. Luiza era lisa, lisa, lisa... Marjorie não era de ouvir. Sabrina era tão, mas tão selvagem que só lhe faltava a crina. Lorena era um amor de pequena. Bianca tinha olhinhos de santa. Thais nunca me deixou ser feliz. Isabel tinha qualquer coisa de fel. Sara tinha as mais estranhas taras. Brenda tinha tantas fendas. Ester sabia ser mulher. Beatriz era nobre como flor-de-lis. Marcela era tão colorida quão uma aquarela. Alessandra morava praticamente na varanda. Ada era toda errada. Tainá assoviava, cantava e pulava qual sabiá. Safira não tinha mira. Filipa empenava como ripa. Maitê me enchia de porquês. Clarice se metia em tantas tolices. Verônica era uma mulher-tônica. Julieta tirava tudo de letra. Margarida era mais fingida que florida. Elisabete tinha um instinto pivete. Nair não era de vir. Úrsula tinha vontades esdruxulas. Luma se enfeitava de pluma. Aurora até hoje ainda chora. Jacqueline era de se hipnotizar por vitrine. Jade se apaixonou por um padre. Soraia era de praia .Cleide me chamava para rede. Agnes era pura como se não fosse de carne. Heloísa era mansa como brisa. Nara não tinha só uma cara. Elvira dava birra. Leonor não era de nascer, mas de se por. Dominique dava chilique. Malu me queria nu. Hana vinha toda insana. Kimberly era arisca como bem-te-vi. Tarsila amava uma garrafa de tequila. Conceição era de muito sim e pouco não. Zoé não me deixava em pé. Abigail como entrou, saiu. Amélia tinha espinhos de bromélia. Julie não ficou muito por aqui. Yohanna já foi cigana. Acsa estava entre a cauda e a asa. Adelaide não sabia o que era saudade. Pandora ainda me ignora. Vanusa sempre foi escusa. Flora me pedia: aflora. Léia era a dona da alcateia. Afrodite adorava dar palpite. Jaciara era de aparições bem raras. Ashley não obedecia a homem, mulher ou lei. Aimée chegava com cheiro de buquê. Yollanda amanhecia com olheiras de panda. Celeste não tinha norte nem leste. Emma era o próprio poema.


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09/05/2015 - Abelha das uvas

As mãos tingidas bolinando pelos parreirais. A pele branca, da menina em feitio de santa, manchada de bordo. Nas pernas de lua, nas costas de algodão, nos lábios de cera, o tinto escorrendo doce. Brindes ao aroma cítrico e adocicado se fundindo pelas dobras frutadas que vão se abrindo pelo relevo de um beijo. Os parreirais constroem e descontroem e reconstroem casais. Os pés angelicais pisando as uvas, tirando o sangue das cascas turvas. O corpo da mulher-tinta se oferecendo à boca alheia como um cálice de vinho. Delicada e poderosa como as uvas que a enfeitam e deleitam ela vai embriagando os olhos que vão flertando com seus sabores oculares, olfativos, táteis... Parte dos parreirais, folha e fruto se cobrindo e se despindo dos sulcos e sucos das uvas que são verdes, rosas, roxas, vermelhas como sua pele camaleoa que vai sem véu brilhando ao sol e às estrelas como abelha que faz do vinho seu mel.


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25/04/2015 - A comitiva vai partir

A noite se joga do seu alto no meio do pasto. O gado dorme orvalhado. Não há mugido nem refestelo qualquer, só o vento que caminha na ponta dos pés agasalhados por meias de lã. O boiadeiro, depois de um dia suado na lida, dorme acalentado pelos seios de sua sinhá. Sabe que a seca está por vir, que o pasto vai secar, que vai ter que tocar o gado pra longe, numa comitiva de sobrevivência, e que a saudade daquela morena vai doer fundo no peito. Por mais que essas preocupações cresçam em sua cabeça como sementeira depois da chuva, encontra paz naquele colo para sonhar seus sonhos. E a morena, do alto de sua meninice, correrá pra janela toda vez que ouvir um berrante pensando que seu amado está voltando ou entoando pra ela. A filha, que começou a engatinhar, não entende muito bem essas idas e vindas do pai, tampouco o choro da mãe quando ele não está. Vai sentir falta mesmo de ver as vaquinhas no pasto, pois gosta tanto de ficar vendo aqueles bichinhos brancos feito algodão no meio do capim verde. E toda vez que escuta um mugido abre um sorriso. Não é à toa que se sente ligada aqueles bichos, pois em razão de não pegar o peito foi alimentada desde sempre pelo leite das vacas. O pai ainda brincava de coloca-la em cima do lombo das mais mansas. Partir com aquela comitiva não seria fácil. Partiria não só o chão trincado como afetos que não se explicam. Mas enquanto o adeus não chegava, aproveita para suspirar naquela pele fresca como a brisa que entra pela janela, sacudindo as cortinas que revelavam uma lua circulada de vermelho, numa profecia ocular de estiagem.


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21/04/2015 - Atenção, muita atenção

Se mexer a massa ao contrário, o bolo não cresce. Se capinar de trás pra frente, o mato brota. Se estiver com dó, o porco não morre. Se tiver coragem, já foi metade do caminho pra perca do juízo. Se atrasar o relógio, atrasa-se a vida. Se o pássaro cair é porque o mundo está de ponta cabeça. Se o nó for cego, o corte é certo. Se a encruzilhada estiver aberta, peça licença. Se os porta-retratos estiverem vazios, o passado está por um fio. Se o vento virar, pode esperar pelo que não quer ouvir. Se tentar descobrir quem pintou a onça, devorado será. Se o jardim secou, a primavera falhou. Se o suor for doce, a emoção vazou. Se um beijo for roubado não deve ser devolvido, mas creditado e jurado para render e ser cobrado. Se a roda não virar, o mundo virou um quadrado com um amor perdido em cada canto.


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18/04/2015 - Ainda há esperança

Não se lance à lança, pois ainda há esperança. Há esperança em nossas andanças. Há esperança de criança no peito adulto, crescido, idoso... Há esperança de fazer, de acontecer, de ser diferente. Há esperança de ir além do aquém que há no desdém do destino que passa fazendo arruaça. Há esperança no que está por vir, pois enquanto houver futuro nada está perdido. Há esperança de ter o que se queria ontem, amanhã, pois amanhã será ontem depois de hoje. Há esperança em tudo o que nasce, o que brota, o que vinga, o que cresce, o que raia... Há esperança no riso, no beijo, na flor. Há esperança sempre que acontecer um novo amor. Há esperança no gosto da fruta que ainda não madurou, na cor do botão que ainda não abriu, no som do pássaro que ainda não voou. Há esperança no que é incerto, assim como há beleza na incerteza. Então, por maior o desespero, não se lance à lança, pois ainda há esperança.


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04/04/2015 - À varanda dos meus olhos

À varanda dos meus olhos vem sol, vem vento, vem poeira, vem chuva, vem menina moça, vem rosa vermelha, vem manhã limpa, vem tarde turva, vem clarão, vem cometa, vem perfume, vem procissão de estrela, vem luz de toda parte, vem sombra também, vem arte, vem um leque de sabores da infância, vem uma sequência de notas de ré, de fá, de mi-bemol, vem pardal, vem vira-lata, vem lua, vem canção, vem dama de tafetá, vem sementeira, vem fogueira de Pedro, de Antônio e João, vem embarcação, vem aceno, vem onda de mar distante, vem fiapo de manga, vem nódoa de jabuticaba, vem paina, vem drible, vem água-de-coco, vem horizonte, vem morro, vem nuvem, vem beijo endereçado ou não, vem cabelo, vem silhueta, vem folha de árvore, de anúncio , de poesia e de manjericão, vem lembrança, vem expectativa, vem a oitiva do tempo, vem átomo e universo, vem com vergonha e sem pudor, vem vestida e pelada, vem saudade, vem tempero, vem vela, vem jardim, vem outono, vem rio, vem encantaria, vem seresta, vem moda, vem papel, vem sapato e pé descalço, vem cetim, vem clarim, vem flautim, vem preguiça, vem malícia, vem molejo, vem sal e açúcar, vem um agrupamento de óleos e outros olhos, vem valsa, vem bolero, vem quero-quero, vem onça-pintada, vem garra, vem bico, vem asa, vem flor, vem chama, vem balão, vem asa-delta, vem saia, vem anel, vem faísca, vem chá, vem ladeira, vem pintinhas, vem manha, vem malemolência, vem compota, vem capim, vem fotografia, vem mensagem, vem trovoada, vem causo, vem nevoeiro, vem cantiga, vem pipoca, vem maçã-do-amor, vem algodão-doce, vem andorinha, vem mago, vem nave-espacial, vem princesa, vem sereia, vem rainha, vem cavaleiro, vem coração alado, vem formiga, vem alecrim, vem flor de sabiá, vem o verso do mundo pra mor de eu espiar.


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30/03/2015 - Acordamento

Ela acorda e de tão surreal se olha no espelho para acreditar que existe, de fato, que não é apenas mais um sonho que se desintegra ao clarear do dia. Ela acorda e dá corda a tudo o que é acordado ao seu encanto. Ela acorda e instantaneamente poda o sofrimento do mundo. Ela acorda e já roda a roda da vida que começa a colorir a paisagem, a dar perfume às coisas, a dar movimento ao que é do coração. Ela acorda inventando moda de amor. Ela acorda enchendo a boca de beijo e soda. Ela acorda e seus olhos vão dando nodoa na alma dos mortais, impregnando-se para não sair nunca mais.


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26/03/2015 - A vida de quanto em quanto

De quantas idas e vindas, com direito a mergulhos num minúsculo oceano de pólen, precisa uma abelha para fazer um litro de mel? De quantos sóis e chuvas carecem uma manga para madurar corretamente a ponto de ser açúcar na medida exata? Quantas ramas de trigo precisam dourar para dar vida a um único pão? Quantas folhas precisam se unir para não deixar pelado um jequitibá-rei? Quantos finitos precisam ser derrubados para se chegar ao infinito? Quantas pedras são necessárias para fazer o caminho de um vencedor? Quantos eu te amos precisam ser ouvidos até que uma criatura se convença de que é amada? Com quantos embalos se faz uma criança dormir? Um, quarenta, oitenta, cento e vinte, duzentos... Quantos pulsos por minuto são prova de que uma pessoa está viva e apaixonada? Quantas jabuticabas maduram são necessárias para fazer um amante delas escalar cegamente pelos galhos de uma jabuticabeira? Quanto de vento se precisa para fazer girar um cata-vento? Quanto ridícula deve ser uma carta de amor para ser verdadeira? Quanto nós precisamos tirar de nós mesmos, no tocante às lembranças, promessas, preocupações, medos, desejos, para estarmos verdadeiramente nus? Quantas caretas se fazem necessária para conseguir o sorriso de uma criança? De quantas notas o compositor precisa para uma canção inesquecível? Quantas ondas o mar precisa criar para manter o equilíbrio do mundo num vai e vem constante? Quantas velas precisam ser acesas para iluminar o caminho de uma alma? Quantos poetas ainda precisam nascer para que os sentimentos não sejam ignorados? Quantas gotas de água fazem um rio? Quantos sapatos devem existir no armário de uma mulher para que ela não se sinta descalça? Quantas passadas separam o sonho da realização? Por quantas luas deve passar um romance até ele ser para sempre? Quantos erros são necessários para o acerto? Quantos feijões precisam se juntar para dar uma feijoada? Quantas flores urgem raiar para fazer o dia amanhecer em primavera? Quantas noites de sono hão de vir para se dar o reencontro com aquele sonho que ficou incompleto? De quantas histórias precisa a nossa história para valer a pena?


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